“Amparados pela escuridão, os soldados israelenses saltaram do helicóptero no barco turco ‘Mavi Marmara’ e começaram a disparar no momento em que pisaram no convés”, contaram os ativistas pró-palestinos que presenciaram a invasão à frota de ajuda humanitária que se dirigia a Gaza. Estes testemunhos, obtidos em ligações telefônicas realizadas antes de que estas fossem cortadas, contradizem a versão das autoridades israelenses, que culpam os militantes que iam a bordo da flotilha pelo início da violência. Segundo uma rede de televisão israelita, 19 passageiros foram mortos e outros 36 feridos.
O Exército israelita contabilizou, por sua vez, mais de dez passageiros mortos e entre sete e dez soldados feridos, dois deles com gravidade. “Dispararam diretamente contra a multidão de civis adormecidos”, acusou o movimento Gaza Livre, organizador da Frota da Liberdade, em um comunicado divulgado em seu site, após a invasão do “Mavi Marmara”, o barco-almirante turco do comboio.
O “Mavi Marmara” transportava centenas de pesosas, entre as quais figuravam parlamentares europeus. A operação, qualificada de ato de “pirataria” pelos palestinos, ocorreu em águas internacionais, muito antes das 20 milhas que delimitam as águas territoriais da Faixa de Gaza. “Não pudemos contactar ninguém a bordo desde as 03H30 da manhã”, declarou à AFP Greta Berlin, uma das organizadoras. “A última mensagem que recebemos foi: Tudo está bem, os barcos de guerra israelenses encontram-se atrás de nossa popa, vamos dormir”.
O Exército israelita lançou o ataque às 04H00 de três helicópteros apoiados por barcos, segundo um importante responsável militar israelense. “Telefono escondido, centenas de soldados israelitas atacaram a Frota da Liberdade e os passageiros do barco em que me encontro estão se comportanto com muita valentia”, contou uma testemunha, o jornalista da televisão Al Jazeera Abas Nasser, em sua última ligação. “O capitão de nosso barco está gravemente ferido e há outros dois feridos entre os passageiros”, acrescentou, antes que a comunicação fosse cortada.
Em “Mari Marmara” foi gravemente ferido um líder islamista radical árabe israelense, Raed Salah, segundo a televisão Al Aqsa, do grupo islamista palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza. O escritor sueco Henning Mankell também se encontrava no comboio humanitário, segundo a delegação sueca da organização. Um membro dos comandos da Marinha israelense contou que sua unidade foi atacada assim que chegou ao barco.
“Eles atacaram-nos com barras metálicas e facas”, explicou. “Em certo momento, fomos alvo de disparos de balas reais”, acrescentou. Vários soldados foram expulsos do deque de cima para o de baixo e precisaram saltar na água para salvar suas vidas, declarou este soldado, que afirmou que havia cerca de 30 ativistas e que falavam árabe. “Não era espontâneo, estavam preparados”, disse um alto comandante militar israelense.
Imagens do barco turco divulgadas pelas redes de televisão internacionais e pela Internet mostram militares israelenses vestidos de negro que saem de helicópteros, assim como confrontos com ativistas pró-palestinos. Também podem ser vistos feridos, que jazem sobre o convés, e uma mulher transportada numa maca. “As imagens não são simpáticas, não posso mais que expressar meu pesar por todos os mortos”, admitiu o ministro de Indústria e Comércio israelense, Binyamin Ben Eliezer.