
Em 1994, o Governo do meu país introduziu um programa chamado “Educação Primária Gratuita”, mas mesmo assim só 40% das crianças completam o ensino primário e 90% dos adolescentes não completam o secundário. Mais de metade das crianças – um milhão e 400 mil – são órfãos de SIDA. O meu país está entre os dez do mundo com o maior número de infectados por esta doença. 14% da população adulta estão infectados. Eu sei bem o que é isso: na minha família 14 membros já morreram de SIDA, incluindo o meu pai e duas das minhas irmãs. O SIDA é uma praga no Malawi. No meu país as crianças que ficam sem pais ficam muito frágeis. Os avós não têm capacidade para tomar conta delas. Não há dinheiro, não há comida, não há roupas. Só pobreza e miséria.
Em 2002, quando fui passar férias à minha aldeia, conheci professores e alunos de uma escola que funcionava dentro de uma igreja. Um ano mais tarde, descobri que a escola tinha que sair dali e que não havia outro sítio para ser instalada. As crianças iam ficar sem aulas por não terem instalações. Achei então que isso não podia acontecer. Disse à minha mãe para disponibilizar a nossa casa para as aulas e comecei a dar-lhes algum dinheiro. Queria que aqueles meninos não ficassem sem a escola. Queria ter a certeza de que eles faziam os trabalhos de casa e que se alimentavam bem. Não conseguia dormir só de pensar que aquelas crianças não iriam aprender mais porque não tinham escola.

Na biblioteca há somente 15 livros, mas os alunos têm muita vontade de aprender. Eu chamo a este espaço o santuário. Dei o nome de Jacaranda porque para mim esta árvore, que cresce no Malawi e em Los Angeles, está associada à esperança porque quando o meu pai estava a morrer eu encontrava consolo num jacarandá florido que via através da janela do seu quarto do hospital.
Em 2005 criei a Fundação Jacaranda com o objectivo de proporcionar uma vida melhor aos órfãos de SIDA. O primeiro projecto foi a construção de uma escola fora da minha casa destinada ao ensino secundário.
No Verão passado, com os mil dólares doados todos os meses por mim – um terço do meu salário – e com a ajuda das minhas colegas nos Estados Unidos consegui pôr de pé este sonho. Com este dinheiro pago os salários de 12 professores, do director e outras despesas correntes.
Na nova escola, inaugurada no início de 2009, cabem mais 120 alunos, o que corresponde a 350 no total. Todos têm diariamente um prato de flocos de aveia e estudos gratuitos. Para ajudar alguém não é preciso ser o Bill Gates. Basta ter vontade e fé. E eu tenho-as.”