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Agente da PIC assassina cidadão indefeso em Nampula, população manifesta-se e autoridades respondem com gás lacrimogéneo

Agente da PIC assassina cidadão indefeso em Nampula

Um cidadão identificado pelo nome de Tchitcho, de 22 anos de idade, foi baleado mortalmente por um agente da Polícia de Investigação Criminal (PIC), na manhã do passado sábado (11), no bairro de Namicopo, cidade de Nampula. Amigos e familiares da vítima revoltaram-se e saíram à rua exigindo justiça. As autoridades chamaram a Polícia anti-motim, que usou gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar os populares que se dirigiram à esquadra local exigindo a cabeça do agente que fez o disparo mortal.

O finado foi abordado na manhã de sábado, quando se encontrava com amigos na rua Dom Manuel Vieira Pinto, por dois agentes da PIC, à paisana, que, exibindo um mandato, pretendiam detê-lo sob uma acusação que não foi possível apurar.

Segundo testemunhas oculares, Tchitcho questionou a detenção o que gerou uma discussão e vários outros cidadãos começaram a aglomerar-se no local, público, o que terá intimidado os agentes da Polícia de Investigação Criminal que empunharam as armas que traziam. Um deles disparou para o ar na tentativa de afastar os populares. Outro agente apontou a arma que trazia, uma pistola, para a cabeça de Tchitcho e disparou. O jovem caiu sem vida. Os dois agentes da PIC saíram em fuga do local.

Entretanto, os populares que se haviam aglomerado decidiram persegui-los para fazer justiça, pelas suas próprias mãos, visando o polícia que disparou o tiro fatal.

Imaginando que os agentes tivessem procurado refúgio na esquadra mais próxima, a 3ª, os populares dirigiram-se ao local.

Uma viatura da PRM, que veio ao local para recolher o corpo do finado, foi vandalizada pelos populares.

O corpo de Tchitcho acabou por ser transportado para a casa dos seus pais, onde em vida ele residia.

Sentindo-se incapazes de lidar com a fúria popular, a Polícia da República de Moçambique (PRM) pediu reforços. A Polícia anti-motim fez-se ao bairro de Namicopo e, além de afastar os populares das proximidades da esquadra, começou a perseguir os cidadãos que julgaram ser os líderes da revolta.

Entretanto, os populares decidiram bloquear o acesso à zona do crime, colocando pneus em chamas, pedras e paus na rua Dom Manuel Vieira Pinto.

A Polícia anti-motim começou por disparar gás lacrimogéneo e depois balas de borracha para dispersar os populares que procuraram refúgio no interior do bairro. Pelo menos nove cidadãos foram detidos, acusados de incitamento à violência.

Mariamo Juma, uma familiar da vítima, confirmou a ligação de Tchitcho ao crime. “Houve um período em que ele fazia negócio de telemóveis, e uma das vezes parou nas celas da Polícia, indiciado de ter roubado um telemóvel. Depois da sua soltura, abandonou a actividade e passou a fazer ‘chapa’”. Contudo lamenta o assassinato a sangue-frio. “Mesmo que ele fosse ladrão, não tinha que ser baleado, mas sim encaminhado aos órgãos de Justiça para responder pelo crime cometido”, sentenciou.

Zinha Impuecesse, que reside próximo da casa dos pais do finado, e que presenciou o assassinato, afirmou que a troca de palavras e a aparente resistência às ordens dos agentes terá sido a causa do baleamento.

Tchitcho era motorista de um mini-bus de transporte semi-colectivo de passageiros e, segundo Samuel José, uma dos seus amigos, sonhava em ter a sua própria viatura para se tornar num empresário do transporte de passageiros.

Polícia conta outra versão

A Polícia justificou o assassinato a sangue-frio de Tchitcho alegando uma tentativa do jovem de se apoderar da arma do agente da PIC que fez o disparo.

Segundo o chefe das Relações Públicas no Comando Provincial da PRM em Nampula, Sérgio Mourinho, o finado era um cadastrado perigoso e era procurado pelas autoridades devido ao seu alegado envolvimento em vários tipos de crimes. “Este indivíduo saiu das celas na semana passada, e voltou a cometer outro crime do tipo roubo de telemóveis e, mediante uma queixa, empreendemos a busca, mas ele quis agredir o agente da PIC, para além de tentativa de se apoderar na arma de fogo”, justificou-se.

Sobre o crime cometido pelo agente da Polícia de Investigação Criminal, Mourinho não deu nenhuma informação nem mesmo se o agente foi detido enquanto se esclarecem as circunstâncias do assassinato a sangue-frio de cidadão indefeso.

A calma retornou as ruas do bairro de Namicopo mas, na manhã de domingo (12), ainda era possível ver viaturas da Polícia anti-motim a circularem. A família do malogrado e os seus amigos clamam por justiça.

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