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A ntyiso wa wansati – Como um ovo

A ntyiso wa wansati - Como um ovo
Às vezes acordo com o coração em forma de balão. Redondo e cheio, quase a rebentar. É uma sensação um bocado estranha, mas como pode acontecer com as sensações mais estranhas, é das melhores do mundo. É como se acordasse a voar e ainda nem sequer me levantei. Depois levanto-me, abro a janela e vejo o meu coração a crescer até ficar do tamanho da lua, mas muito mais bonito, porque é às cores e brilha de dia.
Então, sento-me e escrever e o meu coração dá a volta o mundo num instante e depois fica a dançar em frente à minha janela, a fazer desenhos no ar, a contar-me histórias do passado e do futuro e eu sinto-me a pessoa mais feliz do mundo porque tenho um coração como um ovo onde cabem as coisas mais importantes do mundo.
 
Nestes dias perfeitos, cada gesto é quase sagrado. A minha casa transforma-se num pedaço de céu e lá fora o vento corre à velocidade e temperatura certas. Depois tu chegas, sempre a tempo de me agarrar e de falar comigo sem palavras durante muito tempo, os dois encostados à porta da rua, até que regressamos à terra e alguém diz.

 

Olá  meu amor e depois sentamo-nos a conversamos e rimos e partilhamos a vida como fazem aqueles que se amam.É tão fácil viver assim. Os dias colam-se uns aos outros como missangas num colar e o colar vai dando voltas e mais voltas sem nunca se cansar de crescer e as noites são como passagens perfeitas para os dias que se seguem. A vida pode ser isto; um fio abençoado de dias, como um conto de fadas, mas sem nunca acabar.

Antes de te conhecer eu tinha dois mundos: o meu, onde tudo era sonhado e permitido e o outro, onde a realidade se confrontava todos os dias comigo. E estava muitas vezes em guerra: com o meu mundo por ser tão diferente, comigo própria por não aceitar o outro, o que me diziam que era o real, e com a realidade que me rodeava. O meu coração era o meu escudo, e eu lutava muito, às vezes magoava-me e caía, e sangrava e doía e sabes o que é que eu fazia? Fazia como as crianças orgulhosas, quando caem ao chão e não querem que ninguém saiba que doeu. Rangia os dentes e levantava-me outra vez. 
 
Nunca desisti de acreditar na perfeição, nem abandonei a convicção que podia cruzar a perfeição com a realidade e esta ideia fixa tornou-se o meu cavalo de batalha. Mozart fê-lo com a música, Monet com a pintura, Miguel Ângelo também e sempre eu via ou ouvia uma obra destes génios, eu sentia essa perfeição, essa espécie de céu, uma paz imensa e segura, uma outra dimensão onde todos os sons são música e todas as cores são belas. 
 
Mas foi quando chegaste, quando foste chegando e entrando na minha vida como quem regressa a casa, que percebi que ia ganhar a guerra e que as batalhas tinham chegado ao fim.
E foi então que o escudo se transformou num balão, se encheu como um ovo, abriu a janela e voou para sempre.
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