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Apesar dos custos: Chokwe quer aumentar produção do arroz

A região do Chókwè, na província de Gaza, Sul de Moçambique, pretende aumentar de cerca de 22 mil toneladas para 35 mil toneladas de arroz na época agrícola 2009-2010, mas agricultores dizem que os elevados custos de produção podem tornar irrealizável este objectivo, inserido na estratégia governamental para eliminar o défice deste cereal até 2011.

António Mutombeni, agricultor no regadio do Chókwè, região que já teve estatuto de celeiro da nação, disse à AIM que os custos de produção “são elevadíssimos, e algo tem que mudar se quisermos que os níveis de produção aumentem e o arroz seja um negócio rentável”. Há cerca de uma semana, pequenos, médios e grandes produtores de arroz no regadio do Chókwè, iniciaram a operação de lavoura de uma área de cerca de sete mil hectares para a produção deste cereal. Mas para Mutombeni, “ainda não há uma clara indicação de que esta campanha será menos problemática que a anterior”.

Por seu turno, Agostinho Zibia, afirmou que “há promessas de mais autocombinadas e de maiores facilidades na aquisição de semente, bem como no acesso a créditos para a actividade produtiva. Não sei se estas promessas serão cumpridas porque muito do que nos tem sido prometido não é cumprido”. Zibia referiu-se ao antigo Grupo Consultivo do Programa de Arroz, formado no tempo de Hélder Muteia que cessou funções de Ministro da Agricultura em 2004.

O grande objectivo da criação deste grupo era fazer do arroz um negócio atractivo, tanto para os produtores como para os que intervêm na comercialização, no processamento e na venda de produtos. De acordo com aquele agricultor, para isso era necessário que em cada um desses níveis houvesse intervenções adequadas, e essas mesmas intervenções tinham que ser feitas com base na realidade do país e no que se passa no mundo em que Moçambique está inserido, “mas fracassou tudo”. O que se pretendia era tirar partido do enorme potencial do país.

Moçambique tem pelo menos um milhão de hectares de solos hidrológicos, nos quais só pode ser feita a cultura do arroz. Se se conseguisse cultivar toda esta área e se obter um rendimento de três a cinco toneladas por hectare, podia-se, talvez, chegar às três ou cinco milhões de toneladas de arroz por campanha.

Segundo estatísticas oficiais, neste momento, Moçambique importa cerca de 315 mil toneladas de arroz por ano. A região onde o país está inserido (África Austral) importa mais de 800 mil toneladas de arroz todos os anos. Além disso, Moçambique e a Tanzânia (e um pouco Madagáscar) são os únicos países da região que têm a possibilidade de produzir arroz, mas digase em abono da verdade que Moçambique tem vantagem em relação à Tanzânia, pois fica muito mais perto do maior mercado e do maior importador de arroz, que é a África do Sul. Mas Moçambique tem também fronteira com o Zimbabwe, com o Malawi, com a Zâmbia e com a Swazilândia, países que são importadores de arroz.

“Então, nos queríamos tirar partido disso. Mas tudo não passou de intenções e nunca mais se ouviu falar do grupo, após a entrada em funções do actual Governo, em 2005”. O que se pretendia era que esse grupo consultivo, representando todos os intervenientes nesta cadeia, desde importadores, passando pelos beneficiários e empresas que prestam serviço, até às associações dos agricultores, se criassem condições para que a produção de arroz em Moçambique atingisse as 500 mil toneladas, num período de três anos.

Entretanto, a área de cerca de sete mil hectares em preparação no chamado perímetro irrigado do Chókwè para a produção de arroz na campanha 2009-2010, representa um incremento em relação à época anterior, em que foram lavrados seis mil hectares, tendo sido produzidas pouco mais de 22 mil toneladas.

“Nós podemos fazer muito mais que 35 mil toneladas neste regadio, o que queremos é que nos garantam condições de trabalho, e não queremos nada grátis”, frisou Agostinho Zibia, para quem, “nas actuais condições, é extremamente difícil produzir arroz no Chókwè, mas mesmo assim produzimos muito arroz na campanha finda”.

O Governo, na voz do actual Ministro da Agricultura, Soares Nhaca, rejeita alegações de que se perdeu muito arroz no Chókwè, este ano, por causa do reduzido número de auto-combinadas para a ceifa, afirmando que o que houve foi um atraso, porque era pouca maquinaria para tanto arroz.

Presentemente, o Executivo diz estar empenhado em esforços no sentido de evitar que se repitam na próxima campanha os problemas verificados nesta última, devendo providenciar insumos agrícolas e importar, em tempo útil, tractores e novas auto-combinadas, “acreditamos na campanha 2009-2010 teremos menos problemas”. Apesar disso, recomenda-se que a sementeira do arroz, particularmente no regadio do Chókwè seja feita de forma faseada, para facilitar a ceifa, porque as auto-combinadas podem não ser suficientes para abranger todas as explorações agrícolas em simultâneo, ao mesmo tempo que se deve investir para o aumento da produtividade que ainda é muito baixa.

Garantias de uma boa campanha foram dadas também pelo administrador distrital do Chókwè, Agostinho Faquir, afirmando que “tudo indica que não vamos ter problemas nesta campanha, porque aprendemos muito da última campanha e não gostaríamos que a situação voltasse a acontecer”.

“Estamos a trabalhar para termos auto-combinadas e tractores a tempo, para que as pessoas possam explorar as áreas programadas. Na campanha passada podíamos ter feito muito mais de seis mil hectares porque havia um grande entusiasmo no seio dos produtores, mas tivemos muitos problemas com a maquinaria”, reconheceu Agostinho Faquir.

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