A companhia petrolífera norte-americana Anadarko, com sede em Houston, EUA, propõe ao governo moçambicano a instalação de uma fábrica de Gás Natural Liquefeito (GNL) na região norte, com uma capacidade para a produção de um bilião de pés cúbicos de gás por dia.
Actualmente, das várias companhias que se encontram a explorar hidrocarbonetos na Bacia do Rovuma, junto a fronteira com a Tanzânia, a Anadarko e’ que a regista progressos assinaláveis. O bloco onde detém a sua concessão cobre ambas as regiões “onshore” e “offshore” (terra e mar) nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, ambos na província de Cabo Delgado – e dos sete furos exploratórios feitos pela Anadarko quatro revelaram enormes depósitos de gás natural.
Todas as descobertas ocorreram em águas profundas ao largo da costa moçambicana, e dois dos furos constam entre as maiores 10 descobertas de gás natural registadas no mundo inteiro em 2010. Frise-se que a prospecção e’ uma actvidade muito onerosa. Aliás, a Anadarko já investiu até agora cerca de 750 milhões de dólares na Bacia do Rovuma, e as previsões indicam que este valor poderá ultrapassar três biliões de dólares até finais de 2013. No caso de se materializar os planos para a instalação de uma fábrica de GNL, isso poderá aumentar o valor de investimento para 15 biliões de dólares até finais de 2018, que se poderá tornar no maior investimento jamais realizado em Moçambique. John Peffer, director geral das operações da Anadarko em Moçambique, falando à imprensa, disse que a instalação de uma fábrica de GNL e’ a única opção viável. Apenas uma fábrica de GNL poderá fornecer gás natural às economias de escala como forma de viabilizar a exploração dos campos de gás localizados a cerca de 40 quilómetros da costa moçambicana e a uma profundidade de 1.500 metros.
O GNL possui a vantagem pelo facto de não ser tóxico e nem corrosivo e geralmente e’ considerado como sendo o combustível fóssil menos pernicioso para o meio ambiente, pelo facto de emitir uma quantidade mínima de dióxido de carbono por cada unidade de energia. A fábrica de GNL poderá ser instalada em qualquer local ao longo da costa de Cabo Delgado. Equipamento altamente especializado poderá liquefazer o gás a uma temperatura de -162 graus centígrados, que reduz o seu volume 600 vezes comparativamente ao seu volume inicial. Embarcações criogénicas especiais poderão transportar o GNL para os mercados de exportação, muito provavelmente para a região do extremo oriente, onde poderá ser reaquecido para se transformar novamente em gás. Estes navios são usados para o transporte de GNL em longas distância, nos casos em que e’ impraticável a construção de condutas de gás.
Estas operações poderão exigir a construção de uma nova terminal marítima especializada para o efeito, pois está fora de hipótese a adaptação das instalações portuárias existentes em Pemba, capital provincial, ou na vila próxima do local onde ocorreram as descobertas, em Mocímboa da Praia. Peffer disse acreditar que a fábrica que tem em mente poderá manusear facilmente um bilião de pés cúbicos de gás natural por dia. Contudo, ainda falta apurar a extensão real das descobertas de gás, pois um bilião de pés cúbicos poderá ser uma meta modesta. Eventualmente, poderá ser processado uma maior quantidade de gás natural, o que poderá exigir a construção de uma segunda fábrica.
Durante os próximos dois anos, a prioridade da Anadarko e’ de prosseguir com o seu programa de prospecção e abertura de furos numa tentativa de apurar a quantidade exacta dos depósitos de gás e suas características. Prosseguindo, Peffer disse que a sua companhia ainda não descartou a possibilidade de encontrar petróleo. De facto, a Anadarko conseguiu apurar a existência de petróleo num dos seus furos, mas não em quantidades comercialmente viáveis. A geologia era diferente – enquanto que as descobertas de gás natural ocorrem geralmente em rochas do período Eoceno e Oligoceno formadas há cerca de 56 a 23 milhões de anos, o petróleo e’ descoberto em rochas do período Cretáceo, formadas no mínimo nove milhões de anos mais cedo.
Esta região da Bacia do Rovuma foi severamente afectada pelo rifteamento (ciclo completo pelo qual passa uma bacia oceânica) e actividade vulcânica – aparentemente o calor envolvido poderá ter causado a evaporação dos hidrocarbonetos líquidos. A descoberta de gás natural e’ descrita como sendo “muito seca”, devido a falta de condensado que, por exemplo, pode ser encontrado em campo de gás no interior da província meridional de Inhambane. Contudo, o bloco da Anadarko cobre uma área muito extensa e a exploração vai prosseguir na direcção sul e norte dos locais onde foram descobertas as reservas de gás natural.
Na ocasião, Peffer fez questão de vincar que de forma alguma pode-se descartar a possibilidade da ocorrência de petróleo, mas ficou claro que a maior prioridade da Anadarko e’ desenvolver aquilo que e’ conhecido no presente, no caso vertente, as suas enormes reservas de gás natural. Actualmente, um navio de perfuração em águas profundas, o “Belford Dolphin”, fretado pela Anadarko a companhia norueguesa Fred Olsen Energy, encontra-se ancorado ao largo da costa de Mocímboa da Praia, pouco acima do local da sua última descoberta, no furo de Lagosta. Peffer disse que a Anadarko tenciona trazer um segundo barco até finais do corrente ano e, possivelmente, um terceiro barco em 2012.
Mas qual é o significado destas descobertas para Moçambique? Peffer fez questão de vincar que Moçambique poderá arrecadar uma receita considerável na forma de “royalties”, impostos sobre os lucros e pela colecta dos impostos dos trabalhadores que serão bem remunerados e que serão contratados para operar as plataformas marítimas. A exploração de gás natural também vai criar um número considerável de postos de trabalho durante a construção da fábrica de GNL, apesar de na fase de produção ser provável que venha a empregar somente entre 150 a 300 trabalhadores altamente qualificados. Porem, poderão ser criados cerca de 1.000 novos empregos nas companhias que vão prestar serviços e fornecer produtos a Anadarko.
Por seu turno, Arsénio Mabote, presidente do Instituto Nacional de Petróleo (INP) defende que uma parte do gás seja usado em Moçambique, citando como exemplos a produção de fertilizantes, metanol e produção de energia eléctrica para consumidores das províncias localizadas na região norte de Moçambique. Mabote disse estar ciente que no actual estágio de desenvolvimento Moçambique poderá apenas usar uma fracção do gás natural. Para viabilizar a extracção do gás natural, impõe-se a implementação de um enorme projecto âncora, que poderá providenciar um retorno adequado de capital dos investidores na Bacia do Rovuma.
O referido projecto âncora é precisamente a fábrica de GNL que a Anadarko se propõe a construir. “A Anadarko acredita que descobriu quantidades reais que serão suficientes para este projecto, e, para o efeito, vai apresentar uma proposta ao governo”, disse Mabote. Ele disse que o governo e’ um parceiro em todos os blocos que estão sendo explorados no Rovuma. No caso do bloco da Anadarko (conhecido por “Área 1), o governo possui 15 por cento das acções. Porém, na fase de prospecção o governo não vai investir nenhum capital – isto que significa todos os riscos são por conta do investidor estrangeiro. O governo irá apenas investir os seus próprios recursos logo que sejam provadas as reservas e após o início da produção de gás natural.