A África do Sul celebrou esta quinta-feira o 20º aniversário de libertação de seu herói da luta antiapartheid, Nelson Mandela, cuja saída da prisão, após 27 anos detido, foi o primeiro sinal concreto do agonizante regime de segregação racial. Mandela chegou nesta quinta-feira ao Parlamento na Cidade do Cabo para comemorar os 20 anos de sua libertação, e foi ovacionado ao entrar no plenário.
Aos 91 anos, Mandela chegou acompanhado por sua terceira esposa, Graça Machel. Ele entrou no Parlamento por uma porta lateral para evitar os jornalistas. Esta é a segunda vez que Mandela assiste à cerimônia organizada para o discurso à Nação desde a eleição do presidente Jacob Zuma, em maio passado.
“Quando saiu pelas portas desta prisão, Mandela já sabia que sua própria liberdade anunciava que havia chegado a hora da liberdade para todos”, declarou Cyril Ramaphosa, ex-rebelde, hoje um homem de negócios, durante uma cerimônia em Paarl (sudoeste), último lugar onde o líder da resistência sul-africana foi mantido preso.
Libertado no dia 11 de fevereiro de 1990, Mandela se transformou no primeiro presidente negro da África do Sul em 1994, cargo no qual permaneceu até 1999. Dezoito meses antes de sua libertação, quando já haviam sido estabelecidos contatos secretos entre o prisioneiro político mais famoso do mundo e um governo que perdia o controle da situação, Mandela foi transferido para o centro de detenção Victor Verster, onde foi instalado em uma confortável residência.
O dirigente, nascido em 18 de julho de 1918, acabava de passar 18 de seus 27 anos de detenção na prisão de segurança máxima de Robben Island, uma ilha varrida pelos ventos em frente à Cidade do Cabo. “Muitas pessoas, no seu caso, buscavam vingança e (caíam) no racismo”, comentou nesta quinta-feira em Genebra a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay. “Ao invés disso, (Mandela) escolheu a via do perdão e da democracia”.
Em frente à entrada do centro de Victor Verster, que nesta quinta adquiriu o status de monumento histórico, políticos e veteranos da luta antiapartheid se reuniram perto de uma estátua que representa Mandela dando seus primeiros passos como um homem livre, com o punho para o alto em sinal de vitória. No entanto, 16 anos depois das primeiras eleições multirraciais que levaram Mandela ao poder, 43% dos 48 milhões de sul-africanos ainda vivem com menos de dois dólares por dia.
Mesmo assim, a mudança política é radical. As leis segregacionistas foram abolidas, a democracia se consolidou e o país adotou uma das constituições mais liberais do mundo. A estabilidade política garantiu até o ano passado um forte crescimento que transformou a África do Sul no gigante econômico do continente e permitiu financiar ajudas sociais para mais de 13 milhões de pessoas.
Embora o governo tenha melhorado o acesso à água e à eletricidade, ainda resta muito a ser feito nos enormes bairros da periferia, onde 1,1 milhão de famílias continuam vivendo em habitações precárias. Os ganhos ainda não são bem distribuídos: a renda mensal média dos negros cresceu 37,3% desde 1994, enquanto a dos brancos disparou 83,5%.
Mas, se as condições de vida de grande parte da população ainda não podem ser consideradas ideais, os progressos da África do Sul em diversos âmbitos nas últimas décadas se devem à luta de Nelson Mandela. Ele irá ao Parlamento, em sua única aparição pública do dia. A delicada saúde do herói de 91 anos, o obriga a limitar seus deslocamentos.