Os 186 Estados membros do Banco Mundial (Bird) anunciaram este domingo um acordo para dar mais peso aos países emergentes nas decisões da entidade, mediante a ampliação de seu capital em 5,1 bilhões de dólares.
Com a mudança, o peso do voto do Brasil passa de 2,06% para 2,24%. O acordo permite um aumento de capital em duas operações simultâneas: uma parte será uma ampliação “geral” de 3,5 bilhões de dólares, da qual participarão todos os países, e outra denominada “seletiva”, de 1,6 bilhão de dólares, na qual contribuirão os países que querem ver seus direitos de votos aumentados.
Esta ampliação permite, de acordo com um compromisso prévio do Banco Mundial, uma transferência de 3,13% dos direitos de voto aos países “em desenvolvimento e em transição”, que engloba basicamente os países emergentes. A China obtém mais vantagens nessa reforma, com um aumento da influência de seu voto de 2,77% para 4,42%, enquanto o voto da Índia passa de 2,77% para 2,91%.
Os Estados Unidos continuam sendo o principal acionista do banco fundado há 60 anos, com quase 16% do capital. “Hoje foi um grande dia para o multilateralismo”, declarou o presidente do banco, Robert Zoellick, em coletiva de imprensa. “A nova fórmula refletirá melhor o peso dos países em desenvolvimento e em transição, ao mesmo tempo em que protege a voz dos países mais pobres e menores”, afirmou o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner.
Os países emergentes terão a partir de agora 47% dos direitos a voto para as decisões do banco, depois de uma primeira fase de reformas iniciadas em 2008. Como gesto de boa vontade, os “Estados Unidos estão de acordo em não assumir todo o controle acionário que lhe corresponderia sob esse novo acordo”, lembrou Geithner. Esta é a primeira ampliação de capital da instituição em 20 anos. O aumento do capital pretende cobrir parte dos mais de 100 bilhões de dólares em compromissos assumidos pelo banco desde julho de 2008 em financiamentos, subsídios, investimentos e garantias a projetos privados.
A decisão do Bird aconteceu um dia depois do Fundo Monetário Internacional (FMI) ter sido criticado pelo Brasil pela “falta de ambição” e “resistência à mudança” na revisão das cotas internas de poder, para equilibrar os aportes dos membros com seu nível de representação. O Brasil pede uma redistribuição de sete pontos percentuais nas cotas internas do fundo em favor dos países emergentes, enquanto os países avançados propõem uma redistribuição de cinco pontos percentuais.
Outro dos principais beneficiados nesse caso seria a China, às custas dos países da União Europeia (UE), atualmente com grande peso na direção do fundo. O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, expressou neste domingo a esperança de que a reforma da instituição seja completada antes do final do ano, como está previsto.
A crise financeira e a forma como a comunidade internacional cooperou para resolvê-la demonstrou “o fim do que até então era conhecido como Terceiro Mundo”, afirmou Zoellick no sábado. “As placas tectônicas econômicas e políticas estão se movendo”, advertiu.