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Calma voltou a Muxúnguè, mas a vida ainda não voltou à normalidade

Calma voltou a Muxúnguè

A vida ainda não voltou ao normal no posto administrativo de Muxúngué, na província central de Sofala, depois dos últimos acontecimentos ocorridos na semana passada e que culminaram com a morte de dez pessoas. O hospital está a funcionar com 20% dos seus funcionários, e as aulas continuam interrompidas, afectando milhares de alunos que deveriam estar a realizar os testes finais do primeiro trimestre.

Até a semana passada, Muxúnguè era sinónimo de ananás, produto que em 2011 conseguiu certificação internacional para começar a ser exportado. Entretanto, o maior partido da oposição, a Renamo, que decidiu boicotar as eleições por não concordar com a Lei Eleitoral recentemente revista e aprovada pela Assembleia da República, convocou os seus homens, dispersos pelo país, para a pacata vila, situada à beira da Estrada Nacional nº 1. As autoridades policiais consideraram atentado à segurança pública a concentração de mais de uma centena de antigos guerrilheiros com agenda pouco clara e decidiram impedir a sua permanência na sede do partido. Destemidos, os homens da Renamo não acataram a ordem de dispersão e a polícia, apoiada pelos paramilitares, usou a força para fazê-los sair do local. Na operação realizada de madrugada, a polícia usou gás lacrimogéneo e não houve registo de disparos. Com a alegação de pretenderem libertar os seus companheiros detidos (cerca de 15), os antigos guerrilheiros atacaram o comando policial. Sete pessoas morreram, seis agentes da força paramilitar e um homem da Renamo, e mais de uma dezena ficaram feridos.

Amedrontada, a população fugiu. As aulas foram interrompidas e o comércio fechou. Alguns funcionários do Hospital Rural abandonaram os doentes para salvarem as suas vidas. Nesta Quarta-feira (10), quase uma semana depois, apenas 20 dos 84 trabalhadores estavam a exercer as suas funções naquela unidade sanitária. Segundo o Director do Hospital, “hoje foi o primeiro dia em que houve doentes normais para serem atendidos”. Nos dias anteriores aparecia, ocasionalmente, “menos de uma dezena”.

Entretanto, na Escola Primária Completa 1º de Maio, onde estudam 2.655 alunos, da 1ª à 5ª classe, somente 15 dos 50 professores se fizeram presentes. Os restantes abandonaram a vila com destino a Inhambane e Manica e outros distritos de Sofala, quando a tensão aumentou. Os alunos estavam a prestar provas de avaliação trimestral, as chamadas Avaliações Parciais (AP), que tiveram de ser interrompidas. O primeiro trimestre escolar termina oficialmente esta semana. Neste momento, o director da Escola aguarda o regresso dos estudantes, muitos deles ausentes de Muxúnguè, e a resposta à carta endereçada à Direcção Provincial de Educação para recomeçar as aulas e terminar a realização das AP´s. Há ainda o registo de uma escola secundária que também está paralisada.

Medo continua em Muxúnguè

Os residentes de Muxúnguè continuam com medo porque as autoridades reforçaram a sua presença na vila. Para além da PRM e FIR, estão também no local soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, totalizando perto de duas centenas de homens armados para a guerra.

Por outro lado, os homens da Renamo ainda estão nas redondezas e há informações não oficiais de terem sido vistos vários a cerca de 10 quilómetros do centro da vila. A população teme que, enquanto não forem detidos, possam voltar a perturbar a ordem pública.

Recorde-se que o Ministro do Interior, Alberto Mondlane, afirmou que o governo está a fazer tudo ao seu alcance para encontrar mais rapidamente possível os malfeitores, pois, segundo ele o acto, por eles perpetrados é inadmissível. “Eles mataram pessoas e devem ser apanhados e julgados. Moçambique está em paz e deve continuar em paz, porque ela faz bem aos moçambicanos”, disse Mondlane, citado pela Rádio Moçambique.

Mas como a vida não pode parar, o pequeno comércio vai retomando as suas actividades, até porque há muitos visitantes para alimentar e dar de beber. O restaurante “Tubarão” foi o único que quase não chegou a fechar, salvo na altura dos confrontos. Durante a noite, é como se o recolher obrigatório tivesse sido decretado.

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