Centenas de civis foram mortos desde o final de Agosto em confrontos na Líbia, afirmou a Organização das Nações Unidas (ONU), esta terça-feira, alertando comandantes de grupos armados de que eles podem enfrentar medidas legais por possíveis crimes de guerra, incluindo execuções e tortura.
O país norte-africano passa por distúrbios com conflitos em diversas frentes enquanto as brigadas de ex-rebeldes que lutaram lado a lado para derrubar Muammar Khaddafi em 2011 agora disputam poder político e fatias das receitas de petróleo do país. O conflito tirou pelo menos 120 mil pessoas de suas casas e causou uma crise humanitária, disse um relatório conjunto do escritório de direitos humanos da ONU e da missão de apoio da ONU na Líbia (Unsmil), que também documenta os ataques às áreas civis.
O número inclui uma estimativa de 100 pessoas mortas e 500 feridas por conta dos conflitos entre grupos armados rivais em Warshefana, uma área próxima a Trípoli “considerada como um reduto de partidários de Khaddafi e de outros criminosos comuns” entre o final de Agosto e o início de Outubro. Outros 170 foram mortos e centenas ficaram feridos nas montanhas de Nafusa, no sudoeste, segundo o documento.
Cerca de 450 pessoas foram mortas em Bengazi desde que os conflitos escalaram em meados de Outubro. Hospitais foram bombardeados ou ocupados por grupos armados e uma ambulância do Crescente Vermelho foi utilizada para promover um ataque suicida num posto de controle, segundo o comunicado.
Desde Outubro, o Exército líbio e as forças leais ao ex-general Khalifa Haftar estão a disputar uma guerra para retomar a cidade costeira no leste do país, controlado por grupos islamitas. As informações foram reunidas durante uma missão da ONU a Trípoli com activistas, jornalistas e familiares de vítimas.
“O número de mortos foi compilado com registos de hospitais”, disse a porta-voz de direitos humanos da ONU Ravina Shamdasani em pronunciamento. Além de tudo, a Líbia tem desde Agosto dois governos paralelos, desde que o grupo Amanhecer da Líbia tomou Trípoli, forçando o governo internacionalmente reconhecido para fora da capital.
“Há uma séria ausência de lei e de ordem, não há como responsabilizar ninguém por nada, então essas violações continuam com impunidade, e não houve esforços para conter isso”, disse Shamdasani. “Alguns desses crimes podem ser considerados crimes de guerra”, afirmou a porta-voz.
Muitas das violações podem potencialmente cair sob a jurisdição da Corte Criminal Internacional, que investiga a situação na Líbia, dizia o relatório. Mas as chances de processar os violadores estão longe de prováveis. Em 12 anos de operação, apenas três condenações foram feitas.