O escritor russo Vassili Axionov, morto nesta segunda-feira aos 76 anos, era o autor de um retrato ácido da União Soviética e do stalinismo pelo qual foi condenado a 20 anos de exílio antes de conseguir um reconhecimento tardio em seu país.
Em 1960, aos 28 anos, este inconformista que se apresentava como um “dissidente literário” irrompeu no cenário literário soviético com a publicação de seu primeiro romance, “Colleagues”. Em 1980, forçado ao exílio após a descoberta pelo KGB do manuscrito de seu livro “The Burn”, ele viajou aos Estados Unidos com sua mulher. A sua cidadania soviética lhe foi retirada, e ele só a recuperou dez anos depois. Seus livros, hoje entre as melhores vendas das livrarias moscovitas, só foram autorizados no fim dos anos 80, no momento da Perestroika.
Durante suas duas décadas de exílio, Axionov ensinou literatura russa na universidade e continuou a pintar um retrato ácido da União Soviética em “Uma Saga Moscovita”, até hoje seu livro mais famoso no exterior, que descreve as peripécias de uma família da capital russa na época de Joseph Stalin.
De volta ao seu país após a queda do regime soviético, no início dos anos 90, Axionov ganhou em 2004 o Booker, o principal prêmio literário da Rússia, com “A la Voltaire”, uma obra histórica extravagante que relatava o encontro do filósofo francês Voltaire com a czarina Catherine II. No mesmo ano, a adaptação televisiva de “Uma Saga Moscovita” foi divulgada no primeiro canal público da Rússia e fez imediatamente um estrondoso sucesso, reunindo a cada noite milhões de telespectadores.
Entretanto, o sucesso da série não agradou ao escritor, que lamentou que este romance “cruel” sobre a feroz repressão na época de Stalin tenha sido transformado na televisão em uma história em que “todo mundo virou bonzinho, até os guardas de prisão”. O regime soviético marcou duramente o jovem Axionov. Sua mãe, a também escritora Evguenia Guinzburg, foi deportada quando ele tinha apenas 14 anos. Ele só se reencontrou com sua mãe dois anos depois, em Magadan, a capital dos gulags da Kolyma, no extremo leste da Rússia, onde ela foi obrigada a viver por vários anos após sua libertação.
“Por incrível que pareça, apesar do horror, tínhamos uma vida muito interessante. Para mim, a descoberta da Kolyma foi mais importante que o descobrimento da América”, contou Axionov à AFP em 2004, revelando que conheceu nos dois anos que passou em Magadan uma forte comunidade de intelectuais russos, mas também poloneses e alemães.
Axionov lamentou a ausência de um verdadeiro processo de “perestroika”, transparência, da Rússia, e afirmou que os dirigentes russos de hoje são iguais os líderes soviéticos de ontem. “As consequências de 75 anos de regime totalitário são fortes demais, e os russos não podem entender nem o que está acontecendo atualmente, nem seu passado. Vassili Axionov passava a maior parte de seu tempo em Moscou, mas também tinha uma casa em Biarritz, no sudeste da França.