Em Nampula, o representante da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), o escriba Mário Semedo, considera que os jovens locais não manifestam interesse em relação à compra e consumo de obras literárias. Em resultado disso, os níveis de ignorância tendem a aumentar.
Aos 51 anos de idade, o escritor moçambicano Mário Semedo é o representante da AEMO em Nampula há quatro anos. A par da actividade literária, este homem dedica-se ao recital de poesia, ao desenho e à pintura
Começou a interessar-se pela literatura influenciado pela música brasileira. Fazia a transcrição da música. Com uma relação com as letras que se inicia desde os tempos da escola, aos 14 anos de idade, Semedo recorda-se afirmando que “ganhei uma maior habilidade através dos versos que escrevia nas cadernetas a fim de ser elogiado. Eu queria continuar naquela arte. A partir daí comecei a escrever poemas e a declamar em eventos festivos da escola e da praça”.
No princípio, além de se interessar pela escrita poética, Mário Semedo aprendeu a tocar guitarra – o que lhe deu maior motivação para recitar os seus próprios textos. Participava em cerimónias culturais que arrastavam multidões. Nos eventos realizados em Nampula, mormente na cidade, o escritor era convidado, recorrentes vezes, para realizar as suas actuações, impressionando os dirigentes políticos.
Actualmente, Semedo tem poemas escritos em português, inglês, alemão, francês, macua entre outras línguas. Os seus versos são satíricos; no entanto, possui uma lírica de intervenção social. O artista gostaria que se publicasse, primeiro, o romance com o título “Um passo incerto”, na medida em que, para si, este género é mais procurado no mercado do que a poesia.
O segundo livro chama-se “Onze irmãos do primeiro de Janeiro”. Tal texto retrata a história de igual número de irmãos, todos nascidos no referido mês. A terceira obra intitula-se “O Cabrito come onde está amarrado”. É com base nele que o escritor explica a governação do Presidente Joaquim Chissano na sua época.
Num outro desenvolvimento, a par do movimento literário local, Mário Semedo lamenta a escassez (ou quase inexistência) de empresários interessados em apoiar o desenvolvimento da literatura. Está relacionado com esta realidade o facto de até agora o escritor não ter publicado nenhum dos seus sete livros.
“Quando pedi apoio financeiro para a publicação das minhas obras, todos os agentes económicos locais – desconfiados da possível falta de retorno sobre o investimento feito – recusaram- se a patrocinar o seu lançamento”.
É por todas estas razões que o escritor, sem livro publicado, considera que na província de Nampula a literatura está a murchar porque – nos últimos tempos – tem sido muito difícil encontrar um jovem na biblioteca a ler um livro ou uma revista. A sociedade está a esquecer-se do papel da leitura.
De acordo com Semedo, os jovens que vão às bibliotecas nunca escolhem publicações como revistas, romances, contos e ou obras poéticas. Eles limitam-se unicamente à literatura científica em cumprimento das orientações vindas da escola.
“Os jovens actuais não gostam de ler obras literárias porque a maior parte deles passa o tempo nas diferentes redes sociais. Eles não se preocupam em investigar ou conhecer os conteúdos que constam num determinado livro. Esta situação associa-se ao desenvolvimento da informática”.
Promover o gosto pela leitura
Desde o ano passado, a Associação dos Escritores Moçambicanos – ao nível da província de Nampula – desenvolve uma campanha de sensibilização e mobilização para incentivar a leitura, que se realiza nas escolas secundárias.
Semedo, que está na direcção da iniciativa, afirma que o projecta está a trazer resultados bons, prevendo-se que ainda este ano o mesmo passe a abranger outras escolas sedeadas naquela cidade.
“No ano passado, os pais e encarregados de educação das crianças com quem trabalhámos pediram para que continuemos com este programa, alargando-o a outros estabelecimentos de ensino porque está a estimular o hábito da leitura nas crianças e jovens abrangidos”. No aspecto da divulgação, a iniciativa também é promovida pelas rádios comunitárias, contando ainda com o apoio da Direcção Provincial de Educação e Cultura.
Há um défice de membros
Há cerca de quatro anos, Mário Semedo dirige a Associação dos Escritores Moçambicanos em Nampula. Falando sobre a sua experiência, o escritor afirma que o trabalho é árduo porque implica investir o tempo a cuidar dos interesses dos agremiados em detrimento dos pessoais. Mas o principal embaraço – nos programas que o dirigente pretende implementar – é o facto de a juventude local não apreciar a literatura.
“Não é fácil dirigir esta associação porque a maior parte das pessoas não gosta da literatura. De qualquer modo, para não ficarmos paralisados, estamos a interligar a literatura a outras formas de arte como, por exemplo, o desenho, o ensinamento da língua e a capoeira”.
De acordo com Semedo, há um défice de membros na Associação dos Escritores Moçambicanos, ao nível de Nampula. O mesmo regista-se devido à falta de incentivo aos associados e, sobretudo, à inexistência do espírito de associativismo na camada juvenil. É que “os jovens actuais querem ocupar lugares onde ganham algum valor para poderem sustentar as suas famílias. Como a nossa agremiação não dispõe de dinheiro, os jovens que aparecem afastam-se depois”.
Segundo Semedo, em Nampula há mais declamadores de poesia do que escritores. Por essa razão, “nós, como AEMO, tentamos sensibilizá-los para ingressarem na nossa agremiação a fim de que possam melhorar nalguns aspectos ligados à literatura, apostando na escrita de obras originais. O problema é que eles rejeitam os convites”.