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Selo: A propósito da “Carta aberta aos portugueses que querem vir (ou já vieram) para Moçambique”, por Glória

1- Essa carta aberta tem, a meu ver, dois efeitos imediatos: – fazer perder tempo aos leitores com um texto longo e sem nada de construtivo, e – divulgar a ideia de que os moçambicanos não prestam – e com uma extensa lista de razões!.

 

2- Sou Portuguesa, nascida em Moçambique (espero não estar a provocar outra carta aberta) e tenho dois filhos Moçambicanos (sinto que vem aí outra carta aberta). Ironicamente, é a primeira vez que me apresentam os Moçambicanos com esses rótulos – e por informação de uma Moçambicana!

 

3- Também não conhecia os tais papos de coitados dos “tugas”.E, agora sim, estou certa de que aí vem a carta aberta à “Portuguesa nascida em Moçambique, com dois filhos Moçambicanos e problemas de audição”!

4- Apesar do depreciativo “tugas” do texto, eu nunca me referirei aos Moçambicanos com o não menos depreciativo “‘çambcános”.

5- Não sei quantos “portugueses que querem vir (ou já vieram) para Moçambique” receberam a carta, mas gostaria de saber quantos deles a escritora espera que mudem de ideias com a sua leitura. Pois, perda de tempo…

6- É curioso que, dos poucos desses Portugueses que tenho conhecido, ficou-me uma impressão diferente da exposta na carta. Achei-os paternalistas em relação aos Moçambicanos e difamatórios em relação aos Portugueses que já cá estavam. Mas, claro, não posso generalizar.

6- A autora pede aos tais Portugueses que “expliquem muito bem explicadinho aonde é que estes novos imigrantes vão trabalhar.” São mesmo esses os destinatários apropriados? Vejamos: como foi e por que entraram e continuam a entrar todas essas pessoas? Ameaçam Moçambique com armas de destruição maciça? Existem algures, bem camuflados, benefícios de parte a parte?

7- Portanto, é evidente que a cara Moçambicana deveria dirigir a sua carta (sempre de duvidosa utilidade), aos “Moçambicanos que permitem a entrada a esses… blábláblá”.

8- Não me lembro bem como é que os Espanhóis foram envolvidos no presente caso, mas há um ponto que escapou à senhora Moçambicana: não foi com cartas abertas, lamúrias ou discursos que os Portugueses os expulsaram.

9- Sou confrontada quase diariamente, e não só no serviço, com injustiças, difamações, doenças, etc., mas nunca perco tempo com lamúrias; arregaço as mangas, afio as garras e vou à luta.

10- Espero que a moda não pegue, porque já estou a imaginar as próximas cartas abertas, todas de igual (in)utilidade: dos Portugueses emigrados aos Franceses que os desprezam; dos Moçambicanos explorados na África do Sul; dos Alentejanos vítimas da chacota dos outros Portugueses; ou dos meus cãezinhos porque não têm gostado dos jantares.

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