Parte das cinzas de Mahatma Ghandi, cuidadosamente escondidas durante décadas por uma amiga da família, serão espalhadas neste sábado diante das costas sul-africanas, 62 anos depois de sua morte. Mohandas Karamchand Gandhi, nascido em 1869, foi assassinado por um extremista em 1948.
Conforme a tradição hindu, ele foi imediatamente incinerado, mas suas cinzas, ao invés de serem espalhadas nos dias seguintes em um rio ou no mar, foram divididas em várias urnas. Enviadas a distintos lugares do mundo, uma delas foi parar na África do Sul, onde Ghandi viveu 21 anos, entrecortados por permanências na Grã-Bretanha ou na Índia, onde se educou politicamente. Durante os preparativos para a cerimónia funerária religiosa em Durban, uma amiga da família, Vilas Mehta, separou parte das cinzas.
O resto foi disperso dez dias depois do falecimento do Mahatma, segundo o Gandhi Development Trust em Durban. “Ela decidiu ficar com parte das cinzas e guardá-las como recordação, sem ser dar conta de que, segundo nosso costume, elas deveriam ser lançadas na água”, explicou Ela Gahdhi, bisneta do heroi da libertação indiana, que vive na África do Sul.
“Quando morreu, sua nora decidiu entregar as cinzas à família”, explicou ainda. A família não conhecia a existência destas cinzas. Devido a um grande número de urnas enviadas para todo mundo em 1948, actualmente ninguém sabe se ainda existem outras.
As últimas cinzas encontradas foram espalhadas no Oceano Índico há dois anos. Um dos filhos de Gandhi, com quem estava brigado, estava com elas. Em 1997, outra urna foi descoberta em um banco indiano e seu conteúdo jogado em um rio. Para os restos sul-africanos, a família organizou uma cerimónia simples. “Como agora já se passaram 62 anos, não podemos realizar toda a cerimónia, pois esta já aconteceu em 1948”, destacou Ela Gandhi. “Segundo os costumes hindus e a tradição familiar, vamos orar nesta das 16H00 desta sexta até as 4H00 da madrugada de sábado”, prosseguiu.
“Vamos partir num pequeno barco para o oceano e, ao amanhecer, no momento em que o Sol nascer, as cinzas serão lançadas ao mar”. Uma cerimónia religiosa está prevista para este sábado ao meio-dia, na presença do cônsul da Índia e de dirigentes políticos e sul-africano. Gandhi teve seu “batismo político” na África do Sul. Até que deixou este país, elaborou e depois publicou o Satyagraha, uma filosofia fundada na não-violência para protestar contra a segregação racial que os indianos sofriam.
Ao iniciar seu combate na África, teve uma grande influência sobre os militantes contra o apartheid, entre eles Nelson Mandela, que, no entanto, se uniu à luta armada para combater o regime segregacionista branco.
