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Agora não há desculpas

Quarta-feira, dia 29 de Julho. Cerca de 13 horas sintonizo o aparelho de rádio na RDP África que promete divulgar ao mundo, em primeira mão, os resultados da segunda volta das eleições presidenciais guineenses. Na sede da Comissão Nacional de Eleições (CNE) a expectativa é enorme enquanto o seu mais alto responsável, Desejado Lima da Costa, lê os números da taxa de participação em todo o país.

Depois, num tom ponderado, anuncia: “O candidato Malan Bacai Sanhá obteve 224,259 votos, o que corresponde a 63,31%. O candidato Kumba Ialá, obteve 129,963 votos, o que corresponde a 36,69% do total. Repito estes resultados ainda não são definitivos mas indicam já uma clara tendência de voto.”

Do lado dos vencedores exulta- se, trocam-se beijos e abraços. Do lado dos vencidos os rostos fecham-se. Efectivamente, a vitória do candidato oficial do PAIGC – antigo partido único – já era, de certa forma, previsível, contudo, a imprevisibilidade dos guineenses no momento do voto, deixara ainda no ar uma certa expectativa.

E depois, em torno de Kumba Ialá, havia ainda o mito do homem do barrete ser perito em dar a volta a situações impossíveis. Desta vez não foi assim. Os guineenses, especialistas em surpreender a comunidade internacional – vide a vitória de Kumba Ialá em 2000 e a de Nino Vieira em 2004 depois de ter sido dado como politicamente morto várias vezes –, votaram pela lógica, pelo pragmatismo, pela estabilidade, pelo realismo, deixando de lado o populismo barato, a demagogia, o anarquismo, o tribalismo, a instabilidade governativa, a insensatez – lembrome que Kumba prometeu que se fosse eleito iria mudar a capital de Bissau para Buba (alguém conhece Buba?

Pois eu conheço e digo-vos que não passa de duas ruas de terra batida com meia dúzia de palhotas que na Guiné se chamam tabancas). Palavras para quê! O povo parece que finalmente entendeu que a Guiné-Bissau não pode perder mais tempo com Kumbas, porque, como o próprio disse há dias em campanha, e passo a citar, “ou a Guiné estabiliza e parte definitivamente rumo ao desenvolvimento ou isto [a Guiné] racha de vez.” Com a vitória de Kumba estou plenamente convencido que racharia de vez.

Agora, como talvez nunca ocorreu, a Guiné tem diante de si a rampa para sair do subdesenvolvimento e atraso ancestrais que tem caracterizado o país desde a independência. Há um presidente, um governo e uma maioria no parlamento. Tudo da mesma cor, o que faz inveja a muitos países. Agora não há desculpas. Agora o que correr mal só pode ser imputado aos guineenses.

A comunidade internacional tem boa vontade, fez boa cara à vitória de Sanhá, mas, tal como Obama referiu em Acra, a solução para os problemas de África passa fundamentalmente pelos africanos. A tarefa de reconstrução nacional – as estruturas do Estado praticamente não existem – é hercúlea.

Combater o tráfico de droga e a corrupção a ele inerente, desburocratizar a administração pública, reformar os sistemas de Justiça e de Saúde, formar professores, tornar os militares mais castrenses e menos políticos são os grandes desafios deste novo ciclo político que agora se abre. Têm a palavra os guineenses.

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