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Editorial: Big Brother universal

Tal como o sol ao meio-dia, também o voyeurismo mundial atingiu o zénite no passado dia 28, quando a página electrónica do Wikileaks destapou 251 mil documentos confi denciais que as 274 embaixadas dos Estados Unidos da América espalhadas pelo mundo enviaram ao Departamento de Estado em Washington.

Embora se trate de uma ínfima parte do que existe e o material posto a nu não incluir qualquer documento da inteligência – estes representam 60 a 70% do que anualmente é criado –, os chamados “papéis do Pentágono”, esta curiosidade – prefiro chamar-lhe assim – tem animado, sobremaneira, desde conversas de café até respeitáveis artigos de opinião na comunicação social.

 

É evidente que a curiosidade sobre o que se passa em casa do vizinho sempre nos aguçou o apetite. É normal, é humano. Quem nunca espreitou pelo buraco da fechadura? Quem nunca disse: “só queria ser mosca para ver o que se está a passar”? Quem nunca se colocou atrás da porta para ouvir uma conversa? Poucos, seguramente que muito poucos, ou mesmo nenhuns. Não foi por acaso que o Big Brother foi o maior sucesso televisivo dos últimos 15 anos em todo o mundo.

Este ‘pôr a boca no trombone’ do Wikileaks mais não é que trazer-nos um Big Brother à escala mundial. Em vez de estarmos a ver o actor brasileiro sex symbol a beijar uma rapariga na casa do ‘Grande Irmão’, ficamos a saber que o Presidente francês, Nicholas Sarkozy, possui um “estilo autoritário” e uma “pele fina”; que na Rússia o Primeiro-Ministro Putin manda no Presidente Medvedev; que Kim Jong-il, o Querido Líder e ditador da Coreia do Norte, é um “tipo velho e flácido que sofre de um trauma físico e psíquico devido ao ataque de coração que sofreu em Agosto de 2008; que o Primeiro-Ministro italiano Sílvio Berlusconi, Il Cavalière, é “irresponsável e ineficaz, muito débil de saúde” e que as suas “frequentes saídas nocturnas e a sua inclinação para a farra não lhe permitem descansar adequadamente”; que a Chanceler alemã Angela Merkel “é fraca”; que Hamid Karzai, o Presidente afegão, é alguém “muito influenciável”; o seu homólogo do Iémen, Saleh é “aborrecido, desdenhoso e impaciente”; que Robert Mugabe é um “velho louco”; e que Netanyahu de Israel é “elegante e encantador” mas “nunca cumpre as suas promessas.” Em relação a Kadhafi o embaixador americano em Tripoli vai ao ponto de referir o tipo de botox que ele injecta para rejuvenescer.

É evidente que há muito mais revelações para além destas ‘fofocas’ e bem mais importantes, mas, em meu entender, é muito mais a montanha que pariu um rato do que outra coisa. Há muita gente indignada, e mesmo escandalizada, com o paladino da democracia e dos direitos humanos mundial que, supostamente, são os Estados Unidos.

Mas é evidente que, e é preciso ser-se muito ingénuo para pensar o contrário, que a política de bastidores de qualquer país, mesmos os mais democráticos e respeitados, é limpa e cristalina, porque se assim o fosse não era secreta. Quem é que esconde coisas quando elas são abonatórias? Seguramente que ninguém. E isso passa-se também com os EUA, o que não faz com que este país seja melhor ou pior.

Moçambique também não escapa a este voyeurismo. Parece que há 996 documentos no portal da Wikileaks, mas o acesso continua vedado. Quem é que não gostaria de saber o seu conteúdo?

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