Passam precisamente hoje (terca-feira) 168 horas, ou melhor, uma semana (7 dias ) – após o bárbaro assassinato na Vila da Macia, Distrito de Bilene, Província de Gaza, zona sul de Moçambique de Arnaldo Muchabje Obde Quibe por um grupo de desconhecidos.
No prosseguimento dos dados que fomos recolhendo naquela vila, referir que Arnaldo Quibe foi assassinado após assistir a um jogo de futebol que envolveu as selecções nacionais da Espanha e de Portugal; supostamente, por volta das 22h30 do dia 29 de Junho último, terá recebido uma chamada telefónica de um amigo que estava de passagem pela vila da Macia e que solicitara ao malogrado que lhe levasse algo para enganar o estômago e ao seu encontro não veio a encontrar e, de regresso à sua residência, quando já eram 23h30, depois de estacionar a sua viatura na garagem, quando se dirigia ao portão para fechar – tendo em conta que fora ele mesmo abrir para introduzir o veículo – recebeu uma chuvada de tiros e narra-se que pediu socorro junto ao murro da vizinhança, mas de nada valeu pois, as balas assassinas foram caíndo, tendo tentado fugir para o interior da sua residência, mas em vão pois, já era tarde demais, tendo caído estatelado – isto após o disparo de 7 balas, ou seja, dois tiros foram dirigidos aos pés – supostamente para imobilizá-lo; e os restantes foram para diferentes parte do seu corpo; levado para o Hospital Rural de Bilene- Macie de emergência, veio a confirmar- se a sua morte, salientar-se que nenhum bem foi lhe retirado e segundo sublinhou um familiar presente nas exéquias fúnebres, “eles só queriam tirar-lhe a vida”.
FESTIVAL DE TOQUES
Não podiamos terminar este artigo sem nos referirmos aquilo que chamaremos de “festival de toques de telefones móveis”, vulgo celulares nas exéquias fúnebres de Arnaldo Quibe, sobretudo, protagonizados pelos membros afectos à Organização da Juventude Moçambicana( OJM) do Distrito da Macia. Para alguns, a cerimónia fúnebre que decorreu na residência dos pais no povoado de Muchabje, parecia daquelas reuniões lá da cúpula, onde um bom fato, uma boa gargalhada e acima de tudo, o exibir dos toques e consequente “sacar” do telefone no bolso para simplesmente dizer: “sim chefe a cerimónia já está a decorrer; em casa dos pais para quem caminha em direcção a Maputo, um pouco depois de controle da Macia”, mas o engraçado/triste é que o mesmo telefone voltava a tocar, umas, duas, três, quatro vezes e a resposta era sempre mesma; só que mudava da pessoa para pessoa, tendo um ancião questionado se “os telefones modernos” não tinham uma função relacionada com “silêncio” e/ou “vibrador”, melhor; esqueceram-se os jovens da famosa música de Roberto Chitsondo que diz o seguinte: «se encontra pessoas a chorar; choras também»; indicação clara da falta de culto de personalidade por parte daqueles jovens pois, em ocasiões como estas em que outras pessoas estão a chorar pela perda do seu ente querido; as boas regras de educação, mandam dizer que deve-se manter em silêncio; nem que seja para “fingir”!.
Alias, segundo narrou um familiar que havia viajado da RAS a Macia para «in loco», acompanhar a cerimónia fúnenbre do seu ente querido Arnaldo Quibe, “os risos destes jovens trazem desconfiança; até parece que só vieram a esta cerimónia para «in loco» testemunhar que Quibe morreu; de facto, eles precisam de ser moldados na maneira de estar numa cerimónia fúnebre”. Enquanto, as exéquias fúnebres decorriam – isto ainda na casa dos pais – tendo em conta que o corpo do finado chegou na vila da Macia por volta das 19 horas de quinta-feira, tendo permanecido na sua residência onde foi assassinado durante toda a noite de quinta para sexta; aliás local onde decorreu um velório durante toda a noite – o festival continuava e no semblante de muitos jovens que mais tarde viemos a saber tratar-se de filiados na OJM – pois a pessoa que leu a mensagem também estivera naquela cavaqueira e inserido no grupo – deu para “perceber” que havia e/ou houve muitos que ficaram “satisfeito/aliviados” com o assassinado de Arnaldo Quibe pois, aquele ambiente descontraído de colegas até surpreendeu o menos incauto, ou seja, foi num silêncio cúmplice pois, até mesmo nas mensagens lidas, colocaram à margem a exigência às autoridades para o rápido esclarecimento do caso, o que pareceu não ser normal, sobretudo, numa sociedade em se que quer justa; para concluir: os colegas de Arnaldo Quive não exigiram justiça, senão referir apenas as suas qualidades profissionais. Bizarro, nem!
CHUVA
Um factor que não podia ser também menosprezado, esteve relacionado com a chuva. Segundo narram os macienses, o corpo de Arnaldo Quive saiu da sua residência para a dos pais por volta das 5 horas de madrugada. Inicialmente, a urna foi colocada no interior da residência e coberta pela bandeira do Partido Frelimo, tendo a ocasião servido para os mais próximos( familiares) despedirem-se do seu ente querido; depois, já por volta das 9 horas, a urna foi levada de dentro para o quintal. Entretanto, quando a urna saiu do interior da casa, uma forte chuvada caiu. Foi sucedendo o mesmo, mas já desta vez, intercalando os momentos com sol e, durante o tempo das orações e da leitura das mensagens a chuva não parou. O mesmo fê-lo no Cemitério familiar, onde chegou a ameaçar o decorrer da cerimónia ,mas que, segundo o pastor que orientou as exéquias, tal verifica pois, o Senhor Todo Poderoso estava a dar um sinal, ou melhor, “a morte venceu” pois, o mesmo sucedia para abrir caminho para o jovem Arnaldo Quibe entrar lá nos céus.
EN1
A casa dos pais de Arnaldo Quive está situada mesmo na entrada da vila da Macia, na EN1, um pouco depois de Magul, concretamente, na região de Muchabje, ou melhor, para quem vem da direcção de Maputo para Xai-Xai, está no lado esquerdo e o cemitério familiar na margem direita.
Falámos da interrupção momentânea do trânsito na EN1 com uma fila interminável de pessoas e automóveis; pessoas que quase preechiam as duas margens da EN1, num prolongamento de quase um quilómetro, acto que chegou a envolver a presença de membros da PRM para disciplinar o trânsito; ou seja, os carros que iam em sentido contrário tiveram que abrandar a marcha, estacionando os seus veículos e, alguns automobilistas, a novidade era maior, queriam saber do que se tratava pois, “parecia” um comício popular daqueles dos tempos do Presidente Samora Machel – mas não – travava-se do funeral de um dos melhores filhos da terra dos Muchabje e tal como comentou um residente: “a morte de Arnaldo Quive será vingada.
Esta multidão toda veio para este funeral dizer em silêncio que basta de mortes; basta de assassinatos sem rosto; agora é preciso que as autoridades não brinque com as coisas e tomem a peito esta mensagem; esta presença massiva pode constituir uma mensagem pois, hoje foi Quibe; amanha será outra pessoa, mas a vida não pode continuar assim”.