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Acatar as medidas de prevenção da malária e da SIDA pode salvar o país

Se cada moçambicano limpasse o capim que se encontra ao arredor da sua casa, eliminasse os charcos nos quintais e nas ruas, aceitasse a pulverização no seu domicílio e se, acima de tudo, dormisse, todas as noites, debaixo de uma rede mosquiteira, talvez o paludismo não constituísse, hoje, um problema bicudo de saúde pública e muita gente não estaria a morrer. Em relação ao VIH/SIDA, persistem as infecções por causa, por exemplo, da negligência da informação difundida para o combate desta doença, da negligência no uso do preservativo e do emprego de objectos cortantes não esterilizados.

O facto de termos ainda milhares de pessoas internadas em diversos hospitais do país devido à malária e à SIDA é uma das consequências de se negligenciar as mensagens difundidas para o combate a estes males físicos e morais.

A directora nacional adjunta da Saúde Pública no Ministério da Saúde (MISAU), Maria Benigna Matsinhe, disse em entrevista ao @Verdade que, entre 2009 e 2013, a taxa de prevalência da malária baixou de 13 milhões para 3.9 milhões e o número de óbitos regrediu de oito mil para 3.000. No primeiro semestre deste ano, morreram 1.000 pessoas, contra mais de 1.700 no ano anterior, por causa da malária.

Todavia, a preocupação mantém-se em resultado das precárias condições de saneamento do meio ambiente e de atitudes tais como o uso de redes mosquiteiras para actividades piscatórias e a rejeição da pulverização intradomiciliar.

Segundo a nossa interlocutora, enquanto em Moçambique houver uma pessoa a morrer de paludismo as autoridades de Saúde e a sociedade civil devem estar desassossegados. Aliás, na região da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), países tais como a República da África do Sul, o Zimbabwe, o Malawi, o Botswana, a Tanzânia e a Suazilândia apresentam taxas quase nulas de malária mercê de trabalhos idênticos aos que são implementados no território moçambicano, mas, que, infelizmente, são negligenciados pela população.

“Há necessidade de alargar as acções com vista a estancar, a curto prazo, os efeitos nefastos da doença e proteger, mormente, as mulheres grávidas e crianças menores de cinco anos, que são as mais vulneráveis”, disse a nossa entrevistada.

Nas zonas rurais, de cordo com Maria Matsinhe, a pobreza e a malária têm uma relação bastante forte, daí que há mais gente que despreza as medidas de prevenção. Esta tendência deve ser combatida mas para o efeito é necessário que a população mude os hábitos em relação ao paludismo e tome cada vez mais cuidado.

As províncias de Inhambane e Nampula, por exemplo, apresentam taxas mais baixas – oito e seis porcento, respectivamente – no que diz respeito à aceitação da pulverização intradomiciliar. Regra geral, em muitas zonas do país, é preciso melhorar o saneamento básico, a higiene individual e colectiva e o tratamento da água potável.

Maria Matsinhe apela, de forma reiterada, à população para que limpe cada vez mais o capim à volta das suas casas, elimine os charcos nos quintais e nas proximidades das suas residências, na via pública, use devidamente as redes mosquiteiras e as pessoas com sintomas ou que padecem de paludismo devem dirigir-se a uma unidade sanitária mais próxima dos seus locais de habitação.

Segundo ela, é necessário que se complete o tratamento intermitente preventivo com fansidar e outras linhas de tratamento, principalmente as mulheres grávidas e crianças menores de cinco anos.

De referir que dados do Ministério de Planificação e Desenvolvimento (MPD) indicam que os agregados familiares cujos domicílios foram pulverizadas é de 30 porcento na zona urbana, 13 porcento na área rural e apenas cerca de 37 porcento da população moçambicana é que têm acesso a rede mosquiteiras impregnada com insecticida.

Há mais gente a contaminar-se com SIDA

Um relatório do Programa Conjunto da Organização das Nações Unidas para o VIH/SIDA (ONUSIDA), divulgado em Julho, em Genebra, segundo o qual o número de seropositivos aumentou para 1,6 milhão, em 2013, em Moçambique, parece ser um sinal de que as medidas de protecção contra esta enfermidade sem cura não surtem os efeitos desejado.

O país está entre os 15 mais afectados no mundo. As zonas do corredor da Beira até Mutare (Zimbabwe) e do porto de Quelimane são consideradas as mais abrangidas pela epidemia. Armando Bucuane, técnico afecto ao Programa Nacional de Controlo de Infecção de Transmissão Sexual e VIH/SIDA no MISAU, disse que de 1.6 milhão de moçambicanos seropositivos, mais de 500.000 pacientes é que têm acesso ao Tratamento Anti-retroviral (TARV), das quais 72 porcento são adultos e 66 porcento são crianças.

Refira-se que os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) definem que, até 2015, o tratamento de doentes da pandemia do século deve abranger pelo menos 600.000 pessoas, ou seja, 80 porcento do grupo em alusão.

Segundo Armando Bucuane, a região sul de Moçambique continua a ser a mais afectada pela SIDA. Os novos casos de contaminações devem-se à fraca receptividade das medidas de prevenção e combate da epidemia e a propagação ocorre com frequência nas mulheres em idade reprodutiva e adultos, entre 15 e 49 anos de idade.

A situação, de acordo com o nosso entrevistado, agrava-se pelo facto de ainda haver um número elevado de indivíduos que mantêm relações sexuais com múltiplos parceiros, baixos níveis de uso do preservativo, alta mobilidade e migração de pessoas associada à elevada vulnerabilidade, desigualdade de género, violência sexual, falta de acesso à educação sexual e baixos índices de circuncisão masculina.

Sem relevar números, Bucuane indicou que, entre 2005 e 2013, a quantidade de mortes por do VIH/SIDA aumentou em 13 porcento, o que demonstra que há necessidade de se intensificar cada vez mais as actividades de combate e prevenção. Para reduzir as taxas de desistência ao tratamento anti-retroviral, o Governo moçambicano tem apostado na expansão deste serviço pelas diferentes unidades sanitárias e construção de novas instalações com vista a reduzir as distâncias percorridas pelos doentes. Neste momento, o número de hospitais que administram o TARV aos pacientes passou de 226, em 2005, para 647, em 2013, devendo, até 2015, ser mais de 700.

Os tabus prevalecem

De acordo com Bucuane, para estancar a propagação da doença em alusão é necessário também reforçar as acções de aconselhamento com o intuito de eliminar os tabus culturais, criar grupos de apoio que convençam mais pessoas com SIDA a aderir ao tratamento e prover anticonceptivos a grupos mais vulneráveis, tais como as trabalhadoras do sexo e camionistas que fazem viagens de longo percurso e pernoitam nas fronteiras. Ele lamentou ainda o facto de o estigma social em relação aos enfermos desta epidemia ser uma realidade no país, o que, de alguma forma, frustra as acções de combate, sobretudo nas zonas rurais.

O nosso interlocutor referiu que em Moçambique, apenas 31 porcento de mulheres e 51 porcento de homens é que possuem conhecimento sólido sobre esta doença. Este problema deve-se também ao baixo nível de escolaridade. Segundo ele, mais de 90 porcento de os casos de VIH/SIDA no país têm como principal causa a prática de relações sexuais sem protecção.

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