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Autárquicas 2013: A maldição de Xai-Xai

Xai-Xai é uma cidade de contrastes. Se ao longo da EN1 se revela uma cidade imponente que abraçou o progresso, por detrás dos edifícios que o dinheiro construiu para glorificar o combate à pobreza esconde-se um mundo entregue à sua sorte. De um lado o asfalto, do outro a terra batida. No cimento o conforto, na periferia a vida árdua. Assim é Xai-Xai…

Ainda não vimos nada que dá indicações de progresso e já deparamos com estradas esburacadas e algum lixo: é à entrada da cidade, quando olhamos para os lados e vemos edifícios antigos que nos apercebemos de que Xai-Xai nasceu no lugar errado e é aqui onde as cheias começam – e sobretudo expõem – as fissuras da urbanização no país.

Com 115.752 habitantes, um número que o município não actualiza desde o senso de 2007, Xai-Xai é uma cidade de contrastes. As ruas impecavelmente asfaltadas, no centro da urbe, contrastam com as vias irregulares e esburacadas no coração da periferia, lá onde normalmente os olhos não chegam e o cidadão comum passa as noites. Até o Mercado Limpopo é um monumento que nos lembra essas disparidades.

A pressa matinal embrulha os sentidos que ali coincidem, entre a passagem de peões apressados, vendedores ambulantes, paragens de autocarros e uma rebaldaria de viaturas comerciais e particulares. Num despertar nervoso e barulhento do trânsito, ali, na praça que fica defronte do edifício do Conselho Municipal, começa a vida de uma cidade que acorda para sobreviver às investidas da pobreza.

Xai-Xai estende-se em cerca de 131 quilómetros2 e localiza- se a 210 a norte da cidade de Maputo, capital da República de Moçambique, limitando-se a sul pela Localidade de Chilaulene e pelo Oceano Índico; a este pelo Posto Administrativo de Chonguene, a oeste pelo Posto Administrativo de Chicumbane, e a norte pelos rios Limpopo e Ponela.

Os números indicam que 29 porcento das casas de Xai- -Xai têm acesso a electricidade. No que diz respeito à água canalizada a percentagem desce para 60. O grande problema da urbe, de acordo com os dados a que tivemos acesso, está relacionado com a questão do saneamento com dreno e fossa. Apenas 12 porcento das residências é que dispõem deste sistema de gestão de águas negras. 50 quilómetros de estrada têm iluminação pública. Os bairros de Inhamissa e Sotoene beneficiaram da construção de 30 pontes.

Xai-Xai é uma cidade plantada ao longo da EN1 e com um potencial económico que não se pode desprezar. Ainda assim, 70 porcento da população vivem da agricultura de subsistência e o desenvolvimento insiste em abraçar apenas a estrada que liga o município aos outros pontos do país. Mas triste mesmo é olhar para o farrapo de cidade que, desfigurada pela erosão, parece fugir da urbanidade e que foi rejeitada pela higiene.

A cidade possui duas zonas distintas. Uma considerada zona alta, com solos arenosos, e outra baixa com solos argilosos. Todas elas enfrentam problemas de índole ambiental. Na zona alta, a ocupação espontânea para a construção de habitações e abertura de machambas nas dunas interiores acelera os processos de erosão pluvial e deslizamento de terras.

Na zona baixa, onde os solos têm fraca capacidade de absorção de águas devido à sua textura e proximidade do nível freático e em que a altitude está ao nível das águas do Rio Limpopo, as inundações são frequentes.

Efectivamente, o Xai-Xai profundo é uma cidade dos becos mais labirínticos que se podem imaginar, de uma geografia cujo conhecimento só é completamente dominado pelos próprios residentes e pelos amigos do alheio. E a polícia de intervenção rápida, que faz tanto estrago quanto os malfeitores da noite suburbana.

Ainda que o desenvolvimento se circunscreva à EN1 a cidade mudou para melhor, expandiu-se para além do que poderia ser previsto e controlado, sendo que por detrás desses amuralhados de casas de bloco cru cobertas com folhas de coqueiro se encontram vivendas e moradias confortáveis.

Rita Muianga, edil de Xai-Xai, fracassou num dos grandes desafios do seu mandato, que era descentralizar o crescimento da urbe. O argumento das autoridades municipais é o de que os investidores não querem estar distantes da EN1. Portanto, a zona que foi criada para o efeito continua às moscas sem que se vislumbre uma luz no fundo do túnel.

Nas recentes cheias que se abateram sobre a zona sul do país, a zona baixa da cidade, onde se encontra a instalação municipal, ficou inundada e, por alguns dias, não foi possível trabalhar naquele lugar. Uma situação que irá prevalecer sempre que as águas determinarem e enquanto o homem for incapaz de conter os danos causados pela natureza.

Mas não é só das chuvas que Xai-Xai se ressente. A erosão na zona alta também é um problema. Foi desenhado um plano para conter o fenómeno, mas a edilidade reconhece que se trata de algo para o qual não reúne capacidade financeira. Na verdade, a actual execução do plano municipal no que diz respeito ao combate à erosão é apenas uma espécie de gota de água no oceano.

Mercado Limpopo

O dia ainda não se decidiu a nascer, o vento desliza pelas ruas, aquieta-se nas bermas das paredes de zinco, assobia nos charcos de água suja. São seis e picos da manhã quando uma porta, desengonçada pelo uso e pelo tempo, se abre. Do outro lado está Lulu, Lúcia Sigaúque no assento de nascimento. Ela desconhece aconchegos, o sol abrasador é a mais doce de suas penas. Tem 54 anos e uma bacia entre os braços. Agora é hora de partir para vender na parte descoberta do Mercado Limpopo.

A receita do negócio de hortícolas garante o sustento da própria e de mais cinco pessoas: três filhas, a mais nova com 24 anos, e dois netos, que já andam na escola. “A vida não está nada fácil.” Lulu é mulher de fibra, não alinha nos queixumes da velhice nem disputa doenças com as vizinhas, mas pedir-lhe para falar do seu trabalho abala-lhe a estrutura. Os olhos lacrimejam ligeiramente.

“Não está nada fácil”, repete. Há mais de 21 anos o sonho das minas levou-lhe o marido, não se sabe para onde. Há dez anos, perdeu o emprego como doméstica. Foram 26 anos de labuta em casa de uns suecos e depois nada: os dias vazios, o retrato de um homem na parede como que a dizer-lhe: anima-te. “Olhe, sabe o que faço? Ando sem parar, para tentar vender tudo.”

A história de Lulu é comum nas mulheres de Xai-Xai. É mais fácil contar as que não têm o parceiro no país vizinho. O Mercado Limpopo foi objecto de uma reabilitação, mas o lugar onde Lulu e outras mulheres ganham a vida não mereceu a atenção da edilidade. Na verdade, podemos dizer que os dois espaços partilham apenas o nome e pouco mais.

Educação

O investimento no sector tem estado a crescer, e foram construídas duas escolas e reabilitas mais 10 nos últimos cinco anos. Os munícipes, contudo, reclamam da falta de livros na única biblioteca que existe na urbe. Os dados indicam que estão registados 1200 professores. No que diz respeito à alfabetização de adultos, existem 33 centros, com uma frequência de 4200 pessoas. Efectivamente, 61 porcento dos habitantes de frequentaram algum estabelecimento de ensino.

Habitação

O tipo de habitação predominante é a palhota com pavimento de terra batida, paredes de estacas ou caniço com cobertura de zinco, o que representa 54 porcento das casas de Xai-Xai. As moradias de madeira e zinco em termos estatísticos significam 4 porcento. As de bloco e tijolo totalizam 33 porcento das residências da urbe.

Saúde

O município está dotado de quatro unidades sanitárias. O hospital de Xai-Xai conta com uma maternidade. O tempo médio de espera, calculado pelo @Verdade, é de uma hora e oito minutos. Em conversa com os munícipes, constatámos que o maior problema que enfrentam é a falta de medicamentos.

“O hospital não tem tudo e comprar na farmácia é muito caro”. Outro problema prende-se com a exiguidade de centros e postos de saúde. Para um município com 12 bairros e 115 mil habitantes, três centros e dois postos de saúde são muito pouco para responder à demanda.

 

Xai-Xai possui um legado histórico único

De acordo com a Portaria nº 263 de 11 de Dezembro, em 1897, após a ocupação colonial, foi designada “cabeça de distrito”, uma medida que tinha como objectivo a abertura de estabelecimentos comerciais como forma de os colonos aproveitarem o seu potencial produtivo.

Antigamente, era conhecida por povoação de Chai-Chai. Volvidos 14 anos, foi elevada à categoria de Vila por Decreto de 27 de Outubro de 1911. No entanto, o regime colonial, insatisfeito com a designação de “Chai-Chai”, a qual evocava a memória de um dos régulos que se notabilizou na resistência à dominação estrangeira, alterou o nome para “Vila Nova de Gaza”.

A 2 de Fevereiro de 1928, o regime colonial impôs a denominação de “Vila de João Belo”. Por ocasião da visita do então Ministro do Ultramar, Adriano Moreira, a 7 de Outubro de 1961, a Vila de João Belo foi elevada à categoria de cidade e manteve o nome colonial até à independência nacional, altura em que o Governo moçambicano decidiu resgatar o nome Xai-Xai.

Em 1998, conhece o seu primeiro governo eleito, a par da introdução das autarquias locais no país. No ano de 2004, a cidade foi a primeira a escolher uma mulher para o cargo de presidente de uma cidade com a categoria de capital provincial.

O distrito de Xai-Xai

O distrito de Xai-Xa, atravessado pela Estrada Nacional número 1 e com uma população estimada em 115.752 habitantes (segundo dados estatísticos de 2008), distribuídos por 23 mil agregados familiares, ocupa uma área de cerca 131 quilómetros quadrados. Há mais mulheres (54 porcento do total da população) que homens neste ponto do país.

Apesar do seu potencial agrícola e turístico, o distrito debate-se com problemas de diversa índole. Até há pouco tempo, o abastecimento de água era feito através de cinco sistemas para a cidade e 140 furos, dos quais 63 operacionais, para o resto do distrito. Apenas 7 porcento da população do distrito de Xai-Xai têm acesso a água canalizada no domicílio, 48%obtêm-na fora dele, 21% têm acesso a um fontanário e 8 porcento bebem água de poços a céu aberto.

A electricidade ainda é um sonho para muitas famílias. Em alguns bairros, o acesso a corrente eléctrica ainda é precário. Cerca de 71 porcento da população do distrito têm no petróleo de iluminação a sua principal fonte de energia na habitação. Quanto a unidades sanitárias, existem cinco (um hospital provincial e três centros de saúde).

Município de Xai-Xai em números

Vereações: 4

Cobertura de energia: 29

Petróleo como fonte de iluminação: 71 porcento

Furos de água: 140

Furos operacionais: 63

Água no domicílio: 7 porcento da população; 8 porcento bebe água de poço a céu aberto

População vulnerável e em estado de insegurança alimentar 12 porcento

Fundo de Compensação Autárquica: 13,391.57 meticais

Investimento Autárquico: 7,644.27 meticais

Despesas: 21,090.84 meticais

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