As potências emergentes (G5) e as industrializadas (G8) prometeram esta quinta-feira evitar medidas protecionistas, segundo o rascunho da declaração final que será emitida ao final da cúpula realizada na Itália, marcada pela exigência de que os países ricos assumam sua responsabilidade na crise econômica surgida por seu intermédio e também no aquecimento global provocado por suas indústrias.
“Estamos decididos a colocar rapidamente em prática as decisões da cúpula de Washington (em novembro de 2008) e de Londres (em abril de 2008), e em especial as que visam a reformar as instituições financeiras internacionais e a colocar à disposição destas os recursos necessários”, afirma o rascunho, cuja cópia foi obtida pela AFP.
Os emergentes reclamam mais poder de decisão no Fundo Monetário Internacional (FMI), que está ajudando os países mais atingidos pela crise. “Temos que adotar medidas concretas agora para mudar a composição acionária do FMI”, afirmou o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia. A China, por sua vez, defende um sistema monetário “mais diversificado e razoável”, a fim de se depender menos do dólar.
As posturas do G5 refletem uma nova relação de forças, num momento em que todos os países do G8 estão mergulhados na recessão e questionados por ter levado o mundo ao abismo financeiro com políticas neoliberais que proconizavam nos anos 90. Mas o G5 não quer romper com os aspectos que consideram mais beneficiosos da globalização, como a abertura comercial que lhes permitiu estruturar dinâmicos setores exportadores, atingidos agora pela redução da demanda nos países ricos e temerosos de que estes queiram se recuperar adotando medidas protecionistas.
Por isso, no projeto da declaração final, as potências industrializadas e emergentes “se comprometem buscar uma conclusão ambiciosa e equilibrada para a Rodada de Doha em 2010, coerente com sua missão e a partir dos avanços já obtidos”. Os dois núcleos de paísees se dizem, além disso, “decididos a prosseguir com as reformas em termos de regulação e controle do sistema financeiro”.
Na sua intervenção, o presidente Lula deve denunciar “a ditadura das agências de classificação de risco” e propor que estas sejam substituídas por “entidades que não sejam privadas”, indicou Marco Aurélio Garcia. Os líderes do G5 e do G8 se reúnem na tarde desta quinta com outros três países, Austrália, Indonésia e Coreia do Sul, dentro do Foro das Maiores Economias (FME) que discutirá as questões da mudança climática.
Segundo fontes diplomáticas brasileiras e europeias, as maiores economias do mundo, responsáveis por 80% das emissões de gases de efeito estufa, aceitaram limitar a 2°C o aumento da temperatura do planeta. A ideia vai figurar no documento final e representa um grande avanço, segundo declarou à imprensa o diplomata Luiz Alberto Figereido Machado, chefe dos negociadores para questões de meio ambiente do Brasil.
“O FME aceitou a ideia dos 2°C”, indicou, por sua vez, um diplomata europeu que não quis ser identificado. No rascunho da declaração final, ao qual a AFP teve acesso, o FME “reconhece que o aumento médio da temperatura mundial não deve exceder os 2°C em relação aos níveis pré-industriais”, que correspondem à temperatura do final do século XVIII. Com a introdução deste princípio, serão respeitadas as recomendações científicas baseadas em uma avaliação de que a temperatura do planeta já aumentou quase um grau desde então.
O Fórum compromete-se a “identificar um objetivo comum de redução das emissões de gases de efeito estufa antes de 2050”, afirma o documento, sem precisar a porcentagem. Por insistência da China, os países do FME desistiram de se comprometer a reduzir pela metade suas emissões de gases de efeito estufa até 2050.
Na véspera, os líderes do G8 aprovaram o limite de 2°C e se comprometeram a reduzir pela metade antes de 2050 a emissão mundial de gases de efeito estufa e elevaram para 80% a redução de suas próprias emissões. Figueiredo acha que esta proposta não tem credibilidade se o G8 não adotar metas intermediárias até 2020.
“Nós podemos aceitar o objetivo de 2050 dentro de um quadro de metas robustas a médio prazo”, afirmou o chefe dos negociadores. “Mas não podemos lidar apenas com o longo prazo, porque se perde credibilidade. Tem que existir metas de redução fortes e profundas até 2020”, completou.