O checheno Zaur Dadayev, o principal acusado de assassinar em 27 de Fevereiro o opositor russo Boris Nemtsov, defendeu a sua inocência nesta quarta-feira ao denunciar que confessou o crime após ser sequestrado. “Confessei sob pressão. Fui ameaçado, assim como meu companheiro de serviço. Por isso, colaborei”, disse Dadayev, segundo os meios de comunicação locais.
Dadayev, que fez estas declarações durante uma audiência preliminar, lembrou que entregou aos defensores dos direitos humanos uma denúncia sobre maus tratos que deve ser apresentada perante o Comité de Instrução da Rússia (CIR).
“A 5 de Março, fui sequestrado por desconhecidos. Não sei onde estava e nem para onde me levaram. No dia 7 me comunicaram no Comité de Instrução que estava detido. Até então, me disseram o que dizer e como”, ressaltou.
O checheno, antigo membro das forças especiais da Chechênia, já denunciou torturas por parte das forças de segurança em entrevista concedida ao jornal “Moskovski Komsomolets”, declarações que o CIR prometeu investigar. Por sua vez, Dadayev insistiu que estava em outro lugar quando Nemtsov recebeu quatro tiros nas costas em uma ponte perto de Kremlin, crime pelo qual foram acusados cinco chechenos.
“No momento do assassinato eu estava em outro bairro. Estava na minha casa. Tenho testemunhas e um álibi. Ninguém me viu no local do assassinato”, disse desde a prisão preventiva de alta segurança de Lefortovo.
O CIR informou nesta quinta-feira que Dadayev tinha reconhecido sua culpa e a dos outros cúmplices detidos, embora o advogado do principal acusado negar categoricamente que seu cliente esteja colaborando com a investigação. Além disso, um investigador declarou durante a audiência que a culpa dos acusados foi confirmada pelas testemunhas e exames médicos.
Por outro lado, a acusação mantém que os cinco envolvidos atuaram por encomenda como matadores de aluguel e por motivos puramente econômicos. Desta forma, ficaria descartada a versão inicial de que Dadaev cometeu o assassinato motivado pelas críticas de Nemtsov ao islã e sua defesa das caricaturas do profeta Maomé publicadas pela revista francesa “Charlie Hebdo”.
O companheiro de Nemtsov na oposição extraparlamentar, Ilya Yashin, assegurou hoje mesmo que a investigação “se encontra em um beco sem saída”, já que os investigadores não conseguem encontrar nem aos organizadores e nem os que encarregaram o assassinato.
Segundo a oposição e os parentes, Nemtsov foi baleado por motivos políticos, entre outras coisas porque preparava um relatório sobre a presença militar russa no leste da Ucrânia após ser contatado por parentes de soldados que morreram no país vizinho e que não cobraram nenhuma compensação econômica por sua perda.