Com uma saia curta e justa, cabelos desfrisados e lábios carregados de batom vermelho, Tania, 17 anos, desfila lentamente pelos longos corredores de camiões estacionados em Changara, o principal cruzamento económico da província de Tete, a noroeste de Moçambique. “Estou a passear, mas também quero arranjar um namorado”, justifica, enquanto arranja o pacote de camisinhas no bolso traseiro da saia. Órfã de pais, falecidos em 2005 por doenças relacionadas com a SIDA, Tania fala com certa amargura da difícil tarefa de sustentar os seus dois irmãos mais novos.
“Há vezes que tiro lágrimas sozinha ao pensar no que dar de comer aos meus irmãos quando amanhecer. Algumas raparigas da minha idade se prostituem para conseguirem condições básicas de sobrevivência”, revela. O distrito de Changara tem uma seroprevalência de HIV/SIDA de 18,5 por cento, acima da média nacional estimada em 16 por cento entre a população adulta.
Camionistas preferem jovens
Quase na fronteira com o Zimbabwe, Changara tem cerca de 157 mil habitantes permanentes e uma grande população flutuante: por volta de 150 camiões estacionam ali à noite, aguardando para cruzar as fronteiras do Zimbabwe, Zâmbia e Malawí, ou continuar a viagem até ao porto moçambicano da Beira, no oceano Índico. “Aqui os camionistas estacionam porque sabem que podem encontrar comida, dormida e sexo. E geralmente eles preferem fazer sexo com raparigas mais jovens”, disse ao PlusNews a “profissional de sexo” Zita, 18 anos de idade.
A partir das 18 horas, as prostitutas, algumas ainda adolescentes, começam a circular e se insinuar para os camionistas estacionados nos três longos corredores que cortam Changara. “Eu pessoalmente prefiro donzelas, porque ainda não se meteram sexualmente com muitos homens, o que reduz as probabilidades de elas terem doenças sexualmente transmissíveis”, disse o camionista Gazi Mateus, enquanto fuma um cigarro sentado junto à porta do seu camião. Já Lazaro Zungwa acha que “as donzelas são mais atraentes por causa do seu porte físico e não são muito caras, como as trabalhadoras de sexo mais adultas”.
E acrescenta: “Às vezes elas aceitam sexo sem preservativo, quando é a segunda ou a terceira vez com o mesmo homem”, disse. Mas o PlusNews encontrou pelo menos um camionista, Inocêncio Orlando, com pudores em comprar sexo de uma mulher muito jovem: “As moças mais pequenas não têm muita experiência sexual, por isso são incapazes de satisfazer sexualmente a um homem que vai para comprar sexo. Também porque me sentiria como se estivesse indo para a cama com uma filha”.
De acordo com dados oficiais relativos a 2008, dos 500 novos casos de novas infecções do HIV a cada dia no país, mais de 200 casos (42.8%) são entre adolescentes e jovens entre os 15 e os 24 anos. No seu estudo sobre o impacto demográfico do HIV/SIDA em Moçambique, o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) prevê que mais de 1,5 milhão de jovens com mais de 15 anos estejam infectados com o HIV até ao final de 2009. Uma das razões apontadas para a alta prevalência de HIV entre jovens e adolescentes está o contacto sexual de moças com homens mais velhos.
As madrinhas
Perante este cenário, em 2003, a ONG HelpAge Internacional Moçambique (Ajuda aos Idosos), que trabalha com a valorização de pessoas mais velhas, instituiu um programa de apoio aos jovens adolescentes em oito comunidades do distrito de Changara, com o objectivo amenizar a onda de prostituição, sobretudo entre as crianças órfãs. “Tivemos que direccionar um programa exclusivo às jovens adolescentes, pois aumentava o comportamento de risco entre elas e muitas prostituíam-se sob pretexto de ajudar na renda familiar”, disse Hermingarda Júlio, oficial de ligação comunitária da HelpAge na província de Tete.
O programa formou 16 idosas, baptizadas por “madrinhas”, para ensinarem a jovens entre 10 e 18 anos os métodos de prevenção do HIV/SIDA, saúde sexual e reprodutiva, além de dar habilidades às raparigas para uma vida adulta socialmente sã. Igualmente mobiliza as comunidades ligadas aos grupos vulneráveis prioritários para referenciar as adolescentes para aconselhamento e testes voluntários, educação de pares em sexualidade para mudança de comportamento e tratamento das infecções de transmissão sexual (ITS). As “madrinhas” são sempre uma professora e uma idosa histórica de cada região que trabalham com as adolescentes de oito comunidades no distrito de Changara.
Azéria Faqueiro é uma das “madrinhas” e está contente. “Felizmente temos tido resultados encorajadores, pois várias adolescentes percebem as nossas instruções e conselhos e têm sabido se cuidar de várias doenças. Poucas delas se perdem dos ensinamentos”. O programa não inclui a distribuição de preservativo entre as adolescentes, porque prega a abstinência. Hermingarda Júlio considera inestimável a contribuição das mulheres e homens mais velhos para a sociedade – como cuidadores, conselheiros, mediadores, orientadores e chefes de família. O maior incentivo para a prostituição, no entanto, é a lucratividade. As jovens ganham mais com o comércio de sexo.
“Às vezes fico sem saída para dar de comer aos meus irmãos. Tenho estabelecido pequenos negócios [venda de amendoim e massanica], mas os lucros são tão baixos”, justifica Tania. Para ela, a alternativa ideal para a prostituição seria um namorado que a ajudasse financeiramente. “Tenho procurado um homem que me possa ajudar a sobreviver e a cobrir todas as minhas despesas”, concluiu com o olhar atento ao movimento dos camionistas.