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Selo d´Verdade: A voz do silêncio

Faz 32 meses que tivemos “O cinco de Fevereiro”, que foi o reconhecimento notarial que pôs fim a um longo contrato social entre os citadinos de Maputo/Matola e a Frelimo/Governo devido à subida do combustível e, consequentemente, a greve dos chapas. Nessa altura, várias teorias da conspiração foram desenvolvidas sendo duas, particularmente, as mais discutidas: Mão externa e Rivalidades partidárias.

No dia 1 de Setembro o povo manifestou o seu repúdio pela forma como tem sido mal governado, através de actos violentos, de forma desorganizada, mas com muitos indícios de coordenação.

Naturalmente, as teorias da conspiração regressaram, muito alimentadas pelos visados governamentais, como é óbvio, destacando-se os actos de violência, agressão, vandalismo, roubos etc.

Nenhuma palavra sobre a distracção dos serviços de inteligência, impreparação das forças de segurança pública, muita ingenuidade e incompetência do Governo na capacidade de diálogo com as massas, um “comissário político” irreconhecível, um porta-voz atrapalhado, etc., etc.

Os maiores argumentos dos governantes sobre a referida manifestação são: A manifestação é ilegal, não seguiu os trâmites legais

? Os manifestantes são arruaceiros, vândalos, criminosos e oportunistas

? Que a subida do custo de vida é consequência da crise internacional

? Não há com quem dialogar porque a manifestação não tem rosto

? É preciso trabalhar mais, aumentar a produtividade, etc. Os manifestantes protestam contra o aumento do custo de vida:

? Aumento do pão,

? Aumento do arroz

? Aumento da água

? Aumento da energia

? Aumento dos legumes

? Aumento generalizado de tudo um pouco, cimento, chapas de cobertura, pregos, escolas, roupas, etc., etc.

Os argumentos dos primeiros teriam lógica se vivêssemos num Estado de direito que pressupõe:

? Cumprimento da lei mãe, ou seja, da Constituição da República

? Separação e independência dos poderes, particularmente o Jurídico e o Legislativo

? Garantia dos direitos fundamentais, nomeadamente, dignidade, liberdade de expressão, acesso à Justiça Justa, ao trabalho, liberdade de associação sindical, formação de partidos políticos de oposição verdadeira, distribuição da renda nacional de forma justa, eleições livres, justas e transparentes e direito a manifestar.

As manifestações tiveram consequências violentas, com avultados danos pessoais com perda de vidas, centenas de feridos, centenas de detidos e elevados danos materiais para indivíduos, empresas privadas e públicas. Podemos criticar a violência da manifestação e até repreendê-la, ou, mesmo ainda, condená-la, dependendo do ponto de partida da análise. Contudo, no silêncio, quase todos são unânimes em concordar que os manifestantes tinham o direito e a razão.

Porquê?

Porque a sociedade civil passou à clandestinidade, não podendo usufruir dos tais direitos fundamentais. Como e porquê?

Porque têm medo da perseguição, retaliação, exclusão, marginalização, enfim, medo de se lhes ver negado o acesso à cidadania, razão pela qual os sindicatos molecaram, a maioria dos media molecou, os partidos políticos (salvo uma excepção) escravizaram-se, os intelectuais e académicos acobardaram-se, a maior parte dos heróis libertadores venderam-se, alguns líderes religiosos (padres e sheikes) viraram engraxadores do poder na terra nacional, a classe média, que na cidade de Maputo votou na oposição têm medo de manifestar as suas razões.

Quando não se tem meios de comunicação, interlocutores válidos e de confiança, como se manifesta o que nos vai na alma e particularmente no estômago?

O risco de controlar, controlar e controlar tem este preço muito caro, de o poder ficar na rua com todas as consequências. A Frelimo sempre nos ensinou que “O PODER PERTENCE AO POVO” e que “OS DIRIGENTES NÃO SE DEVEM SERVIR DO PODER”.

Alguém de quem muito gostamos, mas de que os governantes nem se querem lembrar, dizia: “ O POVO TEM SEMPRE RAZÃO…”

A Luta continua.

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