Foi uma vitória para restabelecer a confiança entre a seleção brasileira e a claque, que na arquibancada do Soccer City gritou “olé” e “o campeão voltou” graças ao placar de 3 a 1 sobre a Costa do Marfim este domingo, em Joanesburgo. E foi também uma vitória que testou os nervos de alguns jogadores, já que os africanos fizeram faltas duras depois de sofrerem três golos até os 17 minutos do segundo tempo. Kaká não passou nesse teste e foi expulso.
Os golos marcados por Luis Fabiano (duas vezes, uma delas ajeitando a bola com o braço) e Elano fazem do Brasil o segundo país classificado para as oitavas de final da Copa do Mundo, depois da Holanda, e o terceiro a conseguir 100% de aproveitamento, juntamente com holandeses e argentinos. A primeira posição do Grupo G pode ficar garantida já esta segunda-feira, em caso de empate entre Portugal e Coreia do Norte, que se enfrentam às 13h30.
Se contra a Coreia do Norte o Brasil demorou a criar um lance de perigo, no jogo deste domingo ele surgiu com menos de um minuto. Robinho puxou contra-ataque, após tabela com Kaká, e arriscou de longe – sem tanto perigo – em vez de tentar o passe para Luis Fabiano, mais bem colocado pela esquerda.
O que parecia um bom sinal, entretanto, transformou-se em exceção nos primeiros 20 minutos. Foi da Costa do Marfim a iniciativa do jogo. Ela não mostrou a mesma linha defensiva do empate por 0 a 0 com Portugal e foi além: avançou a marcação para combater a saída de bola da seleção e dominou o meio-campo.
Kaká foi desarmado duas vezes logo no começo, e os brasileiros, que davam a impressão de estarem perdidos, cometeram seis faltas em 14 minutos. Com dificuldade para dominar a bola e tocá-la no meio-campo, a seleção recorreu a um corta-luz para conseguir sua primeira jogada bem trabalhada na partida, somente aos 19 minutos. Elano abriu as pernas e deixou a bola passar na direção de Maicon, que errou no cruzamento. Se não levou perigo, o lance ao menos serviu para deixar a seleção um pouco mais à vontade no jogo.
Seis minutos depois, veio o golo de Luis Fabiano. A jogada teve início com Robinho mais recuado e teve sequência com um calcanhar nem tão certeiro de Luis Fabiano e um bom passe de Kaká. O atacante tomou a frente de seu marcador e, na cara do guarda-redes, soltou a bomba: 1 a 0. Na comemoração, fez o número 6 com as mãos – uma homenagem ao aniversário da filha e, coincidentemente, o número de partidas que passou em branco. Ele havia marcado pela última vez contra a Argentina, em setembro do ano passado.
O golo não pôs o Brasil no caminho do bom futebol. Os erros de passe continuaram acontecendo, somados a falhas infantis no domínio de bola. O nervosismo da equipa parecia contagiar Dunga, que reclamou da arbitragem e passou o primeiro tempo lutando com o microfone próximo à área técnica, até arrancá-lo do relvado e colocá-lo atrás do banco.
A seleção não conseguiu criar lances de perigo, concluindo apenas uma vez em direcão da baliza, mas por outro lado mostrou solidez defensiva, com boas atuações de Lúcio e dos médios Gilberto Silva e Felipe Melo. Com isso, a Costa do Marfim obrigou Julio Cesar a fazer apenas uma defesa em 45 minutos, num remate forte de Yaya Touré.
A segunda parte começou com forte marcação da Costa do Marfim e o Brasil recorrendo a uma jogada individual para fazer 2 a 0. Com uma ajudinha da arbitragem, é verdade. Luis Fabiano dominou a bola duas vezes no braço, e entre elas deu dois balões em adversários, rematando para a rede. Enquanto o atacante voltava para o seu campo, uma cena curiosa: foi abordado pelo árbitro francês Stephane Lannoy, que, sorrindo, quis saber se ele dominara com o braço. Luis Fabiano não teve dúvida: sério, respondeu que não. E mais tarde ouviu seu nome ecoar no Soccer City, como nos tempos de Brasil.
Com exceção de uma cabeçada perigosa de Drogba, a defesa continuava sem grandes sustos. E no ataque a equipa já encontrava espaços para tocar a bola. Kaká deu um remate perigoso, após passe de Robinho. E no minuto seguinte, aos 17, o meia fez boa jogada pela ponta esquerda, cruzando rasteiro para a conclusão de Elano, que fez seu segundo golo em dois jogos. E mostrou para a câmera suas caneleiras, com os nomes das filhas.
Nervosos com os 3 a 0 da seleção brasileira, os marfinenses começaram a abusar das faltas. Tioté deu uma entrada dura em Elano, que saiu carregado de campo, aos 30 minutos. E Keita fez falta violenta em Michel Bastos, levando cartão amarelo. Até mesmo quando sofriam falta, os africanos provocavam. Como aconteceu com Kaká e Yaya Touré. O brasileiro deu uma entrada mais forte no adversário, mas ficou irritado com uma mão na nuca.
Entregue em campo, a equipa africana ainda conseguiu encontrar espaço para diminuir, numa falha isolada de posicionamento da defesa brasileira. Drogba recebeu ótimo lançamento de Yaya Touré aos 33 minutos e marcou de cabeça. Felipe Melo ergueu o braço, protestando por um possível fora de jogo que não existiu. Esta foi a primeira vez que uma seleção africana fez um golo no Brasil na história das Copas.
O Brasil não se assustou com o gol e continuou tocando a bola. Mas o jogo estava nervoso. Aos 84 minutos, Kaká deu um empurrão em Keita e foi punido com o cartão amarelo. Três minutos depois, recebeu outro amarelo do árbitro, que viu agressão a Keita, e foi mais cedo para o vestiário, desfalcando a equipa contra Portugal, em Durban na próxima sexta feira.