O vice-presidente da Agência Japonesa para a Cooperação Internacional (JICA), Kenzo Oshima, acredita que a parceria mútua na Agricultura entre o seu pais e o Brasil em Moçambique poderá contribuir para a redução da pobreza em Africa.
O Brasil e o Japão acordaram em levar a cabo um projecto que visa transformar as savanas áridas moçambicanas em machambas de culturas alimentares, uma medida destinada a apoiar o país (Moçambique) na garantia da segurança alimentar. “Este é um programa que vai durar 10 anos e outros 20 anos a produzir resultados”, disse Oshima, falando em Tokyo, durante uma entrevista conduzida pelo jornal “The Japan Times”. “Esperamos que venham a sair os melhores resultados deste novo modelo de cooperação”, acrescentou Oshima que em tempos foi embaixador nipónico nas Nações Unidas.
A iniciativa de assegurar assistência agrícola a Moçambique foi acordado durante as negociações bilaterais entre o Primeiro-Ministro nipónico, Taro Aso, e o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em conversa mantida durante a reunião do G8, realizada em Julho passado em Aquila, Itália. Em Setembro próximo, representantes do Brasil e Japão irão manter encontros em Moçambique para iniciarem as negociações detalhadas visando a materialização desta iniciativa, a primeira a ser desenvolvida em Africa pelos dois países.
Falando durante um encontro sobre a assistência japonesa no estrangeiro, o Primeiro-Ministro nipónico descreveu esta iniciativa como “uma das pedras angulares da assistência japonesa à Agricultura em Africa”. Por seu turno, a JICA considera o programa como uma resposta a actual carência mundial de alimentos. “Existem várias razões que provocaram a crise mundial de alimentos, incluindo as mudanças climáticas, secas e mesmo a especulação financeira”, disse Oshima, na sua entrevista ao “The Japan Times”.
“Entrentanto”, acrescentou, “com a crescente procura de alimentos pelas economias emergentes, esta crise não poderá ser considerada transitória, mas sim como aquela que precisa de tomada de uma medida preventiva fundamental”. A fonte explicou que a cooperação com o Brasil (nesta iniciativa) e a escolha de Moçambique para esta missão trará ganhos para todas as partes. A JICA, instituição com bases já de longo data em Moçambique, forneceu dados sobre as potencialidades da Agricultura neste país, que possui cerca de 36 milhões de hectares de terra arável, dos quais apenas menos de 10 por cento estão sendo explorados. Os seus solos têm potencialidades para produzir diversas culturas, incluindo as alimentares como o arroz, soja, trigo, milho, entre outras, além de outras tantas de rendimento.
O Japão diz pretender providenciar assistência financeira, bem como técnica a Moçambique. A perícia niponica resulta das experiências colhidas pelo Japão nos avanços da Agricultura nos países em desenvolvimento. O Brasil entra nesta cooperação com a contribuição do seu conhecimento em transformar savanas áridas em machambas.
A intervenção do Brasil estará baseada no seu sucesso na transformação da região cerrada do Centro do país, uma vasta savana tropical, num vasto centro global de produção de alimentos. Além desse sucesso na transformação da savana tropical num cinturão de produção de cereais, este país latino-americano é considerado maior produtor mundial de soja. Os técnicos deste país são conhecidos por possuir conhecimento de liderança mundial em agricultura tropical.
O talento e perícia do Brasil nesta matéria foram reconhecidos através do “Prémio Mundial da Alimentação 2006”, distinção referida como sendo “Prémio Nobel’ de realizações agrícolas. A empresa estatal brasileira de pesquisa em Agricultura, EMBRAPA, foi responsável pelo desenvolvimento da variedade da semente da soja adaptável para os solos ácidos da regiã, que se acredita ser também viável para os solos moçambicanos.
Oshima lembrou que o seu país também desempenhou um papel de relevo na transformação das vastas savanas brasileiras depois dos dois estados terem acordado, em 1979, em colaborar na pesquisa agrícola. Desta vez, os esforços conjuntos dos dois países destinam-se a transplantar o conhecimento ganho para Moçambique, primeiro para alimentar os moçambicanos e depois para fornecer alimentos para o resto do continente.
Por outras palavras, o acordo visa essencialmente transformar Moçambique num país exportador de alimentos dentro de décadas.