Junto ao presidente Lula, do Brasil, o chefe de Estado cubano, Raul Castro, disse esta quarta-feira “lamentar” a morte, na véspera, do prisioneiro político cubano Orlando Zapata após greve de fome de dois meses e meio. “Não existem torturados, não houve torturados, não houve execução. Isso acontece na base de Guantánamo”, afirmou Raúl a jornalistas que participaram de um ato celebrado em Puerto de Mariel, tendo a seu lado o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que visita a Ilha.
“Lamentamos muitíssimo. Isso foi resultado dessa relação com os Estados Unidos”, disse Raul Castro. Segundo o líder de Cuba, muitos outros cidadãos também morreram vítimas do que chamou de terrorismo de Estado, praticado, no seu entender, pelo governo de Washington. Afirmou, ainda, estar disposto a discutir com o governo americano “todos os problemas que tiverem”. “Repito três vezes, todos, todos, todos. Mas não aceitamos se não for em absoluta igualdade.”
A morte do dissidente cubano, reconhecido pela Anistia Internacional como prisioneiro de consciência, ocorreu na terça-feira, no momento em que chegou ao país Luiz Ignácio Lula da Silva, a quem 50 de um grupo de 75 presos políticos da chamada Primavera Negra, de 2003, pediram, em carta aberta, que intercedesse junto a Raúl Castro pela libertação dos prisioneiros políticos e se interessasse pelo caso de Zapata. Orlando Zapata, de 42 anos, faleceu na terça-feira num hospital de Havana, sucumbindo a uma greve de fome de mais de dois meses para protestar contra suas condições de detenção. Sua morte suscitou viva emoção no seio da dissidência cubana.
O disidente morreu às 13H00 de terça-feira no hospital Hermanos Ameijeiras, da capital, para onde foi levado às pressas, na noite de segunda-feira, procedente do hospital do presídio Combinado del Este, de Havana em estado de saúde “muito grave”, segundo a Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN).
Segundo o coordenador da considerada ilegal Comissão de Direitos Humanos (CCDHRN), Elizardo Sánchez, mais de 30 opositores foram detidos temporariamente ou retidos em suas casas para evitar que compareçam ao enterro de Zapata. Em Havana, ex-presos políticos e opositores se reuniam em casa de uma das líderes do movimento Damas de Branco – esposas de prisioneiros – para realizar um “funeral simbólico” que manterão até o enterro do dissidente, em Banes, e abriram um livro de condolências.
“Perdemos um companheiro valioso, praticamente o deixaram morrer, num ato atroz por parte do governo cubano. Conheci-o, estive com ele numa prisão de Havana. A democracia está de luto”, disse Carmelo Díaz, do grupo dos 75, no ato que em casa das Damas de Branco. Cinco representantes das Damas de Branco partiram na noite de terça-feira em direção a Banes para dar apoio moral à mãe de Zapata, durante o enterroi.
O Governo de Havana não reconhece a existência de presos políticos em Cuba – uns 200, segundo a CCDHRN – e os considera “mercenários” a serviço dos Estados Unidos, que destinam 50 milhões de dólares aos grupos opositores. “Não era um terrorista, nem conspirador, nem usou da violência”, disse o líder do Movimento Cristão Libertação, Oswaldo Payá, prêmio Sakharov-2002 do Parlamento Europeu.
“Ele está morto, mas muitos presos estão enfermos e deveriam ficar em suas casas porque nada fizeram. Vamos a ver se Lula se interessa por isto”, declarou à AFP Berta Soler, do grupo Damas de Branco que viajou a Banes.