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A “Conversão” valoriza o inútil

Na sua nova exposição colectiva de instalação, pintura e escultura, inaugurada na última quinta-feira (12), no Instituto Cultural Moçambique-Alemanha (ICMA), os cinco artistas, dos quais quatro moçambicanos e um holandês, Bata, Fiel Santos, as gémeas Nelly e Nelsa Guambe e Ab Oosterwaal, ou simplesmente Piratas do Pau, respectivamente – além de abordarem um tema popular e transversal, em que nos exortam à valorização da nossa metrópole e, consequentemente, a desenvolver capacidades artísticas com objectos supostamente inúteis – decidiram partilhar com o público os resultados das suas experiências. A mostra chama-se Conversão e poderá ser vista até o dia 12 de Abril.

Não é obra dos acasos que, desde os finais de 2014, os cinco artistas estejam a preparar a Conversão. A boa-nova é que, desta vez, conseguiram. Por essa razão Jorge Fernandes, curador do trabalho, afirma: “O processo de transformar produtos ou materiais no seu fim de vida útil em algo mais valioso, como a arte, é uma poesia com uma ética expressiva. A nova vida dos objectos, criada pelos artistas, fala a língua da emoção, personalidade, filosofia e dinâmica social”.

Na verdade, se se solicitasse a qualquer moçambicano, sobretudo aos que vivem na capital do país, para falar sobre a sua experiência em relação ao lixo que, cada vez mais, se espalha pela metrópole, cremos, ninguém ousaria recusar, alegando alguma ignorância e ou indiferença. Todos, de uma forma genérica, conhecem os dilemas da imundice das nossas vias de acesso, paredes de residências, escolas, hospitais, entre outros lugares, que, sobremaneira, interferem na nossa imagem e, sobretudo, na saúde pública.

Mas, como alguns questionariam, como podemos livrar-nos desse lixo? Que formas nos garantem a preservação do meio ambiente? Para solucionar o nosso problema, se calhar, pensamos nós, haja alguma necessidade de nos aproximarmos um pouco deles para vê-los em miniatura. Pois é. A mostra de artes plásticas, composta única e exclusivamente por objectos reciclados, alguns das quais, quase místicos e abstractos, ajuda-nos a perceber e a conceber o espírito ético.

No entanto, tal como diz Jorge Fernandes, “aqui somos confrontados com uma transformação que desejamos na nossa própria vida, nomeadamente que as coisas descartáveis e inúteis ganhem significado e valor”. Por isso, “os artistas mostram que a fantasia humana não tem fronteiras se nós o permitirmos”.

E não lhe faltam argumentos: “Um artista como Bata, por exemplo, tem uma maneira diferente de ver o mundo. As coisas que nos rodeiam. Para ele, andar na rua e apanhar um pedaço de metal é o início de uma temporada de transformação. De restituição”.

De referir que na Conversão, enquanto Bata utiliza metal para as esculturas e quadros monocromáticos, Piratas do Pau transforma a madeira usada nos mobiliários. Nelly e Nelsa Guambe criam moda com roupa de segunda mão, comummente chamada “calamidade”. Por fim, Fiel dos Santos trabalha de diversas formas e com diferentes materiais.

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