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EDITORIAL: A norte nada de novo

Após um longo sono letárgico, que incluiu uma passagem prolongada pela capital do norte, Nampula, com direito a escolta policial diária, não fosse o membro do Conselho de Estado ser atacado por algum ‘bandido armado’, Afonso Dhlakama acordou estremunhado e foi estremunhado que saiu de casa, primeiro para Cabo Delgado e depois para a Zambézia, esta última província conhecida pela sua rebeldia em relação ao poder instituído.

E o que fez Afonso Dhlakama? Subiu para cima do palanque e disse, para quem o quis ouvir, que estava farto das brincadeiras da Frelimo – ‘brincadeira da Frelimo’ é a sua expressão preferida – e que iria criar quartéis paralelos para, passe o pleonasmo, aquartelar, os seus homens, impedindo que estes voltassem a pegar em armas para lutar contra o poder, uma vez que existe, no seu entender, essa forte possibilidade porque o exército há muito que deixou de ser apartidário.

“É da Frelimo e não respeita os meus homens”. Mas os disparates não ficaram por aqui. O país, e deu como exemplo o Sudão, podia vir a ser dividido em pedacinhos. “É um mal menor.”

Assegurou ainda que iria haver manifestações – onde é que já ouvimos isto? – e que o mais tardar no Natal a Frelimo já estaria apeada do poder. Para demonstrar a sua força, numa lógica de ninguém se meta comigo, elementos da sua guarda retiraram à força uma AK47 a um agente da polícia da República, julgando humilhar a instituição.

No seu discurso falou ainda dos vergonhosos roubos eleitorais de que é alvo desde 1994 e da partidarização de todo o aparelho de Estado pelo partido Frelimo. Ideias frescas, novas, nem uma para amostra. Tudo um permanente “dejá vu”.

Dá a sensação de que as palavras lhe saem da boca por sair e se fosse uma cassete a fita, de tão gasta, já há muito que se tinha desenrolado nas bobines criando aquele ruído tão característico como desagradável.

Dhlakama é demasiado patético para ser uma alternativa a este Governo. E não era nada difícil sê-lo dadas as inúmeras escorregadelas e os constantes desmentidos e recuos nas decisões numa lógica do que hoje é verdade amanhã é mentira, muito recorrente neste Governo.

Assuntos para um líder da oposição pegar não faltam. Não é preciso ser-se um político de excepção para capitalizar os erros deste Governo. Mas, incompreensivelmente, isso foi coisa que o líder da Renamo nunca conseguiu fazer.

Só vou dar algumas – as últimas por ordem cronológica – achegas: levantamento dos gastos com as presidências abertas, revolução verde, abolição da cesta básica, corrupção dos gestores públicos, enriquecimento ilícito dos PCA das empresas públicas e as constantes trapalhadas que envolvem a organização dos Jogos Africanos.

Dada a profusão de erros e de irregularidades deste Governo, parece-me ser quase tão fácil como as crianças encontrarem ovos de chocolate no jardim pela Páscoa.

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