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A luta pelo estilo na Alemanha Oriental

Na Alemanha Oriental, que integrava o antigo bloco comunista dos anos 1980, quase todas as roupas disponíveis eram produzidas em massa sendo mais funcionais que estilosas, deixando pouco espaço para a individualidade e a expressão pessoal. Mas, de acordo com mostra apresentada em Berlim, “por baixo dos panos” havia todo um mundo alternativo vibrante oferecendo não apenas alternativas na moda, mas também uma forma de se rebelar contra o regime opressivo da República Democrática Alemã (RDA).

Era um mundo diferente, à prova das autoridades comunistas. Para os organizadores da mostra “In Grenzen Frei” (Liberdade Dentro das Fronteiras), em exibição no Museu de Artes Decorativas Kunstgewerbemuseum, na capital, essas roupas “dissidentes” representavam uma pequena mais valiosa contribuição para a pacífica revolução que derrubou o Muro de Berlim que completa 20 anos em novembro deste ano.

“A subcultura de moda tornou real a liberdade, muito antes da queda do Muro de Berlim”, diz um cartaz na exibição. Uma das curadoras de mostra, Grit Seymour, lembra este período da história com horror. Como estudante de uma faculdade de moda na Berlim Oriental expulsa por “motivos políticos”, em 1986, ela conseguiu se libertar das amarras do sistema e se transformar em uma estilista de sucesso internacional. “Não existia a menor possibilidade de nos vestirmos com roupas compradas em lojas,” comenta Seymour.

Sua inspiração vinha da “Sybille”, uma revista de moda da RDA com roupas muito mais interessantes, mas que não estavam disponíveis para as massas, por serem muito caras ou nunca produzidas antes nos países da Cortina de Ferro. A revista, apesar disso, incluía moldes e instruções de como costurar estas roupas, se alguém conseguisse encontrar material para isso.

Fotos da revista “Sybille” fazem parte da exibição e réplicas dos moldes estão disponíveis na loja do museu. “Sybille para nós era como um sonho, sonho impossível, que não poderia virar realidade… Existiam 200.000 cópias publicadas, mas cada revista passava pelas mãos de pelo menos 10 pessoas”, diz Seymour. Havia também pequenas lojas, que ofereciam roupas de estilistas vindas de Paris, como o norueguês Per Spook, e o francês Daniel Hechter, mas elas não eram baratas. “Um par de calças de couro, por exemplo, se eu comprasse diretamente custaria 1.100 marcos, ou mais de um mês do salário de um trabalhador comum”, disse Seymour.

A moda ocidental existia como para nós como num outro mundo muito mais excitante. — Resistência através da recusa — O escritor Alexander Kuehne, por exemplo, lembra de ter ficado extasiado com um artigo de uma revista da Alemanha Ocidental sobre a “Nova cena romântica de Londres”. “Os personagens tinham rostos pálidos, mortiços… As fotos mostravam uma intensa decadência, um sentimento que crescia mais e mais em mim”, diz Kuehne em um livro que acompanha a exibição.

Inspirados, Kuehne e seus amigos procuraram por toda parte roupas e acessórios para recriar o look de “novo romantismo” de bandas como Adam and the Ants e Spandau Ballet, usando ataduras de kits de primeiros-socorros e realizando “happenings”. “Cabelos com gel, vestidos de noite e grossos casacos com colares de pele tomaram, por uma noite, 500 metros quadrados desta mortal e entediante república”, diz Kuehne sobre uma noite em especial. Existiam até mesmo desfiles secretos e avant-garde organizados por grupos que apareciam com nomes como “Allerleirauh” (“Todas as formas de Pele”) e “Chic, Charmant und Dauerhaft” (“Chic, Charmoso e Duradouro”) ou “Omelette Surprise”.

Os vídeos destas loucas e selvagens noites, tendo como público-alvo mulheres, como homens presentes apenas como modelos ou porteiros, estão presentes na mostra “In Grenzen Frei”. “Vim da cena punk, e nós tínhamos uma forma de quase confronto para lidar com o Estado, mas encontrei pessoas que faziam as coisas de forma completamente diferente”, diz Henryk Gericke, um dos organizadores da mostra.

“Esta era uma forma de resistência completamente nova para mim, era uma forma de resistência através da recusa.” Gericke, que fez um filme sobre a cena punk da RDA chamado “Too Much Future” (Muito Futuro), inspirado na música “No Future” dos Sex Pistols, diz que “apenas ignorar o Estado” ajudou na queda do regime, em 1989. “Eu definitivamente acredito que o punk fez com que uma série de coisas fosse possível, do meio dos anos 1980 em diante, e outros grupos usaram isso”, diz Gericke. A exibição vai até 13 de setembro.

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