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As tristes marcas do tempo

As tristes marcas do tempo

O suor transforma-se em onda sonora do grito pela paz, igualdade e harmonia. A fome, a desnutrição e as, consequentes, mortes marcam profundamente as memórias de Josué Chabela. A madeira casa-se com ideias, ambas enfeitadas pelo verniz. E assim brotam as “Marcas do Tempo”.

“Marcas do Tempo”, como é chamada a mostra de escultura de Josué Chabela que jaz na Mediateca do BCI desde a última quarta-feira (18) até o dia 28 do mês em curso, é uma ficção dos tempos, dos lugares, das circunstâncias, e é composta por 27 estatuetas.

Na verdade, é segundo o pressuposto de que se pode defender sem o risco de se ser abusivo que Chabela está indignado com algumas cicatrizes do tempo. Por exemplo, a obra “O grito do medo” leva-nos para décadas anteriores em que o direito à liberdade era, quase, utópico.

Para além deste trabalho, esculpido, diga-se, com o rancor do tempo, Josué deixou nos seus esplendorosos trabalhos a outra face do marginalizado pobre moçambicano. Com duas, três, quatro, cabeças a escultura, aparentemente supérflua, transparece a solidão, a fome, e a miséria de uma família à beira da morte. Por isso, é a ela que estende a mão.

Seria, também, verdade dizer que a abusiva exposição do povo já é uma demostração da incongruência das soluções que se apresentam para exterminar o sofrimento. E ele argumenta: “Sempre fui contra as guerras, o tribalismo e a marginalização. Quero a paz. Sou a favor da ordem”.

De facto, por ser crente, confiante nas divindades e defensor das causas humanas e, consequentemente, da redenção dos perdidos, na obra “Clamor à paz” o escultor apresenta-nos a imagem de Cristo na cruz.

Segundo conta, o Cordeiro de Deus é a nossa salvação. Josué Mutelo Chabela, de nome completo, nasceu na localidade de Guele, distrito de Matutuine, na província de Maputo, aos 25 de Maio de 1959.

Em 1978, depois da conclusão do ensino secundário, fez parte do primeiro grupo de moçambicanos formados em cinema, depois da independência nacional. Depois de ter terminado a formação em produção cinematográfica, Chabela foi sujeito a várias reciclagens ministradas por professores de Itália, Cuba e Brasil, tendo mais tarde frequentado o curso de realização.

Nos primeiros anos trabalhou como assistente de montagem e depois ascendeu à categoria de montador. Participou em vários trabalhos realizados no Instituto Nacional de Cinema (INC), em particular o Kuxakanema. Em 1982 inicia a carreira de realização como montador e realizador na produção do Kuxakanema. Foi funcionário do INC durante 17 anos.

Volvido algum tempo, decide trabalhar a madeira. Ao longo do seu percurso artístico, Chabela participou em exposições colectivas no Sindicato Nacional de jornalistas (SNJ) e no Núcleo de Arte. Já expôs na África do Sul e também em Portugal.

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