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Machado da Graça, calou-se para sempre um homem incómodo do jornalismo moçambicano

Machado da Graça

Facebook de Machado da GraçaCalou-se eternamente, aos 70 anos de idade, na tarde de terça-feira (19), no Instituto do Coração, em Maputo, o jornalista João Ferraz Miguel Machado da Graça, ao ceder ao tormento de uma doença prolongada, tardiamente diagnosticada.

Já não há mais “A TALHE DE FOICE”, coluna de opinião que o malogrado assinava no semanário SAVANA, todas as sextas-feiras. Nascido em Abril de 1946, ele era também colunista do diário português, Correio da Manhã, às terças-feiras.

Como que adivinhar que a morte o molestava e acusava insuficiência de forças para continuar a lutar pela vida, o último texto que Machado da Graça publicou no seu habitual espaço, naquele hebdomadário, intitula-se “Paraísos”. Todavia, ele não se referia o propalado “jardim das delícias”, mas, sim, ao escândalo atinente aos “Papéis do Panamá”.

Machado – que de Graça não tinha nada – para além de homem que falava sem rodeios nem contemplações, era um profissional vertical e de convicções acutilantes.

Como jornalista, Machado da Graça foi um valente combatente pela liberdade de expressão, por isso, posicionava-se contra as amarras políticas a que estão sujeitos os órgão de comunicação social públicos. A própria Rádio Moçambique (RM), órgão no qual trabalhou até à reforma na década de 90, não escapava das suas críticas.

Em Fevereiro deste ano, o jornalista Abdul Naguibo disse, ao discursar após a sua nomeação para o cargo de director de Informação da RM, que “no?s temos de ser aqueles que mobilizam as pessoas a compreenderem melhor aquilo que sa?o os objectivos do Governo”.

Machado da Graça sentiu-se escandalizado com tais declarações e considerou-as “uma trágica confusão entre o que é o jornalismo e a propaganda”. As palavras daquele funcionário da emissora pública assentavam como uma luva numa “agência de promoção de imagem, na?o a um o?rga?o de informac?a?o (…). Sa?o pessoas que na?o percebem que os órgãos de informac?a?o públicos na?o esta?o ao servic?o do Governo do dia, mas, sim, do país no seu todo. Cabe-lhes informar sobre a realidade dos acontecimentos quer eles agradem ao Governo, quer na?o (…)”.

O malogrado foi sub-chefe da seccão internacional no Notícias, em 1976, mas antes tinha sido oficial do Exército Português, tendo participado no “25 de Abril” em Lisboa. Ele fez parte do grupo de mais de duas dezenas de jornalistas que abandonaram o Notícias, depois de Setembro de 1976, conhecido como “Setembro Negro”, momento que marcou a intervenção mais acentuada da Frelimo no jornal.

Ainda no Notícias, o nosso eterno colega ajudou a editar os suplementos “Kurika” (banda desenhada) e “Njinguiritane” (suplemento infantil). Colaborou com o semanário Domingo, quando Ricardo Rangel esteve à frente do mesmo, fundou e dinamizou a associação “Casa Velha”, dinamizou o centro cultural comunitário do Hulene, com o apoio de Jorge Rebelo.

Machado foi colaborador do Instituto Nacional do Cinema (INC) e director do Instituto Nacional do Livro e Disco (INLD). No jornalismo radiofónico foi responsável pelos programas “Apartheid Crime contra a Humanidade”, “Tribuna Austral”, reanimou o teatro e organizou o folhetim “sandokhan, o tigre da Malásia”.

Machado, que parte sem ter visto o seu “corte” afastar o país dos males que apoquentam o povo, deixa uma filha e um neto, a quem o @Verdade endereça os mais profundos pêsames – extensivos a toda a família – neste momento de dor e consternação.

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