Danny Jordaan voava de Johanesburgo a Nova Iorque na terça-feira, representando a sua terra natal, quando o piloto anunciou que Barack Obama estava à frente nas primeiras apurações dos votos. Isso lembrou-lhe outra eleição.
“Tinha 46 anos quando votei pela primeira vez em 1994,” recordou Jordaan. Ele acrescentou: “fui eleito para o Parlamento”.
A aterrissagem em Nova Iorque ocorreu numa noite peculiar. Jordaan, chefe do comité sul-africano da Copa do Mundo de futebol de 2010, assistiu à celebração das eleições na CNN e comparou o clima nos EUA ao da África do Sul em 11 de Fevereiro de 1990, dia em que Nelson Mandela saiu da prisão após 27 anos.
“A maioria celebrou,” relembra Jordaan, que lutou contra o apartheid sem ter sido preso ou exilado. “Mas muitos não celebraram,” ele conta. “É preciso ter grandeza”.
Obama há tempos que expressa o seu respeito por Mandela, dizendo que se inspirou numa visita à antiga cela de Mandela em Robben Island. Em retribuição, Mandela enviou uma mensagem a Obama na quarta-feira, dizendo: “ a sua vitória demonstrou que não há ninguém em qualquer parte do mundo que não deva ousar sonhar em fazer do mundo um lugar melhor”.
Após um longo voo, Jordaan está em Nova Iorque e depara com imagens de pessoas rindo e chorando, frequentemente ao mesmo tempo. Americanos de uma certa idade recordam-se das manifestações contra a segregação e talvez também das pauladas levadas pelos cacetetes da polícia.
Sul-africanos como Jordaan, ex-jogador de críquete e futebol, posteriormente professor e activista, ainda se lembram do apartheid, da violência e da prisão. Eles também se recordam do status de pária do país no mundo desportivo, de 1964 a 1992, quando a África do Sul foi banida da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
Mas agora, a África do Sul pertence ao “clube” e é a anfitriã oficial na África subsaariana dos principais eventos desportivos mundiais. A África do Sul já sediou a Copa do Mundo de rugbi em 1995, quando o Presidente Mandela usou uma camisete verde do Springboks, a equipa de rugbi sul-africano, símbolo do poder e destreza dos brancos.
Multidões predominantemente brancas gritavam “Nel-son!” Nel-son!”- os Springbocks derrotaram os lendários All-Blacks (referência ao seu uniforme) da Nova Zelândia na final e Mandela dançou de alegria. Posteriormente, o país sediou a Copa do Mundo de críquete em 2003, em conjunto com a Zimbábuè e o Quénia.
A Federação Internacional de Futebol, conhecida como FIFA, comprometeu-se a realizar os seus eventos principais em todos os continentes, embora os custos possam superar qualquer retorno tangível. Agora, Jordaan veio a Nova Iorque numa semana histórica para assegurar a todos que a Copa do Mundo de 2010 será um sucesso.
Joseph Blatter, presidente da FIFA, uma vez mencionou um plano B para a Copa do Mundo, e então consertou o seu comentário dizendo que seria apenas no caso de um desastre natural. Mas Jordaan sabe do cepticismo existente acerca dos estádios, hotéis, transportes e segurança no país.
Quase todos os grandes eventos desportivos no mundo lidam com atrasos, incompetência, subornos, repressão, de tudo um pouco. O gás lacrimogéneo das revoltas civis mal se tinha dissipado quando os Jogos de Verão de Seul se iniciaram em 1988, e eles foram um sucesso. Linhas de “trolebus” e rodovias mal tinham sido inauguradas em Atenas quando começaram os Jogos de Verão de 2004.
“E terminámos tudo meia hora antes do primeiro jogo,” disse Sunil Gulati, presidente da Federação de Futebol dos Estados Unidos, sobre a Copa do Mundo de 1994, nos EUA.
Porém, a realização de um torneio com 32 equipas nacionais, incluindo a selecção sofrida da África do Sul, automaticamente convidada como anfitriã, é uma tarefa enorme para uma nação que há apenas 14 anos passou por mudanças gigantes. Um governo zeloso no poder actualmente aguarda as novas eleições de 2009, mas Jordaan, respeitosamente, observa que a Alemanha havia passado por uma mudança de partidos e de chanceleres um pouco antes de sediar a bem-sucedida Copa do Mundo de 2006.
Ele salientou que a moeda sul-africana passou de 6,5 rands para aproximadamente 11 rands em relação ao dólar americano nos meses recentes, mas disse que o preço dos bilhetes havia sido fixado a 7 rands por dólar, para assegurar que fãs de nações mais pobres pudessem custeá-los. No entanto, o mercado negro vai certamente aumentar os preços de muitas entradas.
Jordaan assegurou a um jornalista céptico – ou seja, eu – que o país anfitrião protegeria repórteres que são geralmente os últimos a deixar os estádios ao escurecer, carregando laptops valiosos e procurando transporte para o hotel ou estações de trem.
Ele mostrou slides de 10 estádios que já existem ou existirão no país – construções belíssimas com amplas coberturas nas arquibancadas, incluindo uma em Durban com vista para a praia de um arco acima do campo. Há também o estádio Mbombela em Nelspruit, que fica a apenas 15 minutos do Parque Nacional Kruger, uma reserva ambiental próxima ao rio Crocodile.
Quando questionado sobre a acção de possíveis hooligans vindos de nações não-especificadas, Jordaan sorriu e disse que eles seriam alojados perto dos leões e tigres da reserva ambiental. Imediatamente, senti-me imensamente mais tranquilo sobre a segurança na próxima Copa do Mundo.