A polícia moçambicana afirma estar a investigar um caso de tráfico de menores, envolvendo duas raparigas, que estavam sendo transportadas num veículo para a vizinha Africa do Sul, alegadamente para serem empregadas domésticas. Trata-se de uma rapariga de 14 anos de idade e outra de 25 anos, recrutadas na região Sul de Moçambique.
Segundo a chefe do Departamento de Atendimento à Mulher e Criança Vítimas de Violência Doméstica no Comando da Polícia moçambicana (PRM), Lurdes Mabunda, a jovem de 25 anos foi recrutada no posto administrativo de Palmeiras, distrito da Manhiça, na província de Maputo.
Durante o trajecto, o grupo passou por uma casa no bairro de Xipamanine, na capital moçambicana, onde foi encontrada a adolescente de 14 anos. “A pessoa que acompanhava as raparigas para África do Sul foi interceptada pela polícia no Cais, em Maputo, e, quando questionado o que fazia com as duas raparigas, disse que não as conhecia, África do Sul com o individuo em causa. Tivemos que interromper a viagem e o caso está em investigação”, contou Mabunda.
Um outro caso de tráfico registou-se em Inhambane, onde uma mulher transportava 10 crianças menores de 15 anos para Mabalane (província meridional de Gaza) para trabalharem, mas que foram encontradas em Maputo. Segundo Mabunda, o objectivo daquela mulher, cuja idade não foi revelada, era de levar os menores para a África do Sul. “Trata-se de tráfico em que pessoas adultas são envolvidas ou foram usadas pelos próprios filhos ou familiares que se encontram na África do Sul para recrutar menores, supostamente para irem trabalhar na África do Sul, mas que, ás vezes, o verdadeiro objectivo do recrutamento só se descobre no destino”, referenciou.
Segundo Mabunda, no ano passado houve registo de 26 vítimas em três casos de tráfico de pessoas. Ela chamou atenção para o facto de actualmente o tráfico de pessoas envolver idosos com mais de 50 anos, o que dá a ideia de que não se trata de tráfico de pessoas. “Em Moçambique é normal as pessoas facilmente aceitarem propostas de emprego sem saber se trata de pessoas idóneas. Muitas vezes nem sequer sabem para onde vão trabalhar e depois acabam por ser traficadas e usadas para outros fins. A polícia está a trabalhar na prevenção deste tipo de crime”, disse.
Em Moçambique, estima-se que cerca de mil pessoas que, anualmente, se deslocam a África do Sul a procura de emprego acabam entrando em actividades ilícitas, como prostituição e tráfico de drogas, fundamentalmente. Moçambique é um país vulnerável a este tipo de prática do crime organizado, por ser um corredor, situação agravada pelo facto de partilhar fronteiras com vários países, incluindo Africa do Sul, que é considerado potencial destino do tráfico.
Por outro lado, a vulnerabilidade de Moçambique resulta do facto de a emigração ser uma tradição no país, uma vez que as pessoas saem das suas zonas de origem, principalmente, para a Africa do Sul, a procura de melhores condições de vida. Normalmente a maior parte das vítimas de tráfico provém das províncias de Manica e Sofala, no Centro, e Inhambane, no Sul, que são aliciadas com propostas de trabalho para a África do Sul.
As autoridades policiais estão capacitadas para fazer a perícia e detecção de casos de tráfico de pessoas. Mabunda salientou que há problemas de recursos humanos e financeiros para a realização do trabalho, agravado pelo facto de que as fronteiras são extensas. “Apesar destas dificuldades a situação do tráfico de pessoas pode ser controlada. Não falamos de combate porque os casos de tráfico são complexos, mas podemos controlar e é isto que estamos a fazer” sublinhou.