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A volta do conto de fadas

A volta do conto de fadas

A princesa Elizabeth casou-se com o príncipe Philip em 1947. Em 1981, o príncipe Charles casou-se com a virginal lady Diana. Agora, passados 30 anos, é William, filho de Charles e neto de Elizabeth, quem se prepara para receber a mão da plebeia Kate Middleton.

A cada três décadas, mais ou menos, a família real britânica repete um ritual antiquado e solene – e o mundo, embevecido, suspende a respiração para assistir. Por reminiscência dos contos de fadas ou nostalgia da ordem monárquica, os casamentos reais mexem com os sentimentos da multidão.

Quem das mulheres não quis ser Cinderela? Que menino não sonhou em ser Arthur? Para os britânicos, o matrimónio dos monarcas é uma questão de Estado; para o resto de nós, é um estado de espírito.

Espera-se que 2,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo vejam a cerimónia na manhã da sexta-feira dia 29. Além da beleza do espectáculo e dos detalhes pitorescos, há, neste evento, um componente novelesco.

Charles e Diana beijaram-se na sacada do Palácio de Buckingham para mergulhar, anos depois, no mais plebeu desentendimento, que terminou em divórcio e acrimónia públicos. De William e Kate, espera-se uma reparação.

Não apenas da monarquia britânica, que luta para manter a sua mística familiar, mas da ideia mesma do casamento. O mundo quer que os noivos sejam felizes para sempre.

Como nos contos de fadas

É o perfeito conto de fadas dos tempos modernos. Kate, a plebeia de esvoaçantes cabelos castanhos, fi lha de família de classe média que fez fortuna com negócio próprio. William, o jovem e belo príncipe, alto e loiro, um dos solteiros mais cobiçados do planeta.

O cenário da história de amor, St. Andrews, uma antiga universidade numa pitoresca vila escocesa. Kate desmentiu os rumores de que tinha um poster de William colado na parede do seu quarto de adolescente. Mas encontrar um príncipe, encantado ou não, é ideia que já passou pela cabeça sonhadora de muita menina.

O caminho que levou Kate ao altar da Abadia de Westminster começou em Abril de 2002, durante um desfi le de moda benefi cente realizado na Universidade de St. Andrews, na Escócia.

A estudante de 20 anos surgiu na passarela usando um vestido totalmente transparente, o seu corpo oculto apenas por duas peças de lingerie preta. Kate tem 1,78 metro de altura, longas pernas e um corpo modelado pela ginástica e pelo ténis.

Na primeira fila da plateia, William foi fisgado. Os dois estudavam história da arte desde o ano anterior e conheciam-se. Mas o vestido colocou a colega com olhos de safira no radar do príncipe.

Em Setembro daquele ano, eles passaram a dividir uma moradia estudantil com outros dois colegas. A relação floresceu, protegida por um acordo entre a família real e a imprensa britânica para que o jovem príncipe pudesse ter alguma privacidade e levar uma vida universitária relativamente comum. Esse mesmo acordo impediu que Kate fosse assediada pela imprensa como Diana.

A mãe de William, morta em 1997, é um fantasma que paira sobre Kate e o futuro casal. Ninguém gosta de ser comparada com a sogra, mas neste caso é impossível evitar procurar semelhanças e diferenças entre a futura rainha e a finada princesa que conquistou corações mundo afora.

O próprio William deu corda para as comparações ao colocar no dedo de Kate o anel de noivado de safi ra que pertenceu à mãe. As duas têm, no entanto, origens e trajectórias completamente diferentes.

Kate vem de uma família predominantemente operária, enquanto Diana descendia de uma linhagem privilegiada da aristocracia inglesa. Lady Di casou-se com apenas 20 anos, após um curto namoro, e era 12 anos mais nova que o marido, Charles. Já Kate, aos 29, pertence à mesma geração de William, que é apenas alguns meses mais jovem do que ela.

Diferentes também são as relações das duas com os seus respectivos príncipes. A de Diana começou conturbada pela proximidade de Charles com a ex-namorada Camilla Parker Bowles, hoje segunda esposa e Duquesa da Cornualha.

No caso de Kate e William, apesar de uma breve separação, o longo namoro de sete anos e meio é considerado sólido, e os dois são vistos como um casal amplamente compatível.

É verdade que anos à espera do pedido de William renderam a ela a alcunha Waity Kate, a Kate que espera, mas esse período preparatório deu à jovem um treino importante para a vida que a espera, diante dos flashes e nas primeiras páginas dos jornais.

Em Novembro de 2010, quando o noivado com o príncipe se tornou oficial e Kate foi apresentada ao mundo, percebeu- se que as lições de Diana haviam sido assimiladas noutro sentido. A jovem noiva portou-se como veterana diante dos fotógrafos e na entrevista do casal para a TV britânica. Comenta-se, mas o Palácio não confi rma, que ela teria recebido aulas de dicção, treinos dos media e orientações gerais de comportamento público.

Amigos que a conhecem há mais tempo dizem que a dicção de Kate mudou, aproximando- -se daquela forma empolada de falar da elite inglesa que é associada a um espécie de snobismo de classe e conhecida pelo adjectivo posh. Até a forma como ela sai dos automóveis, evitando posturas que forneçam material aos paparazzi, foi treinada assistindo a vídeos de Diana – algo que Kate disse ter achado “meio mórbido”.

Enquanto a mãe de William foi atirada às feras aos 19 anos e aprendeu com os seus erros a lidar com o lado escuro da fama, Kate tem sido protegida desde o início do namoro com o príncipe.

Nunca houve com ela uma “questão de virgindade” como a que assombrou Diana logo depois do anúncio do noivado com Charles. Biógrafos dizem que a jovem Spencer foi escolhida pela rainha Elizabeth como consorte do filho em virtude dessa virtude antiquada.

Diana viveu a experiência assustadora de ver a sua intimidade discutida publicamente pelos tablóides – com opiniões de um lado e de outro emitidas por familiares e pessoas que a conheciam. Nos meses anteriores ao casamento, ela passou a exibir sintomas severos de bulimia e chegou à Catedral de St. Paul 7 quilos e meio abaixo do seu peso.

A preparação de Kate tem sido ajudada pela atitude de futura rainha. Ela abraçou sem hesitações o papel institucional de mulher do herdeiro da coroa e parece determinada a evitar os conflitos que marcaram as relações de Diana com a família real.

Do lado da família de Elizabeth II, também houve mudanças desde o desastre da geração anterior. Na véspera do Natal do ano passado, quando a rainha ofereceu uma recepção em Buckingham apenas “para a família”, Kate foi convidada.

Ela chegou na companhia do noivo e do cunhado e moveu-se serenamente, com um lindo sorriso nos lábios, pelo mar de flashes que a cercavam. Lá dentro, também recebeu uma recepção calorosa. De acordo com testemunhas, Kate teve uma longa e amistosa conversa com a rainha e parecia perfeitamente à vontade com a soberana.

O Palácio tem feito questão de externar a sua alegria e aprovação pela escolha de William. Membros mais velhos da família real e alguns auxiliares directos da rainha foram oficialmente escalados para auxiliar a novata na sua nova missão como pessoa pública.

Informalmente, Kate tem recebido orientação e conselhos de Camilla, a mulher do seu sogro – e aí a trama ganha ares shakespearianos. A actual Duquesa da Cornualha foi a grande sombra na vida de Diana, mãe do seu marido. Porque Kate deveria confi ar nela?

Catherine Elizabeth Middleton, futura rainha da Inglaterra, nasceu em 9 de Janeiro de 1982, e é a mais velha de três irmãos. O pai, Michael, trabalhava como programador de voo da empresa aérea British Airways. Foi lá, em meados da década de 1970, que se apaixonou por Carole, comissária de bordo na mesma companhia. Kate teve uma infância normal. Aos 4 anos de idade, passou uma temporada ao lado da família na capital da Jordânia, Amã, para onde o pai foi trabalhar.

De volta à Inglaterra, em 1986, Michael e Carole abriram a Party Pieces, uma empresa de venda de artigos para festas infantis pela Internet. A empreitada deu certo, permitiu a ascensão social da família e pagou por um estilo de vida privilegiado. Ele ajudou a colocar os irmãos Catherine, Philippa e James nas rodas da alta sociedade britânica, por onde circulam nobres como William.

Tablóides como o Daily Mail e o Mirror publicaram nos últimos anos reportagens repercutindo rumores de que a mãe de Kate teria pressionado a filha para escolher a Universidade de St. Andrew, depois de saber que o príncipe se havia matriculado na instituição escocesa. Se foi planeado, deu certo.

A história, a família e o estilo de Kate aproximam-na das pessoas comuns – e isso pode transformá-la numa espécie de património da monarquia. Mesmo estimulada a vestir-se de forma mais glamourosa, ela tem insistido em ser “ela mesma” e usado roupas normais e de marcas acessíveis nas suas aparições públicas.

Um bom exemplo é o vestido creme Nannette, da loja Reiss, usado no ensaio fotográfico oficial clicado pelo peruano Mário Testino. Ele custou o equivalente a 10 mil meticais. Ela também já foi vista com peças das marcas Topshop, French Connection e da própria Jigsaw, onde trabalhou.

Ainda é cedo para dizer se Kate terá o mesmo impacto que Diana no mundo da moda, mas tudo o que veste desaparece das prateleiras em poucas horas, como descobriu a estilista brasileira Daniella Helayel, da marca Issa, responsável pelo já famoso vestido azul escolhido para o anúncio ofi cial do noivado.

A sua volumosa cabeleira de cor castanha, cortada em camadas, também está a gerar clones. Apelidado de The Kate, o penteado vem sendo comparado ao fenómeno The Rachel, o corte de cabelo da actriz Jennifer Aniston na primeira temporada do seriado americano Friends, que durante anos foi copiado em várias partes do mundo.

De Waity Kate a uma das mulheres mais invejadas do mundo, a futura rainha exemplifi ca um novo tipo de monarquia, mais próxima dos súbditos, mais moderna.

É possível até que Kate não receba o título de princesa. É costume que, horas antes do casamento de um príncipe, a rainha divulgue um comunicado dizendo que título dará ao casal após a união. Se William passar a Duque de Clarence, Cambridge, Sussex ou Windsor, como é esperado, Kate será a duquesa Catherine até que o marido assuma o trono. Quando isso acontecer, ela se tornará rainha.

“Quando Kate se tornar a rainha Catherine, ela será a primeira esposa de um monarca britânico que se terá formado na universidade, mostrado a lingerie numa passarela e vivido com um rei antes do casamento”, diz Claudia, a sua biógrafa. Uma verdadeira rainha do século XXI. Mais feliz do que Diana, espera-se.

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