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SELO: A Frelimo matou Gilles Cistac – escrito por Mahadulane

A morte de qualquer ser humano deve indignar a sociedade, sobretudo se tal não resulta de causas naturais. Até os nossos animais de estimação quando são atropelados ou mortos na via pública provocam remorsos nas nossas mentes. Mesmo quando os perigosos cadastrados são abatidos durante a troca de tiros com a Polícia, a sociedade indigna-se e defende o direito à vida, sendo o uso da arma de fogo o último recurso em caso de iminente perigo.

A morte de uma pessoa da dimensão do Professor Gilles Cistac, pela forma como ocorreu, levanta várias questões sobre o país que queremos construir. O móbil do crime é, unicamente, o seu posicionamento em relação à pretensão da Renamo de apresentação do anteprojecto de criação das “regiões autónomas” nas províncias que diz ter ganho nas últimas eleições gerais. Os pronunciamentos que giraram à volta da sua opinião e todo o aparato político criado fazem crer que a sua morte tem, claramente, motivações políticas.

Há dias acompanhámos um caso semelhante na Rússia. Mas a Rússia não é um bom exemplo de democracia e nós somos uma referência nessa matéria em África. Estamos a correr um sério risco de regredir. Já foi um jornalista, um economista e, hoje, é um jurista cujo reconhecimento pelo seu trabalho é inquestionável.

O sistema colonial português não permitia que os moçambicanos estudassem exactamente para não entenderem as leis, os seus direitos e as suas liberdades. A Frelimo libertou a terra e os homens, instituiu a democracia e o pluralismo de ideias, incentivou o diálogo, a crítica e a autocrítica com vista a garantir que os cidadãos gozem dos seus direitos consagrados na Constituição. Curiosamente, nos últimos anos, a mesma Frelimo mandou alguns dos seus membros para encherem os espaços de debate nos órgãos públicos de comunicação social para diabolizarem o pensamento diferente.

A Frelimo é autora moral do assassinato do Professor Cistac, pese embora isso não signifique que seja mandante. Foi a Frelimo que reagiu mal à interpretação do texto constitucional por parte do malogrado e foi a mesma Frelimo que despachou as suas brigadas centrais para as províncias e distritos a fim de apregoar que a autonomia reivindicada pela Renamo significava a divisão do país.

Foi a Frelimo que permitiu que os seus membros internautas fizessem graves acusações ao renomado académico, o que pode ter causado sentimentos de ódio e de radicalismo a que mais tarde assistimos. Em nenhum momento a Frelimo repreendeu os seus membros por causa dos posicionamentos que tomavam na Imprensa e nas redes sociais.

Foi a Frelimo, enquanto partido dirigente do Governo que administra o Estado, que negligenciou a queixa-crime que o finado apresentou à Procuradoria- Geral da República (PGR) por não ter criado condições para a sua segurança e integridade física, mesmo depois de ter apresentado evidências de estar a ser ameaçado.

Foi a Frelimo que se manteve calada perante o clamor de toda a sociedade moçambicana pelo sucedido. Vimos académicos, jornalistas, dirigentes dos partidos políticos da oposição, juristas e demais cidadãos a solidarizarem-se com a família de Cistac e a repudiarem o crime macabro. Mas a Frelimo manteve-se distante. O único membro proeminente da Frelimo que esteve no Hospital Central de Maputo (HCM) é o Doutor Teodoro Waty. Porém, este esteve como jurista e não em representação ou a mando do seu partido. Nem o secretário-geral do partido, que visitava o distrito de Marracuene, se pronunciou a respeito do assassinato. Se ele o fez, a Imprensa omitiu.

É a Frelimo cujo Governo ainda não anunciou a criação de uma comissão específica, que integre técnicos da Polícia de Investigação Criminal (PIC), PGR e outros especialistas, para investigar este crime hediondo. É a mesma Frelimo cujo Governo não decretou luto nacional pelo sucedido.

A morte de Cistac põe a nu a distância existente entre o discurso de inclusão e a prática de discriminação. A sociedade está revoltada. Os autores morais e materiais estão cabisbaixos e envergonhados. O mensageiro foi eliminado, mas a mensagem continua e vai vincar.

Mahadulane

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