Quando o Governo anunciou a redução do aumento da tarifa de energia para os consumidores dos escalões social e doméstico, e manter inalterada a de água para os consumidores até 5 metros cúbicos, a sensação foi de alívio. Mas, volvidos dois meses, o sentimento deixou de ser o mesmo e a isso vem aliar-se à subida sistemática dos preços de produtos alimentares.
Na altura é que foi anunciada que a partir do dia 1 de Setembro último as contas de luz e água passariam a ser mais caras, Rosa Manjate, dona de casa, e José Carlos Boaventura, funcionário público, previram “momentos difíceis” para as suas respectivas famílias, uma vez que a renda doméstica não dava para fazer mais “manobras” do que já faziam.
A palavra de ordem foi: conter os gastos e racionalizar o consumo de energia e água. Já quando o Executivo moçambicano, sob pressão da população, decidiu – no que respeita à corrente eléctrica – retirar o aumento anunciado na tarifa de energia para os consumidores de escalão social dos consumos mensais até 100 kWh, os de escalão doméstico cujo consumo mensal se situa entre 100 e 300 kWh, de 13.4 porcento para 7 porcento; e –no tocante à água – manter inalterada a tarifa de água de 150 MT/Mês para os consumidores até 5 metros cúbicos, equivalentes a 5 mil litros, a primeira reacção dos nossos interlocutores foi de alívio.
Até porque tinham certeza de que não seria mais necessário fazerem malabarismos hercúleos para pagar as contas daqueles serviços básicos.
Hoje, dois meses depois, a certeza não se mantém, pois os mesmos sentem que as medidas ainda não tiveram o impacto imediato nas suas vidas como eles esperavam.
A luz continua cara
Rosa Manjate até há pouco tempo atrás pertencia ao escalão social, visto que, como diz, consumia mensalmente até 100 quilowatts de energia eléctrica por hora. Cliente cuja instalação usa contador do tipo pré-pagamento, vulgo CREDELEC, dispendia 200 meticais por mês, usando três lâmpadas de 100 watts de potência cada, ferro de engomar, aparelho de TV, DVD e um frigorífico. Hoje, com os mesmos bens eléctricos, tem de gastar mais 100 meticais porque os 100 kWh já não duram mais um mês, situação que a deixa preocupada. “Não sei o que se passa, a energia já não demora. Não usamos os electrodomésticos com regularidade, mas sempre tenho de aumentar de 50 0u 100 meticais”, conta.
Já José Boaventura é consumidor de tarifa doméstica. Antigamente, em média, a sua conta de luz oscilava entre os 1000 a 1500 meticais por mês. Quando foi anunciado que a corrente eléctrica custaria mais 13.4 porcento, substituiu as lâmpadas incadescentes dos dois quartos, da cozinha e da sala pelas fluorescentes, e evitou o uso de aquecedor de água e forno de microondas para continuar a pagar o mesmo valor mensal. Mas hoje com aumento de 7 por cento (lembre-se que o Governo reduziu a tarifa do escalão doméstico de 13.4 porcento que havia anunciado para 7 porcento) a conta de luz ascendeu aos 2000 meticais. “Tenho dúvidas se, na verdade, a subida da tarifa de energia foi de apenas 7 porcento, porque a última factura mostroume outra realidade”, comenta.
Ou seja, segundo Boaventura, a medida tomada pelo Governo no que diz respeito à energia ainda não se refl ectiu na sua conta de luz, pois sente que está a pagar mais 13.4 porcento e não 7 porcento, apesar de, como a distribuidora nacional de energia aconselha, consumir o estritamente necessário.
Tanto para os clientes de póspago assim como os de prépago de escalão social o preço de venda por consumo de 1 kWh é de 1.07 MT. Isto é, este grupo se for a consumir 100 kWh dispenderá, com as taxas de radiodifusão e a de limpeza incluídas, cerca de 200 MT. Enquanto que os clientes de pós-pagamento da tarifa doméstica que consome entre 100 a 300 o preço por cada quilowatt de energia por hora é 2.50MT/kWh, entre 301 a 500 kWh é de 3.51MT/kWh, superior a 500 é de 3.71MT/ kWh; e do serviço pré-pago é de 3.18 MT/kWh.
É impossível viver com 5 mil litros de água
A tarifa de água manteve-se inalterada para os consumidores até 5 metros cúbicos, correspondentes a 5 mil litros. O cálculo da tarifa é progressivo, ou seja, quanto maior for o consumo, maior será o preço. Apesar da medida, os consumidores queixam-se de que impossível viver apenas com 5 mil litros de água por mês, sobretudo por um agregado familiar-tipo em Moçambique composto por cinco pessoas. “Não há família que viva apenas com 5 mil litros de água mensalmente, portanto, as pessoas estão a pagar mais caro pela água. Aliás, se for a fazer as contas percebe-se que são necessários pelo menos 15 ou 20 mil litros mensais”, diz Boaventura.
Feito as contas constata-se que cinco mil litros mensais correspondem a 167 litros diários que divididos, por exemplo, por cinco indivíduos de uma agregado familiar equivalem a 33 litros por cada pessoa. Em uma casa composta por sete pessoas, como a de Rosa Manjate, signifi ca 23 litros diariamente por pessoa.
Geralmente, a descarga (ou autoclismo) gasta até 6 litros de água de uma única vez. E uma casa de cinco pessoas, onde cada uma acciona a descarga pelo menos duas vezes por dia, o desperdício em um mês será mais de 1500 litros de água. Um banho de chuveiro durante 10 minutos chega a consumir 20 litros de água diários, enquanto que um banho de caneca consome quase a metade; e se os membros da família tomam banho duas vezes por dia, gastarão num mês entre 3 mil a 6 mil litros de água. A esses gastos agregamse aos de lavagem de roupa e louça.
Em suma, os consumidores continuam a pagar caro pela água, visto que uma família de cinco elementos independemente do estrato social precisaria de no mínimo 12 mil a 15 mil litros de água por mês. Aliás, diga-se que as facturas dos que consomem apenas 5 metros cúbicos são pagas por aqueles que são obrigados, pelo número de elementos ou por necessidade, a consumir acima daquele escalão.