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A dor de perder prematuramente os pais

No distrito de Murrupula, província de Nampula, Norte de Moçambique, o @ Verdade encontrou duas crianças órfãs de pais. São petizes cujos princípios fundamentais estabelecidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, em particular a Declaração dos Direitos da Criança, não se observem totalmente nas suas vidas: não têm direito ao amor e à compreensão dos progenitores (biológicos). Embora os avós cuidem delas, o vazio causado pela ausência do afecto paterno e materno condiciona a sua felicidade, sobretudo quando as necessidades quotidianas obrigam a que façam trabalhos pesados e percorram longas distâncias à busca de lenha com a qual preparam os alimentos com muito sacrifício.

Laura Nalipe e Terciano Nalipe, de 8 e 4 anos de idade, respectivamente, são crianças cujos nomes não constam de nenhum cadastro oficial porque não foram registadas. Eles sabem o que é desamparo, dor da saudade e ficar dias sem comer.

O primeiro a “abandoná-los”, por imposição da morte, foi o seu pai, em 2005. Nessa altura, Terciano ainda não havia nascido porque é fruto de uma outra relação. A sua irmã Laura lembra que aprendeu a saltar à corda com o seu falecido progenitor. A menina recorda ainda que quando os seus pais morreram ela e a irmã tiveram muita dificuldade em ingressar no Sistema Nacional de Educação (SNE).

A avó, Mariamo Ussene, de 49 anos de idade, disse-nos ter testemunhado esse momento. Segundo as suas palavras, matricular a neta mais velha na Escola Primária Completa de Mutomote, localizada no bairro de Namutequeliua, periferia da cidade de Nampula, foi complicado porque não tinha sequer uma Cédula Pessoal nem outro documento.

Ela usou o cartão de vacinação do Hospital Rural do Distrito de Murrupula, onde viviam com a mãe antes de esta perder a vida, em 2012, vítima de uma diarreia aguda, enquanto tratava do registo de Laura e de Terciano, estando hoje ainda a cuidar daquele processo.

Apesar da fome, Laura tem sonhos

Quando a mãe das crianças morreu, elas permaneceram no distrito de Murrupula, onde vivam desamparadas. A avó materna foi buscá-las a fim de passar a cuidar delas na cidade de Nampula.

Entretanto, não tem sido fácil garantir a sua alimentação e satisfazer outras necessidades básicas devido ao elevado custo de vida. Todas as manhãs as petizas queixam-se de fome, mormente nos dias em que ficam sem o que comer.

O marido da Mariamo Ussene é funcionário do Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG) mas o seu salário não cobre as despesas da casa nem assegura pelo menos duas refeições durante o dia. Laura Nalipe disse ao @Verdade que a sua avó faz um grande esforço para que elas não durmam sem comer algo, mas nem sempre isso tem sido possível.

Ela frequenta uma escola que fica a aproximadamente cinco quilómetros da sua casa. Entra de manhã e vai a pé todos os dias. O seu maior desejo é ter a oportunidade de prosseguir os estudos de modo a ter um futuro melhor.

Uma vida de sacrifícios e uma infância sem carinho

Num outro desenvolvimento, Laura confessou que a vida que leva em casa da sua avó é até certo ponto dura. Os trabalhos de casa são executados por ela e sem o apoio de ninguém.

Todos os dias a rotina é a mesma: acordar cedo, fazer as limpezas, lavar a loiça e pilar a mandioca com a qual se produz a comida para o almoço. Às vezes, quando houver dinheiro, compra-se farinha de milho. Felizmente, contou a menina, no quintal da casa há água canalizada.

Logo pela manhã enche os reservatórios, o que lhe poupa das distâncias que as outras mulheres e crianças da sua idade percorrem para irem acarretar o precioso líquido. Ela só faz isso em casos de crise no bairro.

Apesar dessa “mordomia”, ela não escapa do machado porque deve rachar lenha com a qual confeccionam os alimentos. Utilizam também carvão vegetal, mas quando este esgota não tem sido fácil comprá-lo devido ao custo deste tipo de combustível.

Enquanto isso, a lenha que usam é trazida de algures distante de casa. “Não tenho tempo para brincar com as amigas. A minha infância está a passar e tornei-me adulta e responsável muito cedo, diferentemente das outras crianças”, desabafou a pequena Laura.

Todavia, afirmou que não tem muitos motivos para reclamar porque os mimos dos avós não podem ser comparados com os que os pais dão aos filhos.

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