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“Brasil vai continuar com a política de aproximação a África”

“Brasil vai continuar com a política de aproximação a África”

No átrio do Hotel Polana, onde Lula da Silva esteve hospedado nos dois dias da visita a Moçambique, o presidente brasileiro falou aos jornalistas. Foi a primeira e única nesta sua terceira visita a Moçambique, a última ao continente africano. @ VERDADE conseguiu fazer a última pergunta.

Que propostas vai levar para o G20?

Lula – Ao G20 não se levam propostas. O G20 não é um congresso em que levamos teses para serem aprovadas. Para o G20 leva-se propostas para serem debatidas. Ontem [segunda-feira] já vos havia dito quais eram as propostas que iríamos levar para o G20. Nós, desde que começou a crise económica internacional, em 2008, defendemos que só existe uma possibilidade de resolução da crise que é aumentar o comércio entre os países. Qualquer forma de proteccionismo entre as nações deve ser evitado. A segunda coisa que defendemos é que cada país faça as suas políticas anticíclicas. Nós já fizemos, já gerámos emprego, consumo, rendimento.

Como habitualmente os países ricos tentaram sempre dar lições ao Brasil agora seria importante que eles pudessem aprender connosco, adoptando políticas semelhantes. Quando a crise começou resolvemos o problema da indústria automobilista em um mês. Houve países que levaram sete meses para resolver o mesmo problema.

Resolvemos o problema do crédito em dois meses, houve países que até hoje ainda não o conseguiram resolver. Quando aconteceu a crise na Grécia levou-se mais de três meses para encontrar uma solução, permitindo que um pequeno país causasse um grande transtorno na Europa.

Sempre disse que a política económica exige seriedade, previsibilidade e tomadas de decisão rápidas. Por exemplo, ainda não existe uma regulamentação para o sistema financeiro. Quando a crise acontecia na Nicarágua, na Bolívia ou no Brasil havia muitos ‘palpiteiros’ tentando solucionar a crise nos países pobres. Agora que a crise aconteceu nos países ricos, já ninguém dá palpites. Eu então estou dando um palpite: faça como o Brasil fez que as coisas ficam mais fáceis.

O presidente dos EUA, Barack Obama, disse hoje [terça-feira] que se as políticas económicas adoptadas pelos Estados Unidos são boas para este país são também boas para todos. Quer comentar?

Lula – É bem possível, porque as que foram más para os EUA foram também más para nós. Quando os EUA erram, o efeito desse erro causa transtorno em muitos países. Quando a política americana aumenta o consumo, aumenta o poder de compra, o emprego e o rendimento, isso é bom para todos. Agora, a verdade é o que é bom para os EUA é bom para os EUA. O que bom para o Brasil é bom para o Brasil. Se entendermos isto é melhor.

Na questão cambial o Brasil vai levar alguma proposta mais concreta para debater com a China e os EUA?

Lula – Não é possível que certos países resolvam desvalorizar a sua moeda, para obterem vantagens internas sem levarem em linha de conta os prejuízos que causam a outros países. É preciso que o câmbio seja flutuante mas que haja um equilíbrio entre as políticas cambiais.

O senhor aconselhou as empresas brasileiras que estão no mercado moçambicano a não serem predatórias. A Vale do Rio Doce tem sido criticada na questão do impacto negativos sobre as comunidades. A Camargo Correia também tem sido criticada pelos impactos ambientais que provoca. Qual a sua posição em relação a isso?

Lula – Primeiro gostaria de esclarecer que quem decide sobre a questão da política ambiental num determinado país é esse próprio país. Não é o Brasil que, de fora, vai dizer que Moçambique não está a cumprir a legislação ambiental. O respeito é bom. Cabe a Moçambique definir a sua política ambiental ideal.

Quando disse que as empresas não deviam ser predatórias é porque temos um modelo em relação à política ambiental que data de meados do século XX, por isso está completamente desactualizada. É preciso que todo o processo de investimento leve em conta o desenvolvimento mas também a preservação ambiental.

Nestes oito anos no poder o que é que aprendeu com a África?

Lula – Aprendi que perdemos muito tempo por não termos trabalhado há muito mais tempo com África. Penso que se o Brasil tivesse tido uma política mais arrojada em relação a África podíamos ter construído muito mais. Houve um tempo em que se pensou que o oceano Atlântico era uma separação entre a África e o Brasil quando na verdade o oceano era o caminho entre os dois.

Demorámos muito tempo a perceber isso, mas acho que mais vale tarde do que nunca. Visitei quase 30 países no continente africano e acho que o Brasil vai continuar com esta política de aproximação a África.

Porque é que escolheu Moçambique para se despedir de África?

Lula – Eu tinha muitos compromissos aqui em Moçambique, particularmente com a empresa de antirretrovirais e com a Universidade Aberta. Como o tempo de meu mandato está a esgotar-se tinha que vir agora.

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