Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Agro-negócio: A ‘verde’ lição da mulheres

Agro-negócio: A ‘verde’ lição da mulheres

Apoiadas moralmente e com um pequeno incentivo material pelo núcleo da Organização da Mulher Moçambicana do Ministério da Agricultura – OMM/MINAG – as camponesa de Romão, arredores da cidade de Maputo, desafiam a falta de tudo e produzem hortícolas para consumo, venda e exportação para a vizinha África do Sul.

Os anciãos camponeses Maria Manjate e Paulo Matusse sabem, como outros cerca de dez mil membros das 12 associações sedeadas em Romão, o que é não ter uma gota de água para saciar a sede dos 877 hectares de terra subdividos em talhões já murchos.

Mas, quando o sol da quinta-feira, 8 deste Abril, já ia alto e as colunas de carros com tracção às quatro rodas ‘invadiram’ a povoação, os seus semblantes alteraram-se e, de repente, começaram a cantar e a dançar: era a festa de recepção de uma comitiva de dúzia e meia de membros do núcleo da Organização da Mulher Moçambicana do Ministério da Agricultura – OMM/MINAG. “ Viemos para vos dar mais força e mais moral para trabalharem esta terrra”, explicou Alda Munguambe, do secretariado da OMM da cidade e chefe do núcleo da OMM/MINAG.

Como boas visitantes que são, as mamãs do MINAG levavam consigo uma prenda especial consituída por sementes de hortícolas diversas: 2 kg de feijão manteiga, 200 gramas de pepino, 100 de alface e igual quantidade de quiabo, pimento, cebola, tomate, alface, cenoura, couve e beterraba. “ É pouco”, reconheceu Alda Munguambe, a chefe da brigada das mulheres verdes assinalando, porém, que “o mais importante é o apoio moral” para quem luta de sol a sol pela vida.

Celeste Zunguza, directora dos assuntos económicos do distrito Urbano – 4, área jurisdicional a que a zona de Romão está adstrita, e Américo Bento, extensionista da Direcção Provincial da Agricultura afecto especialmente à associação “Graça Machel” (a que pertence o grupo ora visitado) a oferta realmente era muito pequena, mas enfatizaram que “ é um incentivo pelas circusntâncias em que sucedeu: em prol das comemorações do 7 de Abril, dia da mulher Moçambicana, essa efeméride que anualmente paraliza o país como o havia feito no dia anterior.

Queixas, promessas e…esperanças

Mas a falta de um sistema de regadio, estradas e insumos agrícolas é menor do que a vontade que os membros da Associação “Graça Machel” têm de trabalhar a terra. E cantando “akuna leswi taka mahala / nada vem ao acaso – tradução livre do ci-shangana, língua do Sul – e dançando – os camponeses de Romão estavam em festa. A conselheira da Associação “Graça Machel”, Maria Mandlate, é quem, em retribuição das ofertas que acabavam de receber, ofereceu um cacho de bananas. Atrás de si seguiram outras camponesas com cana-de-açúcar, mandioca, entre outros produtos locais. “ A melhor época para nos visitar é Maio/Junho!”, apelou Mandlate. Esse apelo tem explicação? Tem: é naquela época do ano que Romão expõe a sua potencialidade em hortícolas!

É naquela época que Romão já revela um novo fenómeno: constantes visitas de outras mulheres que para lá vão para guevar (comprar para revenda) e exportar para a vizinha África do Sul. Esse “boom” de mulheres exportadoras dá força – e segurança – àqueles camponeses. “Os sul-africanos ganharam a confiança de que a hortícola moçambicana é de excelente qualidade”, enfatiza Américo Bento, o extensionista que, montado na sua motorizada, diariamente, circula nos mais de dez mil hectares incentivando-os com o actual “evangelho” da revolução verde!

“Queremos um tractor para trabalharmos mais e mais ”, apelou Mandlate, seguida da Celeste Zunguza que lamentou a grave falta de extensionistas. “Agora só temos dois técnicos o que torna quase impossível cobrir as 12 associações que formaram uma união de 10.146 camponeses e cobrir 877 hactares”.
O mais grave, afinal, ainda estava por ser revelado pela mamã Maria Mandlate: “(…) os ladrões vieram tirar tudo o que tínhamos na nossa sede (…) .”  “Tudo” quer dizer a incluisão de chapas de zinco de um edifício térreo e abandonado que, no estado em que actualmente se encontra não serve para mais  nada!

Aos roubos e vandalismos soma-se a falta de estradas, chuva – para não falar de um regadio – e de técnicos e respectivos insumos agrícolas, considerados inacessíveis ao bolso daqueles novos revolucionários verdes. São flagelos que estão a atingir directamente o grupo. Mas desengane-se quem ainda pensa que o Governo faz ouvidos de mercador e ninguém está a ouvir e a apontar a cada queixa dada. E a resposta, quando vem de uma dirigente com status da Alda Munguambe, não há como não acreditar: “Nós já registámos as preocupações e vamos canalizá-las às estruturas competentes”, disse a chefe da brigada da OMM/MINAG.

São lições que os camponeseses de Romão deram ao resto do País a partir daquela sala cujas paredes eram de ar e o tecto a copa de uma pequena árvore nativa como retrata o colega Sérgio Costa.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts