O amistoso em que a seleção do Brasil venceu a do Zimbábwe por 3 a 0, esta quarta-feira, em preparação para a Copa do Mundo da África do Sul, em Harare, foi considerado um evento histórico, celebrado com grande pompa pelo governo e com festa pela população. A partida levou ao National Stadium de Harare 50.000 espectadores, com ingressos que custavam entre 10 e 60 dólares, quantia considerável num país de pobreza evidente, embora o governo tenha ajudado distribuindo uma parte gratuitamente.
A segurança das equipes e da torcida foi garantida por um intenso esquema de segurança – que incluiu soldados armados com fuzis AK-47. Uma imponente banda militar e diversas autoridades, entre as quais o presidente zimbabweano, Robert Mugabe, estiveram presentes ao estádio para assistir à partida.
Desde cedo, o público chegou ao estádio a pé, de carro ou em caminhonetes lotadas para torcer por seus ‘guerreiros’ e assistir, pela primeira vez ao vivo, a seleção pentacampeã mundial. Embora a vitória brasileira já fosse esperada, os fãns queriam ver um bom futebol e astros como o atacante Kaká, embora também sonhassem que sua equipe, que está fora do Mundial, pudesse deixar o campo com um resultado digno.
Foi o caso de Edmon Mutarini (22), jovem de cabelo rastafári, que chegou ao estádio na cadeira de rodas empurrada pelo irmão Sean, enquanto observava uma animada banda local e degustava um drink enfeitado com uma bandeira zimbabuana. “Será 3 a 0 para o Zimbábwe. O Brasil tem os melhores jogadores do mundo, mas somos guerreiros e hoje vamos demonstrá-lo”, disse Edmon à AFP.
Já Sean pensava diferente, quase acertando o placar da partida: “não temos chance de ver grandes jogos como este, é muito importante para nós e não esqueceremos. O Brasil vencerá por 3 a 1”. As ‘vuvuzelas’ entoaram uma ruidosa trilha sonora alternativa – até mesmo Mugabe apareceu com uma -, enquanto o público se agitava nas arquibancadas, empurrando sua equipe, mas também dando vivas aos brasileiros.
“Brazil I Luv You”, “Thank you Samba Boys” e “Welcome Brazil” eram algumas das frases exibidas em cartazes estendidos pelos fãs, que também fizeram a ‘hola mexiocana’ para demonstrar sua alegria. Rostos pintados, perucas e roupas coloridas, instrumentos de percussão, capacetes decorados, óculos gigantes… Valeu tudo para celebrar a ocasião.
Quando o autocarro da seleção chegou, uma multidão aproximou-se para acompanhar sua passagem e, ao entrar no estádio, até os policiais pulavam para tirar fotos dos ídolos. Fora dali, o cenário era exótico para olhos ocidentais.
A começar pelo gigantesco jipe Hummer branco transformado em limusine para transportar os ‘guerreiros’ zimbabweanos, que atraiu muitos adeptos que se aproximaram para tirar fotos ao lado do automóvel nada discreto.
Para os mais valentes, vendedores ambulantes de comida apareciam de todos os lados, tentando atrair fregueses e seus dólares. Amendoins torrados, pedaços de carne bovina ou de frango preparados em churrasqueiras improvisadas em tanques de gasolina, a tradicional ‘polenta’ fervida, feita de trigo, eram algumas iguarias oferecidas aos gritos na língua local.
Perto dali, Noel Dune (36), que morou na Inglaterra e tem várias caminhonetes para transporte de passageiros, disse à AFP que “este duelo é um fato histórico para nosso povo, podemos ver estrelas como Kaká ou Julio César”. Noel afirmou que este tipo de jogo “também traz a chance de atrair agentes ao nosso país para procurar e exportar mais jogadores locais, o que permitirá o ingresso de mais divisas para desenvolver nosso futebol”.
A castigada nação africana viveu uma festa inesquecível. Como dizia uma propaganda distribuída ao público, “o Zimbábwe tem a sua própria Copa do Mundo”.