Parece que a liberdade de expressão plasmada na nossa Lei-mãe (ainda) é desconhecida por uma, senão a maior, parte dos moçambicanos. O contexto no qual o país viveu após a independência e o medo de perseguições apresentam-se como as possíveis causas desta realidade.
Em Chókwè, para onde a nossa equipa de reportagem se dirigiu a fi m de aferir o nível de desenvolvimento do distrito e do regadio, enfrentámos difi – culdades para colher declarações dos agricultores sobre as difi culdades e os problemas que o sector (da agricultura) atravessa alegadamente porque temiam represálias das autoridades, sem, no entanto, as mencionar.
Estes dizem que a situação em que se encontram (de pobreza) não lhes permite emitir opiniões sobre quaisquer situações ou acontecimentos, pois isso torná-los-ia alvos de perseguições dos possíveis envolvidos ou protagonistas, principalmente quando o assunto é sobre política.
No seu entender, os políticos não gostam de ser criticados e, quando tal acontece, fazem o uso do poder que a política lhes confere para reprimir quem quer que seja.
Porém, o que nos chamou a atenção foi o facto de alguns produtores do regadio de Chókwè terem dito, em tom de desabafo, que já tinham prestado declarações a vários órgãos a pensar que, com isso, a situação em que se encontram iria mudar – para melhor – mas que, passado algum tempo (meses, anos), nada se tinha alterado, daí a sua “aversão” a jornalistas.
Os que falaram não quiseram ser identifi cados. Estes foram mais longe ao afi rmar que a liberdade de expressão não existe e que os jornalistas estão ao serviço da política, ou seja, tudo está ligado à política. “Isso é mentira, qual é a pessoa que vocês conhecem que não está ligada ao Estado?”, questionou um deles, o que denota a confusão que ainda existe no seio dos moçambicanos entre a política e o Estado.
Verdade ou não, urge refl ectir sobre, primeiro, o papel da comunicação social, porque esta situação pode induzir à ideia de que a classe jornalística moçambicana não está a cumprir um dos seus papéis, que é promover mudanças. Não estar a cumprir o seu papel talvez não seja a forma apropriada de expressar o que se passa, mas que talvez os políticos não estejam a olhar para a comunicação social como um sector importante para o desenvolvimento do país e elo de ligação entre o povo (governados) e o Governo (governantes).
Segundo, é importante procurar saber se, realmente, as tais perseguições existem ou se é apenas um sinal de que alguns moçambicanos (ainda) não têm noção de que o (actual) contexto histórico não é o mesmo que o do passado. Não é possível que alguém não queira dar a sua opinião ou falar das suas difi culdades só porque tem medo da reacção dos políticos. Será que os moçambicanos têm a noção da existência da liberdade de expressão?