O presidente do partido Renamo, Afonso Dhlakama, responsabilizou nesta sexta-feira(22) o partido Frelimo pelo baleamento de Manuel Bissopo, secretário-geral do seu partido e deputado da Assembleia da República, acusando a força política no poder de fomentar “terrorismo de estado”. “Acuso o regime da Frelimo, a Frelimo tornou-se num partido terrorista, num estado terrorista – o partido, o regime, o governo. Nunca vimos isto”, afirmou o líder do maior partido de oposição em Moçambique.
Afonso Dhlakama, em entrevista por telefone à agência Lusa, considerou que o baleamento de Manuel Bissopo, ocorrido na quarta-feira na cidade da Beira, pode levar a uma mudança no tom do discurso político e ao agravamento da actual crise política, mas afastou um cenário de guerra.
“Posso acreditar que a situação pode deteriorar-se, mas não há guerra”, afirmou Dhlakama, declarando que estava a falar a partir da Gorongosa, onde alegadamente se encontra refugiado desde o cerco da polícia à sua residência na Beira, a 09 de Outubro, não sendo visto em público desde então.
O crime de que Manuel Bissopo foi vítima, disse o líder da oposição, foi testemunhado por beirenses “e todos ficaram furiosos, quiseram partir casas dos membros da Frelimo”, obrigando, no seu relato, a que os dirigentes do partido dissessem “não é por aí”.
Afonso Dhlakama observou que ele próprio foi vítima de duas emboscadas na província de Manica em Setembro passado, além do cerco à sua residência, e que não foi isso que levou a um cenário de confrontação aberta.
“Claro que todos estão com nervos e dizem-me ‘presidente, tem de agir’, as pessoas querem pegar e cortar pescoços dos [quadros] da Frelimo”, referiu Dhlakama, assegurando que desincentiva retaliações e apenas apela ao partido no poder para parar com episódios de violência contra a oposição.
Os partidos Renamo e Frelimo têm trocado nas últimas semanas acusações de raptos e assassínios dos seus quadros no centro do país, mas Dhlakama diz que qualquer imputação ao seu partido não passa de “mentira e propaganda”.
“Eu sou cristão, dirijo este partido e não temos isso de assassinar alguém, não odiamos ninguém da Frelimo, não temos um inimigo apontado que é o tal fulano, é o regime que odiamos”, salientou o presidente do partido Renamo.
Em contrapartida, atribui à Frelimo episódios de raptos e assassínios de elementos do seu partido, lembrando que o próprio Bissopo denunciara essas situações no dia em que foi baleado, “A minha preocupação não é só porque balearam o secretário-geral da Renamo, já é uma onda em que oficialmente estão a raptar e a matar os moçambicanos e aqueles que estão a fazer política e a criticar a Frelimo são alvos neste país”, defendeu.
O líder da oposição assinalou que, durante a guerra civil de 16 anos, “podiam raptar população ou matar homens da Renamo, mas via-se que eram da Frelimo”, porém, agora, sustentou, estas acções são urdidas nos gabinetes do poder.
Mais de dois mil moçambicanos que residiam na província de Tete abandonaram, desde Dezembro último, as suas casas e haveres e procuraram refúgio no Malawi, segundo eles fogem dos ataques perpetrados pelas Forças de Defesa e Segurança que os acusam de proteger os homens armados do partido Renamo naquela região de Moçambique.
Dhlakama afirmou ainda à Lusa que nem vale a pena pedir ao Presidente da República que persiga os culpados, reiterando a acusação de que foi o próprio Filipe Nyusi que ordenou as alegadas emboscadas em Manica. Essa ordem, prosseguiu, é demonstrada pela recolha de armas supostamente usadas pelas forças de defesa e segurança no segundo tiroteio em Manica, quando a polícia cercou a casa do líder do partido Renamo na Beira.
Segundo o líder da oposição, o baleamento do número dois do seu partido acontece numa fase em que Dhlakama está “caladinho” e recolhido na Gorongosa e “o secretário-geral é como se fosse o presidente” que importava silenciar. “Apelo ao regime da Frelimo para parar, é uma pouca vergonha”, insistiu Dhlakama, sustentando que estes episódios são “a mesma tática” usada em homicídios com contornos políticos, como o economista Siba Siba Macuácua, o jornalista Carlos Cardoso e o constitucionalista Gilles Cistac.