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A dor de ser paralítico

A dor de ser paralítico

Não nasceu deficiente físico, porém, quis o destino que passasse a sê-lo. Quando criança, Cristóvão Matapa, de 21 anos de idade, caiu de uma árvore e agora vive numa cadeira de rodas. Apesar da adversidade, o jovem não se verga perante as vicissitudes da vida. Luta contra todas as dificuldades para realizar os seus sonhos.

A dor de ser deficiente físico tem um rosto. Chama-se Cristóvão Pastola Ali Matapa, tem 21 anos de idade e vive no distrito de Moma, na província de Nampula. Tem os membros inferiores atrofiados, facto que o impede de se locomover.

Ele não nasceu com deficiência física, contraiu-a quando tinha 10 anos de idade. Tudo começou depois de cair de uma goiabeira.

“Na ocasião, não contraí ferimentos, mas senti fortes dores de cabeça. Durante um mês, fui-me medicando e, quando as dores de cabeça passaram, comecei a senti-las nas pernas”, conta. Devido a estes problemas, teve de interromper os estudos.

Porque as dores persistiam, os pais tentaram tudo para ver o filho curado mas a falta de dinheiro fez com que esse sonho não passasse disso.

Os técnicos do Hospital Distrital de Moma diziam que ele tinha de ser levado para a cidade de Nampula, onde seria observado pelos médicos do Hospital Central e, caso fosse necessário, seria transferido para o Hospital Central de Maputo para dar prosseguimento aos tratamentos, o que não veio a acontecer.

“Os meus pais tentaram pedir apoio junto ao governo distrital de Moma, mas debalde. Agora estou com as pernas totalmente atrofi adas. Acho que isso podia ter sido evitado se tivesse recebido os cuidados médicos em tempo útil. Mas não atiro a culpa a ninguém, quem não tem condições está sujeito a passar por situações destas”, diz.

Um rapaz inteligente e amigo de todos, Cristóvão granjeava a simpatia de muitas pessoas. Já fez parte de várias associações, foi vendedor e tentou dedicar- -se à pesca mas a sua condição física revelou-se um obstáculo intransponível. A solução foi praticar a agricultura, que sempre foi a base de sustento da sua família, embora tenha sido por pouco tempo.

De volta à escola

Matapa é um dos jovens que lutam para atingir um nível de vida estável, e uma das formas de fazer com que isso aconteça, segundo afirma, é estudar. Não obstante tenha interrompido os seus estudos por um ano, não desistiu e voltou à escola. Actualmente, frequenta a 12ª classe, secção de ciências com Biologia, e garante que vai passar.

Por não se locomover, Cristóvão tem estado a cuidar da casa enquanto o pais e os irmãos vão à machamba durante a manhã e, no período da tarde, vai à escola. “Considero-me inteligente e tenho orgulho de estar a superar pessoas que se acham completas ou normais, as quais não raras vezes me discriminam. Mas eu não me deixo levar, sou indiferente a esse tipo de atitude”.

Uma cadeira de rodas a cair aos pedaços

Depois de ter terminado a 7ª classe e porque estava envolvido num grupo de jovens que defendiam os direitos dos deficientes no distrito de Moma, Cristóvão foi escolhido para participar num seminário na província de Sofala durante o qual, por coincidência, o Instituto Nacional Acção Social (INAS) lhe ofereceu uma cadeira de rodas. Foi um alívio para ele, pois a partir daquele dia passou a ter um meio de locomoção.

O que o preocupa agora é o estado em que a cadeira se encontra, que já clama por substituição. “Na falta do melhor, o pior serve. Pelo menos a situação em que me encontro hoje não se compara com a dos tempos passados, em que tinha de andar de joelhos. Já não dependo totalmente de terceiros para sair de um lado para o outro”.

“Além da cadeira de rodas, o meu maior sonho é ter uma bolsa de estudo. Não sei e nem conheço quem me possa ajudar. Os meus pais não têm como oferecer-me isso, seria pedir demais. Por isso quero estudar e tirar a minha família da pobreza na qual vivemos. Tenho fé de que um dia isso vai acontecer”, termina.

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