Pode ler-se na TIME que ao sábado de manhã passa uma frota de motas amarelas de três rodas que deixam o centro de Maputo em direcção aos bairros, no interior levam pilhas do jornal ‘A Verdade’ – um semanário gratuito que em apenas dois anos fez com que os moçambicanos lessem mais.
“Com o tuk-tuks ou com as txopelas, chega a zonas mais desfavorecidas de Maputo, onde as pessoas correm para conseguir pegar um exemplar, perseguindo os veículos com os braços estendidos. Quando efectuam uma paragem, as pessoas aglomeram-se à volta das motas na esperança de conseguir o Jornal”, descreve a TIME.
Com uma tiragem semanal de cerca de 400.000 exemplares, o jornal chega a todos os moçambicanos ao contrário dos outros jornais que circulam no país, segundo uma pesquisa da GfK Group citada na peça da TIME.
Mas enquanto muitos editores ficariam satisfeito com a criação de um jornal popular de qualidade e gratuito, para o fundador Erik Charas é apenas um começo. O empresário de 36 anos, acredita que o seu jornal ainda pode vir a ser muito útil, como “instrumento de mudanças sociais, que podem ajudar Moçambique a sair da situação de pobreza e acabar com a dependência de ajudas externas”.
Em declarações à TIME, Charas afirmou que “não terem começado o jornal para que se tornasse num grande jornal”, mas sim, “para conseguir transformar o país, para empurrar a questão do acesso à informação e, na melhor das hipóteses para despertar a ambição nos moçambicanos”.
O nível de pobreza que atinge os moçambicanos é elevado, mais de 75 por cento da população vive com menos de um dólar e meio por dia, o que torna a maioria do jornais vendidos a 45 e 75 cêntimos um luxo inacessível para muitos, mas segundo Charas com ” A Verdade as pessoas podem comprar comida e ainda obter notícias”. Acrescenta ainda que “não há escolhas”.
O jornal foi fundado em 2008 com cerca de meio milhão de dólares, dinheiro que o empresário conseguiu de empreendimentos anteriores e do investimento privado, A verdade conta neste momento com uma equipa editorial de cerca de 15 jornalistas.
Com uma abordagem diferente dos demais jornais moçambicanos, ‘A Verdade’ explora temas como, a criminalidade nos bairros, o HIV, Sida, os subsídios para o pão e os preços da electricidade.
Enia Tembe, de 29 anos, funcionária de uma casa de banho pública, que recebe cerca de 70 dólares por mês, afirmou `TIME que nunca comprou um jornal, mas “A Verdade ajuda-nos a ver o que está acontecendo”.
Mas para Charas, “a aspiração é a chave para a reinvenção de Moçambique”. “Se você tem ambição, você vai querer coisas para si mesmo, você vai agir sobre eles”, diz.
De acordo com a reportagem da TIME, há críticos que não vêem com bons olhos a posição e a estratégia apontada pela ‘A Verdade’, é o caso de Lauriciano Gil, um jornalista local, que afirmou que quando o que está em causa é a sobrevivência, as pessoas não vão querer saber de um IPad.
Por outro lado, o presidente da Mediacoop, Fernando Lima, que publica o semanário independente “Savana”, elogia Charas, considerando que a Verdade é uma óptima iniciativa, mas também questiona se o conteúdo e linguagem do jornal estão sintonizados com o seu público. “Será que as pessoas querem esse jornal porque é grátis ou porque gostam de facto do mesmo?”