O Projecto de Melhoramento do Desempenho (PIP) das minas das areias pesadas de Moma, província de Nampula, Norte de Moçambique, está a 97 por cento, prevendo-se que a fábrica esteja a operar em pleno até ao fim deste ano.
O facto consta do relatório anual da Kenmare, a empresa irlandesa detentora do título de exploração das minas de Topuito, Moma, que indica que o desempenho daquela unidade (operacional desde 2007) subiu de 75 por cento, em Abril passado, para os actuais cerca de cem por cento. Segundo um comunicado de imprensa da “Kenmare Resources” recebido pela AIM, no segundo trimestre deste ano, a produção dos Minerais Pesados Concentrados estava 23 por cento acima da quantidade obtida no trimestre anterior. Por sua vez, a produção de ilmenite e do zircão subiram em12,2 por cento e 45 por cento respectivamente, enquanto que a produção de rutile aumentou em 158 por cento.
“Estamos satisfeitos com a conclusão virtual do Projecto de Melhoramento do Desempenho e esteve já que a nação malawiana está a braços com uma grande falta deste recurso tão importante para o desenvolvimento económico moderno. Infelizmente, até aqui, o Malawi tem estado desde há já vários anos, a ser relutante em assinar o acordo com a HCB, que o permitiria receber a energia desta mega-barragem moçambicana.
Os seus dirigentes não conseguem ver, nem acatar os conselhos que lhes são dados, de que o país sairia a ganhar muito, mesmo que tivessem que pagar o tal um milhão de dólares por mês, que agora dizem estar a poupar ano após ano, para ver se conseguem ter um acumulado que os permita fazer uma reabilitação de raiz dos seus sistemas já muito obsoletos de produção interna de energia.
Mutharika precisa saber que o povo malawiano nunca passará da tábua rasa em que tem estado desde há milénios, caso o país não passar a ter energia suficiente. Deve saber que o desenvolvimento advêm em grande parte da energia, porque para que tenha uma indústria à altura das ambições e capacidades dos seus homens de negócio, e nos de outros países que bem gostariam de investir em solo malawiano, precisam ter uma energia em quantidade e qualidade suficientes.
Precisam saber também que o desenvolvimento de uma nação – seja ela grande como a China, Índia e os EUA, ou pequena como o próprio Malawi, Singapura ou Lesotho – é em função da sua capacidade de produzir energia ou de o importar dos países que o têm, como é o caso de Moçambique que conta agora com a HCB que já fornece energia a vários países da região, entre os quais se contam a Africa do Sul, Botswana e Zimbabwe.
É um recurso tão vital que Moçambique partilha com outros, e que tudo indica terá muito mais ainda num futuro próximo, quando construir a Barragem de Mpanda Kuwa também junto do rio Zambeze. Alguns perguntarão porque é que o Malawi não se inspira então nestes países todos, que já recebem a energia da HCB, para suprir também a escassez de energia no seu território.
Uma análise fria e isenta leva-nos á conclusão de que Mutharika faz provavelmente parte dos tais líderes que padecem de tais políticas de umbigo, que os levam a não ver oportunidades e muito menos vantagens onde elas existem de facto. Não conseguem ver que o Malawi está situado numa zona abençoada em quase todo o tipo de recursos que tanta falta em outros pontos da Africa como do resto do globo.
Na verdade, apesar de que nem todos os países da SADC têm tudo que podem precisar para se desenvolver, pelo menos como bloco, têm quase tudo o que precisam, desde potencialidades agrícolas invejáveis, passando pelos recursos minerais, aquáticos e petrolíferos, até aos rios caudalosos para a produção de energia para o seu sustento, bem como para se exportar além fronteiras, bastando que haja entre eles a prática da partilha do que cada um tem a mais, com os que não tem tanto ou nada mesmo.
Um dos aspectos que mostra que esta região é abençoada pelos deuses, como bem o diz Mandela, é o facto de que até a Europa está agora a contemplar a possibilidade de construir um a megabarragem sobre o rio Zaire, na RDC, para a produção de energia, que seria depois transportada até àquele velho continente. Ora, se até a Europa, que fica tão longe, espera beneficiar duma energia produzida na região da SADC, como é que se explica que o Malawi esteja a ter falta de energia quando a tem na varanda do seu território?
Fará isto algum sentido para Mutharika? Mesmo os EUA têm os olhos postos sobre o vale moçambicano do Zambeze, porque é tido como devendo ser um dos epicentros mundiais de produção de comida no futuro, agora que muitas das zonas do globo estão perdendo as suas potencialidades agrícolas pelo desgaste dos seus solos. Todo este cenário devia levar Mutharika e não só, a tirarem proveito do que há no vizinho, e deixarem, acima de tudo, de ter receios do que devia lhes incutir mais força, determinação e mesmo emoção.
O que é lamentável, contudo, é que Mutharika não é, de facto, como já fizemos ver, o único líder da região que padece dessa visão miópica. A sua relutância em assinar o acordo com HCB é apenas um dos problemas que impede que a integração regional seja feita nos moldes e velocidade com que os fundadores desta comunidade preconizavam então. Outro assunto, talvez o maior e o que mais indecisos têm tido, tem a ver com a abolição de vistos na região, para que passe a haver livre movimento dos cidadãos da SADC de um pais para outro.
Este problema tem sido, conforme diria o Secretário Executivo da SADC, Tomás Salomão, na intervenção que fez na sessão de abertura desta cimeira de Kinshasa, um dos nós de estrangulamento do processo de integração regional. Contínuo cepticismo de alguns em abolir os vistos faz parte desses problemas que derivam da política do umbigo Uma das políticas de umbigo que instila receios infundados e que têm retardado a integração na região está sendo evidenciada pelo lento processo da abolição de vistos.
Não obstante tenha sido deliberada há já mais de cinco anos, ainda hoje há líderes da região que são cépticos em abolir os vistos para que cidadãos de cada um e todos os países membros possam entrar livremente nuns e em todos como membros da mesma e única comunidade. Isto mostra que prevalece ainda essa política de nacionalismo estreito, que leva certos líderes da região a não verem que hoje em dia, ganha-se mais com a abertura das fronteiras do que impondo restrições ao livre movimento de pessoas e bens.
Esses receios alimentadas pela falsa crendice de que abrindo as fronteiras se incorre no risco de ser invadido pelos cidadãos de outros países, verificou-se no momento em que Moçambique e África do Sul estavam para assinar, em 2005, o acordo de abolição de vistos. O acordo foi marcado por momentos um tanto quanto tensos, com a Delegação moçambicana liderada pelo Presidente Guebuza forçada a uma longa e desgastante espera em Pretória.
Valeu, na circunstância, a determinação de Mbeki e paciência de Guebuza, que acabou desafinado essa maré de cépticos, acabando por assiná-lo. Tanto quanto pude entender na altura, todos esses altos e baixos teriam ocorrido porque alguns dos dirigentes sul-africanos acorreram à última hora para dizer a Mbeki para não mais assiná-lo, porque, para eles, significaria a abertura escancarada das portas do país a uma alegada invasão pelos alegados famintos moçambicanos que, assim, teriam finalmente luz verde para entrar em massa.
Tais dirigentes agiram assim, porque era normal então a entrada ilegal no país de milhares de moçambicanos na Africa do Sul, e que eram presos pela polícia e repatriados depois. Os que receavam então que com a abolição de vistos essa entrada em massa iria agravar ainda mais, cometiam o erro de não perceber que esses moçambicanos que entravam ilegalmente, o faziam porque era lhes recusado o visto ou não tinham dinheiro para pagá-lo.
Esses que receavam a invasão pelos moçambicanos, eram incapazes de compreender que tais emigrantes ilegais não passavam de mercadores, e que não queriam emigrar de vez no seu país, mas apenas e tão somente, para irem comprar os bens que não haviam em Moçambique ou eram mais caros, para o seu consumo ou para revenda depois.
Vendo nesta perspectiva o problema, fica agora claro que tais moçambicanos eram pessoas que entravam ilegalmente sim, mas não para ficar por muito tempo e muito menos para fixar residência na Africa do Sul, mas apenas para fazer compras e regressar logo depois ao seu país de origem. Numa palavra, tais moçambicanos eram na verdade mercadores ou mukheristas como aqui são conhecidos, e que até contribuíam com os randes que lá gastavam no desenvolvimento dos negócios dos próprios sul-africanos.
Portanto, estes milhares de moçambicanos são, grosso modo, pessoas que devem ou deviam ser bem-vindas, e nunca hostilizadas ou encaradas como uma ameaça, dado que ajudam no crescimento e consolidação da economia sul-africana. O que prova agora que tais emigrantes não eram para se temer, é que agora que os dois países aboliram os vistos passam já cinco anos, não se registou nenhuma invasão da África do Sul, como temiam os que eram contra esse acordo.
Um dos aspectos que os míopes da livre circulação de bens e pessoas não conseguem ver correctamente e muito menos compreender, é que, regra geral, todo o homem que nasce e cresce num determinado lugar de um certo país, fica eternamente amarrado ou em paixão com esse lugar ou país, e que, mesmo que se tenha de mudar para outro, por qualquer das razões, incluindo a económica, ele o fará mas tendo quase sempre em mente a perspectiva de um dia lá voltar com o que terá conseguido acumular ou amealhar.
Este é o caso das dezenas de milhares de moçambicanos que diariamente entram na Africa do Sul e noutros países da região, como a Swazilândia. Eles não estão nunca à busca de uma nova Pátria, mas sim, de novas oportunidades de ganhar o seu pão de cada dia. Logo que o tenham, ou melhor, logo que criem condições que os permita ganhar esse pão na sua terra natal ou Patriamãe, eles voltam para onde os esperam as suas famílias e amigos que foram fazendo ao longo de anos.
Um dos exemplos mais irrefutáveis de que o que aqui digo é verdade, são as centenas de milhares de mineiros moçambicanos que, ao longo de séculos, foram trabalhando e ainda trabalham nas minas do Rand. Na sua maioria, de lá voltaram sempre para o seu país, porque nunca se podiam desfazer das saudades dos seus avós, pais, irmãos, esposas e filhos que foram deixando atrás, enquanto se fixa (va) m na terra do Rand em busca do sempre escasso male em changana ou dinheiro em português.
Na verdade, tanto esses mineiros como os que lá vão por conta e risco próprio, quase todos eles têm mais razões para voltar ao seu país do que ficar por lá de vez, porque há coisas que mesmo que se tenha todo o dinheiro do mundo, não se pode comprar. Este é o caso dos pais, irmãos, esposas, filhos e amigos que ficam atrás quando a gente parte para outros países.
Quando lá chegamos, sentimo-nos leves e sem toda a alma que precisamos para nos sentirmos espiritualmente bem. Tudo isto acaba sendo uma espécie de amarras que nós mantém sempre presos à terra que nos viu nascer e crescer, e que nos impele sempre a voltar ao seu país de origem. Essa amarra se resume na palavra saudades.
Na verdade, a experiência mostrou e há-de mostrar sempre, que não tem sido fácil aos homens mudar a sua Pátria por outra, mesmo que naquela em que deviam ir viver tenha mais leite e mel. Para quem nunca esteve fora da sua Pátria, pode não entender isto, mas é duro estar longe dos que sempre estiveram consigo desde a primeira hora da vida.
Isto tudo devia ajudar os líderes da região que ainda são cépticos em abolir os vistos, a verem a sua abolição como algo bom, porque é benéfica para o desenvolvimento dos seus países. Digo isto porque com a abolição dos vistos entre Moçambique e Africa do Sul, os dois países passaram a ter mais cidadãos seus a visitar cada um dos dois respectivos países, o que resulta em mais benefícios económicos para ambos.
Ganham mais agora com que esses seus cidadãos despendem pelas compras que fazem em cada um dos respectivos países, do que o que ganhavam pela veda dos vistos que cobravam. Por exemplo, hoje há milhares de moçambicanos que fazem compras na Africa do Sul do que quando tinham de pedir visto, do mesmo modo que há muito mais turistas sul-africanos a visitar as instancias turísticas moçambicanas, do que os que vinham no tempo em que tinham de pedir visto, e quem nem sempre era lhes dado. Assim dito, vale a pena gritar Viva a Integração e abaixo os anti-integração.