Oito dos quinze reclusos mortos na cadeia de Angoche ao longo do mês de Março passado foram enterrados em valas comuns, uma vez que ninguém reclamou os seus corpos, presumindo-se que façam parte do grupo que foi transferido da cadeia de Mogincual.
Ontem, o administrador de Angoche, Carlos Amade, confirmou as mortes bem como a causa, adiantando que a cólera se propagou célere na cadeia de Angoche, presumindose que o portador do vibrião tenha sido um dos reclusos transferido depois do episódio de Mogincual.
A nossa fonte falou da superlotação e precárias condições de saneamento e abastecimento de água. Referiu que a cadeia distrital, que se situa nos arredores da cidade de Angoche, conta, actualmente, com mais de 120 reclusos, contra os 30 da sua real capacidade.
A água consumida naquela penitenciária provém de um poço aberto no local e só começou a ser tratada depois de começarem a surgir as mortes em resultado das diarreias e vómitos, que mais tarde se provou tratar-se de cólera.
Até ao momento, fala-se da morte de quinze reclusos, mas teremos de trabalhar os dados já que as autoridades municipais e hospitalares têm, cada um, dados divergentes. O que converge é o número dos oito perecidos que foram para a vala comum por falta de reclamação de familiares – explicou Amade.
Os mortos sepultados numa vala comum, nunca receberam qualquer visita desde o período em que foram internados no hospital rural local, o que leva a presumir que não fossem residentes da cidade de Angoche.
O facto é que em Angoche não existem condições para manter, por muito tempo, cadáveres, sobretudo em números semelhantes aos reportados.. Não foi possível ouvir fontes oficiais da Cadeia de Angoche, mas sabe-se que, pelo menos até ontem, não havia nenhum plano para a transferência dos reclusos ou mesmo para criação de condições que possam ajudar a minimizar o número de casos que continua a subir.
Lembre-se que mais de duas dezenas de reclusos, que estavam na cela do Comando Distrital da PRM em Mogincual, foram transferidos para a cadeia de Angoche, na sequência da morte de um total de 13 presos por asfixia devido à superlotação e calor.