Aproveitando-se da aposta nas tecnologias de comunicação e informação que está a caracterizar a sociedade nos últimos anos, Fernando Cuambe esmera-se em torná-las mais acessíveis aos seus concidadãos. Para já, Machava-Sede é o bairro prioritário para este “madgermane” que devia ser um exemplo a seguir por todos os outros.
Quando se pensa num antigo trabalhador da extinta Alemanha do Leste, que imagem lhe vem à cabeça? Com certeza a de uma pessoa descontente, sem perspectivas e frustrada, sobretudo com os dirigentes da sua pátria, alegadamente porque “roubaram”o dinheiro que lhe era descontado nos tempos em que labutou naquele país europeu. De facto, muitos “madgermanes” levam uma vida penosa, são desocupados e passam o tempo no jardim da Liberdade, na capital do país, à espera das quartas-feiras para mais uma manifestação semanal.
Todavia, nem todos são assim. Esta semana conhecemos Fernando Cuambe, um “madjermane” empreendedor e exemplar, de 44 anos de idade, criativo e com um amor-próprio de fazer inveja e que lhe permite encarar o futuro com optimismo. Cuambe nasceu no bairro da Machava, município da Matola, província de Maputo, tendo, à semelhança de muitos dos seus compatriotas, ido trabalhar na extinta República Democrática da Alemanha (RDA).
“Depois de cumprirmos a nossa missão naquele país, regressámos às origens. Mas, antes disso, comprei umas máquinas fotográfi cas e outra para revelar fotos. A ideia era criar o meu próprio negócio”, conta e depois acrescenta: “Ter um estúdio de fotografia era o meu sonho de infância”.
Na terra, inspirado pela cultura europeia e a facilidade com que as coisas decorrem por lá, ao invés de enveredar pelo caminho dos companheiros, decidiu seguir a sua rota. Bateu portas, firmou parcerias, tentou por todos lados, mas a vida não lhe sorriu como previa.
O negócio era insustentável e a pouco e pouco o seu sonho ruia como um castelo de areia. Antes que fosse tarde apostou noutras actividades optando pela venda de bebidas alcoólicas e refrigerantes, no mercado da Machava-Sede, corria o ano de 1993. Só que, tal como no primeiro, neste negócio também se deu mal. Desanimado, preferiu largar tudo e procurar um emprego.
Fez-se luz
Em pouco tempo conseguiu um lugar numa fábrica da Matola, onde trabalhou apenas dois meses até receber a proposta de uma outra empresa. Foi nessa firma que conheceu uma das pessoas que o marcou profundamente: o antigo ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Hélder Muteia que, impressionado com os seus dotes na fotografi a, viu nele um diamante por lapidar e convidou-o a trabalhar numa revista do Ministério da Administração Estatal.
“Aquela proposta veio mesmo a calhar. Passei a trabalhar na área das fotografias e era como se estivesse a resgatar o meu velho sonho”, conta. Ao todo foram 15 os anos que trabalhou com o antigo ministro da Agricultura, cinco dos quais na revista.
“Foram os meus tempos de ouro. Viajei muito em trabalho pelo país, conheci gente e culturas. Para aperfeiçoar cada vez mais o meu trabalho, o antigo ministro matriculou-me num curso intensivo de fotografi a num dos antigos jornais da nossa praça”.
Começar por baixo
Algum tempo depois de o ministro cessar as suas funções, Fernando Cuambe viu-se outra vez desempregado. Em 2006, um tio seu que permanecera na Alemanha veio ao país de férias. Um dia em conversa, o tio perguntou o que Cuambe gostaria de fazer. Sem pensar duas vezes, respondeu: abrir um estúdio de fotografi a e quiçá fornecer serviços informáticos. O tio, que não dispunha de meios na altura, voltou à Alemanha sem satisfazer o desejo do sobrinho, mas levou consigo o pedido.
Quando Cuambe já estava desesperado, um ano depois, o tio ligou a perguntar se o projecto ainda se mantinha de pé. “Respondi que sim. Expliquei-lhe sobre todo o material necessário para começar. E ele disse que a ajuda viria de uma amigo que igualmente vivia na Alemanha”, conta. Um mês depois, a encomenda chegou.
Eram duas máquinas e outros componentes informáticos já usados. O material vinha acompanhado de um valor monetário para arrendar as instalações onde ia trabalhar. “Um dos computadores estava avariado, por isso comecei a prestar serviços informáticos com apenas um. Estávamos em 2008”.
Apesar da falta de meios, o trabalho decorria sem sobressaltos. Além de imprimir e digitar documentos, fornecia outros serviços de informática, excepto o acesso à Internet. “Tudo era feito com punho de ferro e força de vontade”, recorda. Impressionado pela capacidade de gerir as coisas, em menos de três meses, o benfeitor, através do tio, enviou 12 computadores.
“Alguns montámos e estão a ser muito úteis para acelerar o trabalho, mas outros servem para revender e apetrechar as nossas instalações”.
Satisfeito e optimista com o decorrer das coisas, Cuambe diz que durante dois anos juntou dinheiro com o fito de comprar um espaço próprio, um exercício que se arrastou por cerca de três anos. “O arrendamento estava a custar-nos caro, por isso comprámos no ano passado as nossas próprias instalações, num lugar onde funcionava uma barraca vocacionada à venda de bebidas alcoólicas. “Tive que pagar pelo espaço físico e pelas infra-estruturas, o montante foi de 550 mil meticais, sem nenhuma dívida por liquidar”, diz.
A obra ganha corpo
Enquanto conversávamos, as obras de reabilitação da antiga casa de pasto para um centro de formação e de aquisição de conhecimentos estavam a ganhar corpo. Enquanto decorrem os trabalhos, uma parte das instalações foi previamente preparada para continuar com a prestação de serviços, desde a impressão, passando pelas fotocópias, até os serviços de Internet café.
O centro informático em alusão foi baptizado com o nome de Obede Computer, numa clara homenagem, segundo a fonte, ao homem que de boa vontade materializou o seu sonho e continua a fazer o devido acompanhamento à evolução deste empreendedor. “O meu grande desafio era ter um lugar próprio, uma vez conseguido, tenho as atenções viradas para os consumíveis informáticos”
Fernando Cuambe disse que depois de concluídas as obras de reabilitação e de remodelação das instalações, vai apostar bastante no apetrechamento da sua empresa provedora de serviços informáticos. “O meu grande desafio era ter um lugar próprio, uma vez conseguido, tenho as atenções viradas para os consumíveis informáticos.
Se tudo correr bem, ainda este ano vou comprar mais computadores para a sala de informática, máquinas fotocopiadoras e impressoras, o que vai contribuir para o crescimento da Obede Computer. “A nossa meta é estar à altura de satisfazer as pessoas que, vindas de vários e diferentes lugares, procuram os nossos serviços”, assegura.
O pequeno empresário e empregador
A nossa fonte afiançou também que uma parte das suas instalações será arrendada. “Já tenho alguém que pretende abrir uma farmácia num dos apartamentos da minha pequena empresa”, comenta para acrescentar que o seu inquilino está a encarregar-se da reabilitação e remodelação da parte que vai ocupar, o que sobremaneira vai condicionar os pagamentos pelo arrendamento, ou seja, o dinheiro aplicado nas obras será descontado.
Fernando Cuambe é um pequeno empresário que promete muito. Segundo fez saber à nossa reportagem, a sua renda mensal ronda aos trinta mil meticais; uma parte da receita vem dos serviços prestados como a impressão de documentos, fotocópias e Internet, e outra do curso de informática, que em média conta com 10 cursantes, que são formados nos mais variados pacotes informáticos.
Este empreendedor, cuja instituição funciona em frente à Escola Secundária da Machava-Sede, emprega uma equipa de sete trabalhadores jovens. “Dantes eu encontrava-me atrás do mercado da Machava-Sede, um lugar muito escondido. Agora estamos a funcionar em frente a uma escola e numa estrada bastante movimentada. Portanto, operamos num lugar estratégico”, termina.