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SELO: Ameaças da RENAMO vs estupro à Dignidade da Política, por Lázaro Bamo

Corre, nos últimos tempos, um discurso politicamente despido de ética e de sentido de ser e estar por parte da RENAMO, partido que é uma referência na nossa jovem democracia. O discurso em referência está virado para não participação da RENAMO nos próximos pleitos eleitorais e também para o boicote, para que o mesmo não tenham lugar.

Independentemente da razão ou não desta medida, ela peca por querer limitar as liberdades do povo moçambicano, isto se for consumada a sabotagem ao escrutínio. A RENAMO, democrata como se diz ser, dança a mesma música que muitos outros que se autoproclamam democratas, ao fundar-se em princípios totalitaristas e ditatoriais para se afirmar em democracia.

Uma questão fundamental e pertinente em democracia é o respeito pelas escolhas das pessoas, quer dizer a liberdade política do indivíduo, que se consuma como dignidade da política se quisermos chamar aqui ao diálogo a politóloga Hannah Arendt. Esta filósofa da época moderna dizia que o sentido da política é a liberdade, pois a política não é feita por um homem mas sim por muitos homens. Deus criou o homem e a política criou os homens. A política é sinónima de pluralidade. Todos os homens devem aparecer no espaço público para mostrar o que são e o que pensam. É no espaço público que os homens são iguais.

Porém, a postura da RENAMO leva-me a concluir que estaremos de regresso à velha concepção da política, segundo a qual a ela era sinónimo de guerra e destruição. Sobre esta postura, Hannah Arendt, enaltece a espontaneidade revolucionária, mas não a violência fabricadora do projecto revolucionário.

É que esta violência que fundamenta o discurso e a forma de fazer política da RENAMO repele os seus membros e os demais que, se calhar, mesmo sem serem membros, depositavam alguma esperança naquela formação política. A mesma RENAMO que iniciou a Guerra Civil em Moçambique em nome da democracia, hoje parece estar a fazer um investimento emocional para o retorno à guerra, alegadamente porque o acordo ou projecto saído de Roma não foi cumprido.

Independentemente da razão que este partido possa ter, não é razoável que ela (a RENAMO) se proponha a estuprar a liberdade do Povo. O discurso da RENAMO parte de pressupostos em fase de decomposição, pois alguns dos seus membros estão a ocupar posições em órgãos soberanos do nosso país, saídos dos processos eleitorais que são por este partido questionados e rejeitados. Como pode a RENAMO convencer quem quer que seja que é pela defesa dos interesses da maioria que pretende agir como diz que vai?

Moral e eticamente, o discurso da RENAMO está a ficar cada vez mais pálido por não conseguir superar ou actualizar os pressupostos do seu funcionamento. Continua a RENAMO a buscar argumentos belicistas e ameaçadores para legitimar-se e fazer-se sentir no cenário político nacional. Esta estratégia pode funcionar, mas também pode ser uma espécie de feitiço que vira contra o feiticeiro, se consideramos que neste País ninguém quer voltar à guerra.

Se a RENAMO quer ser um partido moderno e com uma visão mais ampla, deverá deixar de recorrer aos discursos escondido nas matas de Gorongosa para se impor na esfera política nacional. Não cabe em mim que a RENAMO se queira abster dos processos eleitorais alegadamente porque os órgãos estão partidarizados. Tenho estado a dizer que a questão da partidarização faz parte do discurso de políticos desesperados e à beira da falência discursiva. Este partido está a investir numa chantagem que não tardará a trazer os resultados desejados.

Esta mesma RENAMO, que não reconhece os órgãos eleitorais, encontra-se acomodada na casa do povo para aprovar as suas regalias e benesses, como resultado de processos eleitorais dirigidos pelo STAE e pela CNE. Qualquer partido que esteja no Parlamento ou em qualquer órgão que lhe confere alguma visibilidade devia aproveitar para mostrar ao povo qual seria a melhor estratégia de governação.

O ideal democrático e da política, como vimos por exemplo em Hannah Arendt, é a liberdade de escolha de cada um de nós. Por via disto, acho que cabe ao povo moçambicano escolher se quer ou não que as eleições tenham lugar, pois ao proceder como sugere, a RENAMO estará a declarar guerra contra quem diz que defende.

Estrategicamente, a RENAMO quer simular a sua demissão da política para recuperar legitimidade no seio dos eleitores e fazer-nos crer que ela ainda tem capacidade para desestabilizar o País, porém, esta visão pode não ser bem vista por quem sabe a dor de perder tudo devido à guerra e à destruição.

Creio que alguém anda a fazer um falso investimento em nome da fortificação da RENAMO, procurando convencer esta formação política de que a palavra boicote ainda intimida o povo. Na verdade, estão os investidores desta imoralidade política a dizer que a RENAMO não conseguiu urbanizar-se politicamente.

Viva a democracia e a dignidade da política que se fundamentam na liberdade!!!

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