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A arte maconde na eminência de desaparecer em Nampula

Os escultores e praticantes da arte maconde, na província nortenha de Nampula, aventam a hipótese de a arte maconde poder nos próximos tempos desaparecer devido, por um lado, à escassez de madeira provocada por exploração desenfreada em toros e, por outro, à falta de compradores dos produtos por eles produzidos.

Esta informação foi nos fornecida pelo responsável adjunto da Galeria Arte maconde, localizada no Museu Nacional de Etnologia, na cidade de Nampula, Samuel Celestino, que refere que, nos últimos dias, para encontrar madeira de pau-preto é preciso percorrer longas distâncias, facto que não acontecia há cinco ou dez anos.

Samuel Celestino afirmou que, além da exploração da madeira em toros para fora do país, contribuem para a escassez do pau-preto os produtores de carvão que, todos os dias, vão realizando aquele trabalho, que, além de fazer desaparecer a espécie, provocam o aquecimento global, devido à queimada que tem vindo a realizar. Samuel afirma que teme um dia perder o seu trabalho por falta de matéria-prima, que é o pau-preto, daí que lança um apelo ao Governo no sentido de continuar a proteger a espécie e impedir a exploração desenfreada da mesma.

“Os chineses vão acabar com a nossa riqueza, o nosso pau-preto, pedimos que o Governo proteja a madeira e impeça que se carregue até raízes das árvores”, disse. O nosso entrevistado foi mais longe ao afirmar que, com o desaparecimento da madeira nas matas da província de Nampula, a situação pode desempregar centena de pessoas, que usam esta actividade para o seu auto-sustento, além de famílias que se beneficiam da tal actividade.

O adjunto gerente da Galeria Arte maconde na cidade de Nampula informou que o seu maior sonho é criar um projecto que visa produzir mudas de pau-preto e plantar em diferentes distritos da província com destaque para aquelas zonas onde houve muita exploração da referida madeira. A ideia, segundo o nosso entrevistado, é garantir que a província de Nampula tenha futuramente árvores de pau-preto de modo a impedir o desaparecimento da arte maconde, visto que, nos próximos tempos, a actividade será de grande valia.

A arte não é valorizada

O sonho e vontade do Samuel Celestino é que as esculturas por eles produzidas fossem valorizadas primeiramente aqui em Nampula, Cabo Delgado ou mesmo em Moçambique no geral, para depois passar a ser valorizadas por outros povos do mundo. Samuel assegurou que, na verdade, a arte maconde não é valorizada em Moçambique e nem pelos povos africanos, mas sim pelos europeus, asiáticos e americanos.

“Os naturais de Nampula, ou mesmo moçambicanos, nunca compram as nossas esculturas, a não ser que seja, porque alguém ou mesmo um amigo de origem estrangeira terá-lhe mandado, não porque não têm dinheiro, mas porque não dão valor ao produto nacional, e somente os nossos produtos são comprados por estrangeiros na sua maioria da raça branca”, afirma. Este ano a actividade não foi rentável Samuel Celestino disse que, o ano de 2011, a não rentabilidade do negócio de esculturas deveu-se à fraca presença de turistas oriundos da Europa e Estados Unidos de América.

Celestino explicou que na sua óptica entre 2010 e 2011, o mais produtivo foi o de 2010, pois, segundo ele, o ano passado terá produzido de Janeiro a Dezembro um valor estimado em 33 mil meticais resultado da venda de produtos produzidos com base no pau-preto contra 16 mil meticais, do presente ano prestes a terminar.

O ano passado, segundo Celestino, terá produzido mais ao menos 125 pares de brincos, 15 bustos, 10 nossas senhoras, 6 presidis e 20 caras de Maria mãe de Jesus. Aliás, a nossa fonte disse igualmente que no presente ano não conseguiu fazer a metade do que terá feito no ano passado, por um lado, devido à falta de clientes e, por outro, ao desaparecimento da madeira pau-preto.

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