No mundo cerca de 1,5 biliões de pessoas trabalham em sectores relacionados com a água, 49 moçambicanos garantem todos os dias a captação e o tratamento de 220 mil metros cúbicos do chamado precioso líquido que é distribuído a 1,4 milhões de munícipes de Maputo, Matola e Boane. “A gestão que a barragem (Pequenos Libombos) está a fazer é para aguentar até ao início da próxima época chuvosa, aguenta até Novembro” esclarece ao @Verdade Cláudia Ronda, a jovem directora de produção da Estação de Tratamento Águas do Umbeluzi, referindo-se a situação de seca que afecta o Sul de Moçambique, que aponta o custo dos produtos químicos como outro dos principais desafios.
Quando os munícipes de Maputo, Matola e Boane abrem a torneira todos os dias não fazem ideia que a água, que muitas vezes desperdiçam, é proveniente da Swazilândia, onde nasce o rio Umbeluzi com o nome de Mbuluzi, e é captada e transformada em água potável a cerca de 30 quilómetros do centro da capital moçambicana na Estação de Tratamento de Águas (ETA). Uma infra-estrutura construída em 1900 com um sistema de bombagem de água bruta e que ao longo dos anos sofreu vários processos evolutivos até atingir o estágio actual em que possui três linhas de produção e transporte para os diversos centros distribuidores localizados nos municípios.
“A construção da barragem (dos Pequenos Libombos em 1987) foi mesmo para o abastecimento de água, porque sem ela nós tínhamos muitos problemas a começar pela dinâmica do escoamento da água que chegava turva, e a barragem é em si um sistema de tratamento inicial porque a água decanta e vem mais ou menos limpa até aqui” detalha Cláudia Ronda durante um visita guiada que fez com o @Verdade.
Questionados pelo @Verdade sobre quão potável é a água produzida pela ETA Claudia Ronda não hesita em tranquilizar “pode beber à vontade”.
João Francisco, outro dos jovens moçambicanos que trabalham na ETA, diga-se são a maioria, explica pormenorizadamente como se processo toda a produção, “após a captação a água é transportada por condutas para uma unidade denominada câmara de mistura onde ela é misturada com produtos químicos, sulfato de alumínio e o cloro”.
“O cloro temos duas fases, primeiro é da pré-cloração, faz-se a injecção ao longo do percurso na conduta para a desintegração da matéria orgânica que está na própria água. Depois faz-se a agitação, onde o sulfato de alumínio tem a função de agregar as partículas desintegradas pelo cloro e sai a impureza da água. Depois segue-se um processo de decantação, as partículas formadas anteriormente agregam-se até formar uma partícula mais pesada que chamamos de flocos(uma espécie de lama) que descem enquanto a água (mais limpa) sobe lentamente” explana Francisco que é responsável pela área de produção do precioso líquido.
49 moçambicanos asseguram produção de água 24 horas por dia
“Em seguida a água recolhida é filtrada, composto por uma camada de areia de cerca de um metro, e são retidas as partículas que tenham escapado do processo anterior. O cloro serve também para desinfecção, toda contaminação biológica é resolvida pelo cloro. Na nova ETA (inaugurada em 2011) o processo é todo automatizado mas nas duas mais antigas é semi-automático e há necessidade de intervenção dos técnicos. Esta tem capacidade de 4200 metros cúbicos por hora e as outras duas produzem 3 mil metros cúbicos por hora” acrescenta João Francisco esclarecendo que “os três sistemas de captação e tratamento da água foram construídos em função da demanda à jusante por isso não pode parar nem uma nem outra pois aí não estaremos a produzir” para a necessidade dos clientes das Águas da Região de Maputo.
Para o controlo da qualidade da água existem “dois laboratórios que testam a qualidade da água produzida todos os dias. O Ministério da Saúde também faz controles da água regularmente” refere Francisco.
De acordo com a directora de produção trabalham 49 moçambicanos na Estação de Tratamento de Águas, na sua maioria jovens e três do sexo feminino, “algumas em turnos para garantir que a ETA funcione 24 horas, sempre está alguém a trabalhar. Se nós pararmos não conseguimos atingir os 220 mil metros cúbicos” que são gastos em 12 horas pelos munícipes de Maputo, Matola e de Boane.
Custo dos químicos quase duplicou devido a depreciação do metical
Uma vez que sempre que há cortes da energia fornecida pela Electricidade de Moçambique a ETA tem que parar o @Verdade perguntou porque que razão não são instalados geradores de energia. “Os custo de produção via gerador iriam ser reflectidos naquilo que é a tarifa do consumidor, porque teríamos um gasto excessivo para pôr os geradores a funcionarem que depois da operação e facturação não seria rentabilizado. Segundo a capacidade do gerador que tínhamos que colocar aqui teria que ser muito potente. A EDM acabou for fazer uma linha dedicada até nós, sai da subestação directo para a aqui” aclara Cláudia.
João adiciona que a opção de instalação de painéis de energia solar foi estudada mas “não temos espaço suficiente para instalar painéis solares aqui que consigam alimentar a Estação de Tratamento, é preciso um campo”.
A crise económica e financeira também está a afectar a Estação de Tratamento de Águas, centenas de milhares de quilos de sulfato de alumínio, cloro gasoso e HTH são usados mensalmente no processo de produção. São produtos químicos que são importados e o seu custo quase duplicou desde o início do ano devido a depreciação do metical.
Outros constrangimentos que de afectam a ETA são a lavagem de viaturas no rio Umbeluzi (junto a ponte de Boane), a extração de areia nas margens do rio a montante, a proliferação de residências na margens do rio Umbeluzi e cujos proprietários constroem latrinas, a intensificação da agricultura ao longo da bacia do Umbeluzi, a falta de barragens ou ou diques no rio Movene, um afluente, que durante a época chuvosa arrasta detritos provocando subida de turvação e ainda a ponte baixa de acesso às instalações da ETA na época chuvosa.
Entretanto, apesar do alargamento da capacidade de produção de água em 2011, altura em que entrou em funcionamento o terceiro sistema de produção da ETA, os 220 mil metros cúbicos de água potável produzidos diariamente não suprem as necessidades de todos os 2,2 milhões de munícipes de Maputo, Matola e Boane, só é distribuída para 1,4 milhões de consumidores.